Mais de 14.500 cidadãos da Arábia Saudita já assinaram uma petição que exige o fim do sistema de guarda das mulheres por parte dos homens. Trata-se da primeira campanha contra esta lei saudita, que impõe que todas as mulheres precisam da autorização de um homem (o pai, o marido, o irmão, ou até o filho) para poder viajar, sair da prisão, ou para casar, e ainda para trabalhar, estudar, ter acesso aos cuidados de saúde ou até mesmo para sair de casa no dia-a-dia.

A campanha está a ser promovida pela ativista Aziza Al-Yousef, que tem lutado pelos direitos das mulheres naquele país islâmico ao longo da última década. Ao jornal britânico The Guardian, Aziza explica que “este não é apenas um assunto relativo às mulheres”, afetando também “os homens normais”. A ativista sublinha à BBC que nunca teve dificuldades com a sua campanha, “mas o problema é que não há respostas”.

A campanha foi motivada pela divulgação de um relatório da Human Rights Watch, em julho deste ano, e tem sido partilhada sobretudo na internet, através da hashtag #IAmMyOwnGuardian (sou a minha própria guardiã). Uma das investigadoras responsáveis pelo relatório, que também participou na elaboração da petição, avançou ao The Guardian que cerca de 2.500 mulheres já enviaram telegramas diretamente para o gabinete do rei da Arábia Saudita.

Aziza Al-Yousef, a líder da campanha, partilhou no Twitter uma imagem “a caminho da Corte Real para um discurso”, acompanhada pela hashtag em árabe.

O governo saudita já esteve, por duas vezes, no caminho para acabar com este sistema. Uma vez em 2009 e outra em 2013. As medidas acabaram por ser limitadas e mantiveram os direitos das mulheres muito dependentes dos seus familiares masculinos. O governo facilitou o acesso ao emprego e permitiu às mulheres que pudessem votar e ser eleitas para eleições autárquicas. Na Visão 2030, um programa que o governo saudita tem para reduzir a dependência económica do petróleo, está contemplado o aumento do número de mulheres no mercado de trabalho. No entanto, os empregadores continuam a exigir, nas candidaturas, que as mulheres apresentem a permissão assinada pelo seu guardião legal.

“A ideia de guarda masculina não está necessariamente escrita no Corão. É, sim, baseada numa visão de juristas, que assume que há algumas ideias patriarcais relativamente a esta necessidade de guardar as mulheres”, explica Hamid M. Khan, um especialista da Universidade da Carolina do Sul, ouvido pelo The Guardian. De acordo com Aziza Al-Yousef, vários clérigos importantes do Islão assinaram a petição, declarando que “isto não é religião, são regras do governo e devem ser mudadas”, explica a ativista.

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