Mário Wilson, antigo jogador e treinador do Benfica, morreu esta segunda-feira. Tinha 86 anos. Venceu duas taças de Portugal ao serviço do Benfica (1979/80 e em 1995/96) e um campeonato nacional, na temporada de 1975/76, também como treinador.

[No twitter, o clube da Luz assinalou a morte do seu antigo jogador e treinador:]

Natural de Maputo, em Moçambique, Mário Wilson envergou, como jogador, as camisolas do Desportivo de Lourenço Marques, Sporting (clube que representou durante duas épocas e pelo qual venceu um campeonato nacional, em 1951) e Académica, onde arrumaria as botas, no final da década de 1962/63.

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Um ano mais tarde estreava-se, também em Coimbra, como treinador.

Nessa qualidade, haveria de orientar o Benfica em três ocasiões, em 1975/76, 1979/80 e 1995/95, tornando-se o primeiro treinador português a levar as Águias a conquistar o campeonato. É dele, aliás, a máxima que dita que “quem treina o Benfica, arrisca-se a ser campeão nacional”.

Mas passou também pelo Belenenses, Vitória de Guimarães e Boavista, entre outros, assim como pela seleção nacional de futebol, durante a qualificação para o Europeu de 1980, entre setembro de 1978 e março de 1980. Entre os adeptos da Luz, Wilson ficou conhecido como o “Velho Capitão”.

Nas redes sociais, uma intervenção “muito sentida” de Mário Wilson na gala dos 108 anos do Benfica — com Eusébio na plateia, a quem Wilson chama de “mestre” e aponta como seu “ídolo” — reúne já mais de 430 mil visualizações.

Mário Wilson não escondia ter dois amores: a Académica de Coimbra e outro, que vinha “quase desde o berço”, o Benfica.

[O clube de Coimbra também homenageou Wilson nas redes sociais:]

Apesar da ligação ao Benfica, durante a carreira como futebolista e treinador Mário Wilson representou mais de uma dezena de clubes. Começou a jogar futebol ainda no país natal, em 1929, com o emblema do Desportivo de Maputo ao peito. Em Portugal, onde chegou com 19 anos, passou por 11 equipas diferentes. Também chegou a orientar os marroquinos do FAR Rabat.

Começou como avançado, mas a maior parte da carreira como jogador foi cumprida no centro da defesa. Ainda assim, somou 15 golos, todos ao serviço da Académica, cinco dos quais na época de 1951/52, em que o clube se sagrou campeão.

Mário Wilson deu ainda nome a um espaço de formação desportiva, em Oeiras: a Escola de Futebol Mr. Wilson.

Ao falar sobre a passagem de Wilson pelo futebol nacional, João Alves, antigo jogador que chegou a ser treinado por Mário Wilson, recordava-o, em declarações à SIC, como uma “das pessoas que mais marcaram no aspeto desportivo e humano”.

Vieira: “Figura ímpar do futebol nacional”

O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira destacou a dimensão humana de Mário Wilson, “uma figura ímpar do Benfica e do futebol português” e “um exemplo”, que hoje morreu.

“Foi com o mais profundo pesar que tomei conhecimento do falecimento do nosso grande ‘capitão’ Mário Wilson. Uma figura ímpar do Benfica e do futebol português e uma enorme perda para toda a família benfiquista e para a lusofonia”, pode ler-se na nota assinada pelo presidente benfiquista, publicada na página oficial do clube.

Luís Filipe Vieira defendeu que “um ser humano com um coração tão grande” nunca deveria morrer. “Razão pelo qual permanecerá sempre na nossa memória como um caso raro de entrega e paixão ao fenómeno desportivo. Pela sua humildade e disponibilidade para o próximo será sempre um exemplo”, prosseguiu.

O presidente do Benfica endereçou ainda as mais sentidas condolências à família do antigo técnico encarnado.

[Shéu sobre Mário Wilson, à Benfica TV:]

Bruno de Carvalho: “Um cavalheiro”

O presidente do Sporting serviu-se do Facebook para publicar palavras de homenagem a Mário Wilson.
“Mário Wilson foi uma figura de referência do futebol nacional. Com uma longa carreira como treinador, alcançou o topo desempenhando o cargo de selecionador nacional. Era reconhecidamente um cavalheiro que, como atleta e treinador, passou por inúmeros clubes deixando sempre a sua marca. Foi o que aconteceu também no Sporting Clube de Portugal onde, nas épocas de 1949/50 e 1950/51 contribuiu para a conquista de um título de campeão nacional”, escreveu Bruno de Carvalho.

“À família de Mário Wilson manifesto o meu profundo pesar e as mais sentidas condolências”, conclui o líder ‘leonino’ no seu texto.

Fernando Gomes destaca “superior conduta ética e moral”

Em comunicado, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) prestou homenagem a Wilson, lembrando a sua postura como selecionador nacional.

Conquistou o respeito de todos os que com ele conviviam pela sua superior conduta ética e moral”, refere Fernando Gomes.

O presidente da FPF sublinha, ainda, a “pessoa de uma bonomia e trato ímpares” que reconhecia em Mário Wilson, um jogador, mais tarde treinador, “construiu uma carreira quase ímpar no futebol português”.

Hoje na qualidade de diretor da FPF, João Vieira Pinto foi orientado por Wilson no Benfica. Foi o “Velho Capitão” quem cunhou a expressão “menino de ouro” e a entregou a JVP. Esta segunda-feira, ao recordar o antigo treinador, o responsável da FPF recuperou algumas recordações de alguém com quem manteve uma relação “quase de pai para filho”.

“Do ‘mister’ Mário Wilson vou ficar com muitas e boas, porque foi uma pessoa que me marcou imenso. Ganhei uma Taça de Portugal com ele, fiz questão de festejar com ele, porque quando havia turbulência e quando ele aparecia as pessoas ficavam mais calmas. Era um grande homem, era um ótimo treinador e foi uma pessoa que me marcou imenso”.

Também o governo, através do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e do secretário da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, lembraram “uma das grandes referências do futebol nacional”.

É um nome que se confunde com as conquistas futebolísticas de outros tempos”, consideram os responsáveis políticos, que endereçam aos amantes do futebol e à família de Mário Wilson, “o moçambicano que Portugal acolheu com carinho e orgulho”, as mais sentidas condolências.

Associação Académica de Coimbra lembra um dos “melhores entre os melhores”

“A Académica e todos os desportistas estão hoje de luto por Mário Wilson. O nosso ‘velho capitão’ representava o melhor de entre os melhores”, disse o presidente da Associação Académica de Coimbra ao Sapo24.

Os mais de quinze anos de Mário Wilson no clube de Coimbra foram lembrados por Paulo Almeida. “Já era [uma figura] incontornável na história da Académica e do futebol português e para sempre ficará gravado nas nossas memórias“.

Nas memórias da passagem de Wilson pela Académica, Paulo Almeida destaca o trabalho do treinador para conseguir levar a equipa ao segundo lugar do campeonato — um resultado que nunca tinha alcançado e que nunca mais se repetiu. “Espero que a Académica consiga honrar a sua memória”.