“Vai-se andando”, “Antes assim que pior”, “Mais ou menos”. A verdade é que o povo português tem alguma dificuldade em responder à pergunta “Tudo bem?” com um sorridente “Estou bem, obrigado” e muito menos com um “Estou ótimo, e tu?”. E esta resistência parece, afinal, não ser gratuita. O mais recente estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) vem mostrar que os portugueses são os mais insatisfeitos com a vida, no conjunto dos 35 países da organização.
De zero a 10, os portugueses dão um 5,1 na maneira como avaliam a sua satisfação para com a vida que levam. Uma nota que é puxada para baixo, sobretudo, pelas respostas das pessoas com mais de 50 anos (dão uma nota de 4.5).
E olhando mais em detalhe para o indicador, outra conclusão que se retira é que os rapazes andam naturalmente mais satisfeitos (83%) com a vida que têm do que as raparigas (74%). Uma tendência generalizada na OCDE. Na média dos países, os rapazes mostram-se mais satisfeitos com a vida (87%) do que as raparigas (78%).
Embora os jovens se mostrem mais satisfeitos que os mais velhos, não estão particularmente eufóricos. E a contribuir para isso estará, provavelmente, a crise económica pela qual a Europa, e particularmente Portugal, atravessou nos últimos anos e que fez com que, por exemplo, a proporção de jovens que não trabalham, nem estudam, nem estão a fazer nenhuma formação tenha passado de 14%, em 2008, para 19% em 2013, tendo baixado entretanto para 15% em 2015. Os “custos” desta franja da população rondam os 1% do PIB, segundo o relatório Society at a Glance 2016, divulgado esta quarta-feira.
O mesmo relatório sublinha ainda o desafio que Portugal enfrenta no que toca ao abandono escolar precoce. Segundo os autores, em 2014, mais de dois terços (35%) dos portugueses entre os 25 e os 34 anos não tinham o 12.º ano completo. Com pior desempenho que Portugal, na OCDE, só mesmo o México e a Turquia.
Portugueses são dos que menos casam na OCDE
Continuando a analisar os comportamentos sociais, em 2014, apenas 3,1 portugueses em cada 1.000 casaram –– em comparação com os 7,2 em cada 1.000, em 1990 –, abaixo da média da OCDE, que se fixava nos 4,6 por cada 1.000. Taxa mais baixa do que a portuguesa só mesmo a eslovena (3 por cada 1.000).
E a idade para casar foi aumentando também ao longo dos anos. Em 1990, as mulheres casavam-se, em média, aos 24,6 anos e os homens portugueses casavam-se, em média, aos 26,6 anos. Em 2014, a idade de matrimónio rondava os 29,4 e os 31,1, respetivamente, bem abaixo da média da OCDE, onde as mulheres se casam aos 31 e os homens aos 34 anos. As médias de idade mais altas no primeiro matrimónio registam-se nos países nórdicos.
Estarem a casar menos e mais tarde ajuda a que Portugal seja o 5.º país da OCDE em que mais jovens até aos 29 anos vivam ainda com os pais (75%).
Casam-se pouco e mais tarde e têm também menos filhos. Não que uma coisa tenha necessariamente que estar ligada à outra, mas, neste caso, até bate certo. Em Portugal, a taxa de fertilidade fixava-se, e 2014, nas 1,23 crianças por mulher com idade entre os 15 e os 49 anos, a segunda taxa mais baixa da OCDE (1,68) depois da Coreia. A média da OCDE está nas 1,7 crianças por mulher.
A crescente escolarização e empregabilidade das mulheres, a procura por uma maior segurança no trabalho e melhores rendimentos, e o insuficiente suporte familiar para cuidar das crianças são fatores que explicam esta redução da taxa de fertilidade nos últimos anos, segundo a OCDE.
Portugal gasta mais com a proteção social do que a média dos países da OCDE
Outro dos pontos destacadas pela OCDE tem a ver com os gastos com a proteção social que, em Portugal, correspondem a 25% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo que, desses, 14% são direcionados para as pensões de velhice. A média de todos os países da OCDE ronda os 21% (8% para pensões de velhice). Portanto, neste indicador, Portugal pontua melhor que a média.
Continuando ainda nos gastos, Portugal apresenta a terceira maior queda nas despesas com educação desde 2010 e a segunda maior queda na taxa de crescimento das despesas com saúde entre 2009 e 2013.