Quase 15% dos jovens da OCDE, cerca de 40 milhões, não trabalham, não estudam e não estão em formação, sendo que mais de dois terços não estão ativamente à procura de emprego, conclui um estudo hoje divulgado.

Na sua oitava edição, o relatório ‘Society at a Glance’ traça o panorama e a tendência dos indicadores sociais nos 35 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), assim como na Argentina, Brasil, China, Índia, Indonésia, Rússia, Arábia Saudita e África do Sul.

A conclusão é que “a Grande Recessão provocou uma perda esmagadora de empregos, e os jovens foram particularmente atingidos”, sendo que a recuperação tem sido incapaz de devolver empregos aos jovens de entre 15 e 29 anos, em particular os menos qualificados.

“Oito anos após o início da crise, ainda há cerca de 40 milhões de jovens sem trabalhar, sem estudar e sem estar em formação”, pode ler-se no prefácio do relatório, que alerta que esta inatividade dos jovens pode gerar isolamento e afastamento da sociedade e pôr em risco a coesão social.

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Segundo o estudo, quase um em cada dez empregos que até 2007 eram ocupados por jovens com menos de 30 anos perderam-se até 2014, sendo que nos países mais afetados pela crise – Espanha, Grécia e Irlanda – o número de jovens empregados diminuiu para metade no mesmo período.

Em média, 14,6% dos jovens nos países da OCDE não trabalhavam, não estudavam e não estavam em formação (NEET, na sigla em inglês) em 2015, percentagem que, tendo em conta o peso dos jovens nos vários países, subia para 17%.

A percentagem de jovens NEET nos países mais afetados pela recessão era particularmente alta: entre um quarto e um quinto de todos os jovens estavam sem trabalhar e sem estudar na Grécia, Itália e Espanha.

Em Portugal, onde a taxa de NEET chegou a atingir os 19% entre 2008 e 2013, a situação melhorou nos últimos anos e em 2015 estava nos 15%, ainda assim acima da média anterior à crise (14%).

O rendimento bruto total que poderia ter sido gerado pelos NEET é estimado pela OCDE em 360 a 605 mil milhões de dólares, ou 0,9 a 1,5% do Produto Interno Bruto de todos os países da OCDE juntos.

Mais de dois terços de todos os jovens NEET, o equivalente a 28 milhões, são inativos, ou seja, nem sequer estão a tentar ativamente encontrar ocupação.

O estudo conclui que os NEET inativos não procuram trabalho por motivos diversos, como obrigações de assistência, problemas de saúde, dependências, assim como por não acreditarem no sucesso da procura de emprego.

Em alguns países, como a Turquia, o México ou o Chile, a baixa participação feminina no mercado de trabalho leva a altas taxas de jovens NEET inativos.

O estudo conclui também que os jovens com níveis de escolaridade inferiores ao ensino secundário representam mais de 30% dos NEET e têm três vezes maior probabilidade de não trabalhar e não estudar do que os jovens com uma licenciatura.

Outro fator que influencia a probabilidade de ser NEET, particularmente numa base de longo prazo, é o género: as raparigas têm 1,4 maior probabilidade de estarem sem emprego e sem estudarem do que os rapazes, o que se deve à necessidade de cuidarem dos filhos, pelo que a OCDE sublinha a importância de disponibilizar creches económicas.

Os jovens que já são desfavorecidos em outros aspetos, os que nasceram no estrangeiro e os que têm pais com baixos níveis de escolaridade também têm maior risco de serem NEET.

Embora mais de metade dos jovens numa seleção de países nunca tenham ficado sem trabalhar e sem estudar, cerca de um quinto estão nessa situação por mais de um ano.

A OCDE sublinha que os jovens NEET têm baixos níveis de satisfação com a vida e menos confiança no outro do que os jovens que estão empregados ou a estudar, além de manifestarem menos interesse na política.