O Banco de Portugal cortou esta sexta-feira a sua previsão para o crescimento económico este ano, esperando agora que a economia portuguesa cresça apenas 1,1%, passando a ter uma das previsões mais pessimistas, mas acredita que Portugal pode conseguir cumprir a meta do défice acordada com a União Europeia. Economia portuguesa pode voltar a divergir face à zona euro.
Mais más notícias para este ano. Quando o Governo apresentou a sua previsão de crescimento para a economia portuguesa em fevereiro deste ano, na proposta de Orçamento para 2016, foram muitos os que duvidaram que se viesse a concretizar. Mesmo os cenários mais pessimistas estão a ficar ainda mais pessimistas.
Hoje foi a vez do Banco de Portugal cortar a sua previsão de crescimento para a economia portuguesa. A instituição liderada por Carlos Costa previa em junho deste ano que a economia crescesse 1,3%, já de si uma previsão das menos otimistas. No Boletim Económico de outubro, publicado esta sexta-feira, o banco central diz que não espera que a economia cresça mais que 1,1%.
Pior que o Banco de Portugal, só o FMI e o Conselho das Finanças Públicas (ambas as previsões são de setembro), que esperam um crescimento de 1%.
Segundo o Banco de Portugal, o maior pessimismo deve-se, antes de mais, à incorporação de novas previsões para a economia mundial, dadas a conhecer pelo Banco Central Europeu em setembro. A conjuntura externa é menos favorável para a economia portuguesa, com a previsão para o comércio mundial a ser revista em baixa em mais de um ponto percentual.
A confirmarem-se estes números, Portugal vai voltar a divergir face à zona euro. “Depois de dois anos em que o crescimento do PIB foi semelhante à média da área do euro, projeta-se uma divergência real da economia portuguesa em 2016”, diz o banco central.
Ainda assim, não é pelo lado das exportações que a economia portuguesa vai crescer menos, já que a previsão para as exportações até é melhorada para quase o dobro do previsto em junho.
O mesmo não se pode dizer do investimento, um dos indicadores que o ministro das Finanças considerou como fundamentais para atingir os objetivos de crescimento traçados pelo Governo. A variação, face ao que era previsto é de quase dois pontos percentuais. Em junho, o Banco de Portugal esperava que o crescimento crescesse 0,1%, mas agora espera uma queda de 1,8% face a 2015.
Também o consumo privado deve crescer menos que o esperado em junho, mas apenas menos três décimas. O consumo público deve ficar apenas uma décima abaixo do esperado, a confirmarem-se as estimativas do banco central.
Défice de 2,5% é possível, mas há riscos
O Banco central faz ainda uma referência à meta do défice para este ano, sobre a qual não faz qualquer referência, para dizer que, olhando para os dados que são conhecidos para a primeira metade do ano, apontam para que a meta de 2,5% acordada com a União Europeia, mas há riscos (isto sem contar com o efeito positivo que possa chegar através do perdão fiscal anunciado esta quinta-feira pelo Governo).
“A evidência disponível para o primeiro semestre parece sugerir que o objetivo para o défice estabelecido pelo Conselho da União Europeia para o conjunto de 2016 pode ser atingido, devendo sublinhar-se, contudo, que a execução orçamental no segundo semestre continua a ser muito exigente e sujeita a fatores de risco não negligenciáveis”, diz o banco central.
A instituição liderada por Carlos Costa deixa ainda um outro alerta: olhe-se para a dívida pública. “O nível de dívida pública em percentagem do PIB permanece muito elevado e numa trajetória ainda não claramente descendente, o que reforça a importância de cumprir os compromissos assumidos no âmbito das regras orçamentais europeias”, pode ler-se no documento, depois já de relembrar que será necessário um esforço adicional de ajustamento estrutural, já que a meta de médio prazo foi revista este verão e ficou mais exigente (passou de um défice estrutural de 0,5 pontos percentuais para um excedente de 0,25 pontos percentuais).
Desemprego cai mais de um ponto percentual
Uma novidade nestas contas é a previsão para a taxa de desemprego, algo que o banco central não incluía nas suas previsões. Os dados são positivos, apesar do crescimento menor que o esperado, com a expetativa que a taxa desça 1,2 pontos percentuais este ano, fechando o ano nos 11,2%.
Este valor é consistente com uma melhoria esperada nas previsões para o emprego, que o banco central espera que cresça 1%.