Uma Brigitte Bardot de cabelos loiros, chapéu de palha e botas pelos joelhos roubou todas as atenções no terceiro e último dia da 47.ª edição da ModaLisboa. O ícone de estilo saltou do ecrã e do filme Viva Maria para desfilar na passerelle de Filipe Faísca de cesta no braço. Uma “retrospetiva”, como se chama a coleção primavera/verão 2017, que celebra os 25 anos de carreira do criador português e reflete sobre o passado, presente e futuro. “Datas redondas são sempre significativas porque fazem-me olhar para trás e refletir sobre aquilo que é preciso mudar”, explica ao Observador.

Ao fim de 25 anos tenho mais calma e confiança no processo criativo mas, ao mesmo tempo, há uma necessidade de perceber o que está a faltar. Se quero ir mais longe de que forma será?”, interroga o designer.

Uma questão à qual tentou responder com uma mulher romântica, típica dos anos 70, que usa artesanato às costas e sapatos Christian Loubotin nos pés e que, no armário, guarda vestidos plissados em tons de amarelo, saias com folhos em verde militar e túnicas com padrões floridos. E se o passado está representado por um estampado com um relógio, o futuro ainda é um enigma. “Não faço a menor ideia do que nos espera para o futuro da marca. O que eu sinto é que há cada vez mais pessoas interessadas — estrangeiros inclusive — e é com estes sinais do mercado que vamos trabalhar”, diz Filipe Faísca.

Em forma de agradecimento, o criador português (que foi distinguido duas vezes com o prémio de melhor designer de moda nos Globos de Ouro) distribuiu rosas pela sala cheia de pessoas no Pátio da Galé. A plateia respondeu efusivamente e levantou-se para fazer uma vénia ao percurso profissional de Filipe Faísca, aos seus 25 anos de carreira e aos 25 anos da ModaLisboa.

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Filipe Faísca no fim do desfile a atirar rosas brancas, amarelas e vermelhas à plateia. (foto: Rui Vasco/ModaLisboa)

Também de sala cheia coube a Ricardo Andrez, Nadir Tati e Kolovrat apresentar propostas para a primavera/verão 2017. O primeiro vestiu modelos com fatos de corpo inteiro com uma coleção unisexo — talvez a mais vestível do criador até à data — onde questionou a distinção de géneros. Já Nadir Tati voltou às raízes angolanas e apostou em drapeados, bordados, transparências e tecidos africanos. Por último, Lidija Kolovrat usou e abusou de malhas desfiadas, t-shirts oversized e longas camisolas com estampados gráficos.

No arranque do dia, Ricardo Preto voltou a pisar a passerelle mais importante da capital para apresentar a coleção feminina que desenhou para a rede de lojas Rustan’s. “Inspirei-me na beleza das Filipinas e na arquitetura moderna”, explicou ao Observador. Não faltaram folhos e brocados de flores, em tons de verde e rosa, que lembram uma pequena selva filipina.

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Os modelos encapuçados de Ricardo Andrez levaram-nos a questionar se a distinção de género na moda ainda continua a fazer sentido. (foto: Rui Vasco/ModaLisboa)

A portuense Olga Noronha, mestre em joalharia, presenteou-nos com uma coleção contemporânea e vanguardista q.b. com leques dourados, espartilhos de metal e acessórios barrocos ao som do fado “Ó gente da minha terra” interpretado por Mariza, sentada na primeira fila. Mal ela sabia que o trinar das guitarras portuguesas ia também inspirar Patrick de Pádua a criar uma coleção em tons de preto que une opostos: o fado com o hip-hop, o estilo clássico com tendências desportivas e as silhuetas oversized com tecidos transparentes. Uma bela estreia do criador no calendário oficial da ModaLisboa depois de ter sido selecionado pelo júri do Sangue Novo a apresentar as suas coleções na plataforma LAB, dedicada às marcas emergentes.

O encerramento da 47ª edição foi da responsabilidade de Luís Carvalho que fez da passerelle uma pista de dança com direito a disco ball. Ou não tivesse o criador, natural de Vizela, ido buscar inspiração ao estilo de Debbie Harry, mítica vocalista dos Blondie. “Esta coleção tem muitas referências ao estilo pop/rock dos anos 70”, diz o designer ao Observador depois do desfile. Daí que não tenham faltado acabamentos em vinil, sarjas de algodão e aplicações metálicas ao som de “Heart of Glass” tocada ao vivo por Alex D’Alva Teixeira. “Já as cores foram inspiradas no vermelho, coral e azul das obras da artista plástica Gretchen Albrecht, outro nome sonante dos anos 70.”

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Alex D’Alva Teixeira a dar música ao desfile de Luís Carvalho. (foto: Rui Valido/ModaLisboa)

O melhor da moda portuguesa ruma agora ao norte onde Miguel Vieira, Carlos Gil e Luís Buchinho — recém-chegados das grandes semanas de moda internacionais — vão desfilar no Portugal Fashion entre 12 e 15 de outubro, num calendário com muitos outros designers. Quanto à ModaLisboa, regressa em março com propostas para o outono/inverno de 2017-18.