Parabéns, happy birthday, joyeux anniversaire, cumpleaños feliz (é o 62.º aniversário de Fernando Santos) e, pronto, já está de bom tamanho. Desconhecemos o parabéns em faroense. É pena, claro, só que isto aqui também não é assim à Lagardère. Quem é este senhor, o Lagardère? É o herói da obra de Paul Féval, intitulada Le Bossu (O Corcunda) e editada em França durante o ano de 1858. Durante anos e anos, o Lagardère ganha fama mundial à conta da expressão “à Lagardère”, própria para alguém que faz algo com atrevimento ou ousadia ou coragem ou as três juntas. Sempre sem medir bem as consequências.

O dia de hoje é um desses à Lagardère. Começa-se com um audível “eles que voltem para a terra deles” (diz um taxista sobre os motoristas de Uber). A terra deles? Uberlândia, em Minas Gerais, no Brasil? Avançamos no tempo, desviamo-nos dos ovos podres lançados no aeroporto e olhamos de lado, com um largo sorriso, para o Butão 3 Bangladesh 1 antes de aterrarmos, por assim dizer, em Torshavn. É a maior cidade e a capital das Ilhas Faroé, onde mora o 111.º do ranking FIFA. Sem golos sofridos na qualificação, em 180 minutos. Ao nulo em casa com a Hungria, soma-se o 2-0 na Letónia. Ui ui ui, tu queres ver? Nem pensar. Portugal é campeão europeu, Fernando Santos faz anos e isto é para ganhar, ganhar, ganhar. Para tal, mudam-se três peças: Antunes (ele e Pepe, os únicos repetentes do único jogo com as Ilhas Faroé, em Agosto 2008), William e João Mário nos lugares de Raphaël, Moutinho e Bernardo em relação ao 6-0 à Andorra na sexta-feira.

O início até nem é famoso. Nos primeiros quatro minutos, só uma vez é que Portugal toca na bola no meio-campo deles, através de um cabeceamento de Quaresma. De resto, é uma sequência de passes tortos entre um entusiasmo desmedido dos faroenses. Eles mexem-se muito e fazem pouco. Demasiado pouco até – excepção feita às entradas descontroladas, como aquela de Benjaminsen sobre Ronaldo aos sete segundos. Chi-ça, calma aí. Na primeira oportunidade de Portugal, 1-0. A bola é lançada para lá do meio-campo, Ronaldo dá de calcanhar para João Mário e este mete a bola no meio dos centrais. Os dois atrapalham-se, André Silva aproveita para libertar-se da marcação, entrar na área e enquadrar-se com Nielsen. Com um só toque. Génio e figura. O remate é certeiro. Passam-se mais 11 minutos e toma lá o 2-0. João Mário, outra vez, liberta Quaresma e o remate deste é interceptado por Gregersen contra o guarda-redes. A bola ressalta para a cabeça de André Silva e o homem não vai de modas. O último portista a bisar na primeira parte é um tal Domingos, na Luz, vs Liechtenstein, em Dezembro 1994. Antes do intervalo, mais um de André Silva. É o hat-trick do avançado de 20 anos. O remate forte de Cancelo é defendido por Nielsen para a frente e André Silva só tem de encostar para o 3-0. Uau, um hat-trick na primeira parte. É mesmo à Lagardère. Pergunta: quem é do Porto a fazer hat-trick na selecção? Só Valdemar, em Abril 1928, vs Itália, no Ameal.

A segunda parte é mais do mesmo, com nítido ascendente português. As Ilhas Faroé apresentam seis “sen”, três “son”, um “tad”, um “mar” e nada mais. Rui Patrício nem é chamado uma única vez a intervir. Ao contrário de Nielsen, a evitar o 4-0 de Ronaldo aos 47′ e, depois, o 5-0 de André Silva e Pepe em menos de um minuto. Pelo meio, Ronaldo assina mesmo o 4-0, devidamente assistido por João Mário (olha olha quem é ele). O remate do capitão é pleno de oportunidade com o pé esquerdo, no limite da área. Até ao fim, é um fartar de vilanagem por parte de Gelson. O rapaz entra cheio de esforço, devoção e dedicação. A glória chega só nos descontos, com os passes para o 5-0 de Moutinho e o 6-0 de Cancelo. O remate do médio é mais em jeito do que em força e resulta de uma jogada de entendimento com Ronaldo. O pontapé do lateral é uma delicatessen de Gelson com um passe de magia entre três faroenses. À meia-dúzia é mais barato. Pelo segundo jogo seguido, algo nunca visto na nossa história. Isto é mesmo à Lagardère. Siiiiiiga.

Com Gediminas Mazeika no apito (é o primeiro jogo da selecção com um árbitro da Lituânia), eis os actores deste filme de muda aos três, acaba aos seis.
ILHAS FAROÉ: Nielsen; Hansen, Nattestad, Gregersen (cap) (J. Davidsen, 72′) e V. Davidsen; Vatnhamar, Benjaminsen, Hansson e Sorensen (Joensen, 67′); Hendriksson (Bartalsstovu, 80′) e Edmunsdson
Seleccionador: Lars Olsen (dinamarquês)
PORTUGAL: Rui Patrício; João Cancelo, Pepe, José Fonte e Antunes; João Mário (Moutinho, 81′), William, André Gomes e Quaresma (Gelson, 69′); Ronaldo (cap) e André Silva (Éder, 78′).
Seleccionador: Fernando Santos (português)
Marcadores: 0-1, André Silva (11′); 0-2, André Silva (22′); 0-3, André Silva (37); 0-4, André Si… errrr, desculpem, Ronaldo (65′); 0-5, Moutinho (90’+1); 0-6, Cancelo (90’+3)

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