O realizador polaco Andrzej Wajda morreu este domingo, aos 90 anos, em Cracóvia. Autor de inúmeros filmes que contam a história da Polónia, Wajda morreu devido a uma insuficiência pulmonar, após vários dias em coma induzido, avançou à AFP uma fonte próxima da família.

O realizador de “Terra Prometida” e “O homem de ferro” — que lhe valeu a Palma de Ouro de Cannes — nasceu em 1926, e entrou no mundo do cinema aos 13 anos, após não ter conseguido entrar numa escola militar. Estudou realização de cinema na Polónia nos anos 40, e começou a fazer os primeiros filmes pouco depois. Foi o prémio especial do júri em Cannes, em 1957, para o filme Kanał, que deu uma grande projeção ao realizador, que viria, em 2000, a ganhar um Óscar honorário de carreira.

Foi esse prémio de Cannes que possibilitou a Wajda produzir o filme seguinte, Popiół i Diament (Cinzas e Diamantes), que, de acordo com o The Guardian, permitiu ao realizador cimentar o seu papel no cinema polaco.

Nos anos seguintes, Wajda inspirou-se na literatura polaca para as suas obras, em que criticava o comunismo. A crítica ao regime comunista já vinha, aliás, do início da carreira. Depois de ter visto o seu pai, um militar, a ser assassinado pelos soviéticos, Wajda juntou-se à resistência polaca. É nesta altura que filma “O homem de ferro”, o grande marco da carreira do realizador. O filme, que criticava duramente o regime comunista polaco, contava até com o líder do movimento “Solidariedade”, Lech Wałęsa, no elenco.

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“O dia em que venci a Palma de Ouro foi um dia muito importante na minha vida, claro. Mas eu percebi que o prémio não era apenas para mim. Era também um prémio para o Solidariedade”, disse o realizador, numa entrevista em 2007, citada pelo The Guardian.

Ter vencido a Palma de Ouro salvou Wajda de ser preso pelo regime comunista (como aconteceu com os seus colegas, incluindo Lech Wałęsa, que chegaria a presidente do país na década de 1990). Tornou-se num símbolo da cultura polaca, mas a oposição relativamente ao líder comunista do país, Wojciech Jaruzelski, levou a realizar filmes no estrangeiro.

Regressou aos filmes no seu país depois da queda do comunismo na Polónia, em 1989, filmando histórias que os comunistas tinham proibido ao longo de vários anos. O seu último filme, que foi nomeado para um Óscar em 2008, conta a história do próprio pai, Jakub Wajda, que foi um dos 22.500 militares polacos mortos em 1940 na floresta de Katyn.

Numa entrevista ao Los Angeles Times, em 2000, sublinhou: “Um verdadeiro realizador vale tanto como o seu último filme, e cada filme pode ser o seu último”.