A Renamo, principal partido da oposição em Moçambique, anunciou esta segunda-feira que não vai abandonar as negociações de paz no país, apesar do assassínio de um dos membros da sua delegação na mesa do diálogo com o Governo.

“A Renamo vai continuar as negociações, ainda esta segunda-feira, se houvesse uma agenda, a Renamo estava disposta a tomar parte nas negociações, a Renamo está disponível”, afirmou o porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), António Muchanga, em conferência de imprensa de repúdio ao homicídio de Jeremias Pondeca, no sábado.

A delegação da Renamo às negociações de paz, prosseguiu Muchanga, aguarda uma convocatória e a indicação da agenda para o reatamento do processo negocial, interrompido há uma semana a pedido dos mediadores internacionais.

“O mais importante agora é continuarmos a caminhada, temos um número razoável (de membros nas negociações) para a caminhada continuar”, acrescentou o porta-voz do principal partido da oposição.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No comunicado lido pelo seu porta-voz durante a conferência de imprensa, a Renamo considera que o assassínio de Jeremias Pondeca visa obrigar o principal partido da oposição a abandonar o diálogo, alertando para as más consequências de uma eventual rotura do processo negocial.

Este acontecimento bárbaro praticado pelos inimigos da democracia e bem-estar social do povo moçambicano visa obrigar a Renamo a abandonar o diálogo, o que seria muito mau para o povo moçambicano, pois todos estamos recordados que todos os conflitos terminam na mesa do diálogo”, declarou António Muchanga.

O porta-voz da Renamo deplorou o facto de o assassinato de Jeremias Pondeca, que era também conselheiro de Estado e foi deputado em duas legislaturas, ter acontecido em plena capital do país, de dia e na via pública.

Muchanga adiantou que o velório de Pondeca será realizado na quarta-feira na sede do município de Maputo e o funeral será realizado na quinta-feira no distrito de Manjacaze, província de Gaza, terra natal da vítima.

A Polícia da República de Moçambique em Maputo indicou esta segunda-feira que o corpo de Jeremias Pondeca foi encontrado na praia da Costa do Sol “crivado de balas”, num crime supostamente cometido por quatro homens, quando fazia os seus habituais exercícios matinais.

Em conferência de imprensa realizada esta segunda-feira, o porta-voz da PRM em Maputo, Orlando Modumane, afirmou que as autoridades farão tudo o que estiver ao seu alcance para levar os autores do homicídio a tribunal.

Vários membros da Renamo e da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) foram assassinados nos últimos meses e os dois partidos têm trocado acusações sobre a autoria dos crimes.

O assassínio de membros dos dois principais partidos moçambicanos acontece no contexto dos atuais confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Renamo, na sequência da recusa do movimento de aceitar os resultados das eleições gerais de 2014.

A Renamo acusa a Frelimo de fraude no escrutínio e exige governar nas seis províncias onde reivindica vitória eleitoral.

Portugal, os EUA e a União Europeia já condenaram a morte de Jeremias Pondeca, encorajando o Governo e a Renamo a perseguirem a via do diálogo para o fim da crise política e militar.