Ana Luísa Costa queria vender pacotes de viagens para festivais internacionais: Coachella, Lollapalooza, festivais de música eletrónica no Japão. Estávamos em 2011, quando a crise derrubava a passos largos as hipóteses de financiamento e a jovem de Leiria tinha decidido apostar numa pós-graduação em Marketing Musical. Mestre em Comunicação Estratégica, queria lançar uma empresa que organizasse viagens para festivais de música. Foram precisos dois anos para conseguir fazer um primeiro teste de mercado.

“Começa-se sempre com ideias megalómanas. Mas depois fui tendo mais consciência do mercado, estudei o que se fazia lá fora, fiz muita pesquisa”, conta ao Observador, “e, então, virei a ideia do avesso.” O projeto quer agora trazer os estrangeiros para os festivais em Portugal, oferecendo pacotes com descontos de deslocação. É isto que é a Go For Music.

Primeiro, Ana quer estabelecer parcerias com as promotoras dos festivais, com hotéis e organizadores de atividades culturais – com o tempo, os pacotes podem incluir mais do que viagens permitindo oferecer ao turista onde ficar e o que fazer para além do festival.

Depois, precisa de cerca de 35 mil euros de financiamento para desenvolver a loja online onde o público possa comprar as viagens. Investimento que será também canalizado para o registo da marca, campanhas de marketing e publicidade (custos acrescidos para quem quer trabalhar lá fora). Caso se concretize, o Go For Music será um operador turístico online que facilita a mobilidade dos que visitam o país por causa da música.

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Negociar uma margem de lucro com as promotoras é o modelo de negócio em que Ana pretende apostar, consciente de que para isso tem que se dedicar ao contacto pessoal e individualizado com os parceiros. Ana já começou a fazê-lo cá dentro e lá fora, mas nem sempre a determinação e o trabalho chegam para transformar uma ideia numa empresa.

Ana Luísa Costa esteve dois anos a tentar que a determinação lhe bastasse. Quando estava prestes a desistir, apareceu-lhe “uma espécie de sorte”, conta, acrescentando que o seu “maior problema é depender sempre de terceiros”. Acaba por repetir aquele que é um dos maiores obstáculos que enfrenta: o facto de a sua vontade e trabalho não bastarem para levar a startup “a bom porto”.

Como ainda não tem a empresa formada, Ana não tem enquadramento legal para vender os pacotes que quer organizar. Fica sempre dependente da resposta das organizações, da vontade e “da solidariedade” das mesmas, acredita. “Se não há um anjo com aquela rede contactos, com aqueles conselhos cirúrgicos e fundamentais, é muito difícil, senão impossível”, diz.

“Fala-se muito em Portugal de empreendedorismo e parece uma ideia bonita. Mas, na prática, é uma questão muito desvalorizada.” A ideia romântica do empreendedorismo levou-a a bater a muitas portas, dentro e fora de Portugal. Ouviu muitos ‘não’. “Ouvia coisas que compreendia, mas vi muita falta de visão e de abertura.”

Ana descreve o mundo dos negócios quase como uma selva, achava que ia desistir do projeto. “Estive um ano, em 2015, numa incubadora no Centro de Inovação da Mouraria e, apesar de não ter conseguido avançar muito, deixou-me alguns contactos. Mas estive dois anos à espera de conseguir um teste de mercado”, conta.

Até que a Via Verde e o festival Lisb-On aderiram ao projeto, num teste de mercado com 100 pacotes promocionais, que incluíam passe geral para o festival, desconto na gasolina e portagens, exclusivo para clientes Via Verde. Ainda à espera dos resultados finais, Ana conta esta como uma “experiência positiva, apesar de não refletir bem o conceito da Go For Music”, reconhece.

“Da Expo ao Nos Alive, nós sabemos organizar eventos”

Ainda que a crise em nada tenha ajudado, “não deixou de haver sol, bons preços e bons organizadores em Portugal.” É com otimismo que Ana destaca o turismo musical no país: “Se olharmos para as percentagens relativas ao público dos grandes festivais, vemos que o público internacional é extremamente significativo, com tendência para crescer”, destaca. Veja-se pelas 154 nacionalidades presentes este ano no Boom Festival, em Idanha-a-Nova, ou a afluência de estrangeiros ao festival Entremuralhas, em Leiria, refere a jovem de 30 anos.

“As marcas começam já a aperceber-se disso, porque Portugal está efetivamente no circuito internacional de festivais de música. E sabe fazê-lo. Da Expo aos Nos Alive, nós sabemos organizar eventos” – um solo fértil para projetos como este, acredita.

Também ela quer aproveitar as particularidades do país e deixar cair “a centralidade do turismo musical”: “O meu objetivo não é trabalhar só em Lisboa e Porto, daí a necessidade de se trabalhar os festivais de nicho.” Ana pretende mostrar também a localidade que acolhe o evento ao turista, criando experiências que vão além do festival propriamente dito. “Quero que o turismo olhe para o pacote e veja o evento mas também um conjunto de ofertas que lhe permitirão ter uma experiência mais completa”, afirma.

Contudo, terminado o teste de mercado, Ana e a Go For Music têm novamente um “futuro incerto” pela frente. O Lisb-On deixou as portas abertas a novas experiências e a Via Verde deixou a mesma possibilidade em cima da mesa.

“Um dia gostava de vender viagens de música pelo mundo. Era isso que gostava de fazer, mas deixei de fazer esse tipo de projeções há muito tempo”, diz. Com o sonho de viver do Go For Music, Ana diz que vai tentar “mais uma ou outra coisa”. Quer virar-se para Europa e voltar aos trilhos que traçou para a Go For Music: Espanha, França, Inglaterra e Alemanha são países onde a portuguesa se vê chegar mais longe.