A Sociedade Portuguesa de Transplantação (SPT) alertou esta quarta-feira para a necessidade de estender a todo o país os transplantes com dador de coração parado, atualmente praticados no Porto, para tentar suprir as necessidades do país em doação de órgãos.

Susana Sampaio, presidente da SPT, afirma que “apesar de Portugal se situar num lugar cimeiro a nível mundial na colheita de órgãos, o número disponível não consegue suprir as necessidades”.

Segundo a médica, os transplantes com dador de coração parado (em paragem cardiocirculatória) arrancaram em 01 de janeiro deste ano no Hospital de São João, no Porto.

“Tem acontecido com regularidade no hospital. Entretanto, na sexta-feira passada, foi assinado um protocolo para que as VMERs [viaturas médicas de emergência e reanimação], se assistirem a situações deste tipo, façam a transferência das vítimas para o hospital para aproveitar os órgãos”, acrescentou.

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O protocolo foi assinado entre o Instituto Português do Sangue e Transplantação, o INEM e o Centro Hospitalar de S. João, explicou a responsável, acrescentando que, apesar do programa ser nacional, só se encontra operacional no Porto, sendo urgente o seu alargamento a todo o país.

Segundo a médica, a doação através de coração parado é aquela em que se assiste à paragem cardiocirculatória, se inicia manobras de reanimação, a vítima é transportada e é mantida artificialmente, o que permite a colheita de órgãos.

Contudo, “para manter um dador até ir para o bloco, é preciso recursos humanos”, uma das principais falhas dos hospitais, que dificultam a extensão deste programa a todo o país, com a agravante das discrepâncias regionais existentes (no Norte e no Sul realizam-se mais transplantes do que no Centro).

“É importante montar em todo o país. O programa está lançado, existem recursos técnicos, tem que haver mais organização e vontade dos intervenientes. Há unidades com mais capacidade de detetar dadores, mas não conseguem fazê-lo por falta de recursos humanos e estruturação”, disse.

Outro problema apontado pela responsável é o número de órgãos que se perdem por falta de biopsias.

“É preciso verificar os rins e para tal é preciso fazer uma biopsia, mas há regiões do país em que ao fim de semana não é possível. As unidades de transplantação e de cuidados intensivos têm muito défice de recursos humanos”, criticou.

Apesar deste défice de transplantações, tem havido um aumento do número de transplantes.

De acordo com os dados mais recentes do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), disponibilizados pela presidente da SPT, até agosto de 2016 tinha havido 238 dadores, mais 20 do que no mesmo período do ano anterior.

“Em termos regionais, temos um crescimento de 16% na região norte, 6% no centro e 7% no sul”, disse.

Relativamente aos órgãos, registou-se um aumento de 11% de órgãos colhidos (sendo que nem todos são implantados).

Em agosto de 2015 tinha sido feitos 305 transplantes renais, número que subiu para 356 este ano, 16 transplantes hepáticos, que aumentaram para 194, e 9 transplantes pulmonares em 2015, que passaram a 14 em 2016.

Estes temas serão debatidos a partir de dia 13 no congresso nacional e internacional na área da transplantação, que se realiza no Porto, onde estarão representadas as três Sociedades de Transplantação: Sociedade Portuguesa de Transplantação (SPT), Associação Brasileira de Transplante de Orgãos (ABTO) e Sociedade Espanhola de Transplante (SET).