Todos conhecemos alguém assim, de mal com o relógio.

Aponta-se para uma determinada hora. E sabendo-se como esse “alguém assim” é, mais atrasado do que pontual, dizemos sempre que é mais cedo do que é na verdade — na esperança de que, tarde ou cedo, chegue às horas que queremos. E o telefone toca, toca. Insistentemente. E volta a tocar. Lá atende. Diz-nos que está meeeeesmo a chegar, que são só mais “cinco minutinhos” e aparece. E os minutos fazem-se horas até que, por fim, chegue.

O FC Porto foi assim na Bélgica. Tardou a chegar ao jogo com o Club Brugge. Uma hora de atraso. Só ao fim de 45′ de uma primeira parte em que desceu ao balneário a perder 1-0, só ao fim de mais 15′ de uma segunda em que tardou a voltar desse mesmo balneário, é que o FC Porto lá mostrou serviço, empatou primeiro — e que golo foi o de Layún, na “gaveta” –, fez a reviravolta depois (de penálti) sobre o gongo. Uma hora é muito tempo, sim. Mas bendita hora em que o mister Nuno resolveu olhar para trás, para o banco, mudar a tática e mudar a sina do clube na Liga dos Campeões: ao fim de três jogos, o FC Porto lá venceu. E está mais próximo da qualificação para os “oitavos” do que antes. Ainda não está qualificado, longe disso, mas lá que vai com embalo, vai. Assim não volte a dar uma hora aos pardais (leia-se: belgas) no próximo jogo.

Mas vamos ao jogo e ao que este tem para contar.

O Club Brugge não foi só melhor, foi muito melhor. Isto no início, claro. E logo aos oito minuto, aí estava ele: o primeiro remate à baliza. Quem rematou? Vossen, pois claro, o homem-golo de serviço entre belgas. O livre era pertíssimo da área do FC Porto, ligeiramente descaído para a direita, Simmons não rematou, mas cruzou para área, rapidamente e aproveitando a distração da defesa portistas. Vossen saltou com Felipe. Não rematou à primeira. Antes, amorteceu a bola para Limbombe, este não deixou que Marcano a intercetasse e devolveu-a a Vossen. E, agora sim, ele rematou. Mas Casillas defendeu.

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Não há uma sem duas. E mais defenderia Casillas. Pouco depois, voltou a ser feliz o portero. E a ter que suar. O livre era na esquina da área, descaído para a esquerda, Ricardo van Rhijn chegou-se à frente (10′) para chutar, chutou, acertou na barreira e em Diogo Jota, a “menina” ganhou um efeito e tanto, sobrevoou Casillas, mas este, “elástico”, ainda a conseguiu desviar com uma palmada por cima da barra. Ufffff…

E à terceira… golo. Do tal Vossen, camisola nove. Mas tudo começou (12′) na defesa belga. Ricardo van Rhijn (que é lateral, internacional pela Holanda e bom de pés) coloca a bola, longa e desde a lateral direita, em Limbombe. Este, à esquerda do ataque do Brugge, faz uma receção de peitaça, orientada, tira com isso Layún da frente, entra na área e cruza para trás. E “atrás” quem vem é Vanaken, a rematar de primeira, mas a acertar em Marcano. A bola, “teimosa” como só ela, fica aos pulinhos diante da pequena área, Vormer chega primeiro que toda a gente e recupera-a para os da casa, até que, ao fim de tanta carambola, Vossen lá remata, um remate colocado ao segundo poste, quase, quase no ângulo superior direito. Não deu hipóteses.

Rematar, o FC Porto só rematou com direção aos 25′. Óliver, sempre ele a organizar o(s) ataque(s) do FC Porto, tocou a bola para a o lado, para Herrera, e o mexicano, com a defesa do Brugge a chegar-se (“garganeira”) a si, e vendo-se a dois passos da área, resolveu chutar. E resolveu bem. O remate saiu com força e direção, valendo aos belgas que Butelle se esticou entre postes e desviou para o lado. Contas feiras na primeira parte, dois remates para o FC Porto, os dois de Herrera. Layún foi “rato” aos 39′ e fez um lançamento rápido à direita, colocou a bola na esquina da área em André Silva, mas André caiu na disputa com Denswil e foi do chão que ficou a protestar. Segue jogo! — disse o árbitro. A bola ficou sozinha na área, Herrera correu a ela, e rematou-a na passada. Não sabemos se o remate ia na direção da baliza ou não. Mas depois de resvalar nas costas de Poulain, fez um efeito algo enroscado, e foi mesmo, passando um palmo ao lado do poste esquerdo de Butelle.

Veio o intervalo. E com ele veio algo curioso e raramente visto: o FC Porto entrou primeiro (uns cinco minutos ou mais) que o Brugge em campo após descanso e foi aquecendo com o preparador físico, sprint para a frente, sprint para trás, pulinhos e mais pulinhos. Até que os belgas e o árbitro lá regressaram, serenamente.

Fez-lhes bem o descanso. Ou o retorno madrugador deste. O FC Porto entrou decidido: a bola seria sua. E foi. Mas mal o Brugge contra-atacou, logo a defesa portista meteu água. À esquerda, Claudemir — que nem é propriamente um prodígio de veloz — foi ganhando (51′) a frente a Layún, ganhou-a de vez, chegou-a à área sem pressão, cruzou para a entrada desta, e foi aí que surgiu Ruud Vormer a rematar. Oposição não tinha; Óliver vinha (atrasado) nas suas costas e Marcano não se fez à sua frente. O remate saiu colocado ao poste direito, Casillas esticou-se todo, mas de tão colocada que a bola foi por Vormer… saiu ao lado. Pouco, muito pouco.

Chega. Chega de esperar por um empate que tarda em chegar. Nuno resolveu mudar. Saem Diogo Jota e Herrera, entram Corora e Brahimi. O que muda? Vai-se o 4-4-2 com André Silva e Jota sozinhos na frente, chega um 4-3-3 com o mexicano e o argelino nas alas. Ao fim de um minuto, Brahimi fez o que Jota não conseguiu durante uma hora: rematar. Veio em dribles da direita para o centro, teve muito espaço e pouca oposição, olhou para a baliza, tirou-lhe as medidas, puxou da canhota atrás e… aqui vai disto! Acertou no alvo, sim, mas Ludovic Butelle defendeu. Estávamos com 61′.

E aos 65′ veio a melhor ocasião de golo — pelo menos teve cabeça, tronco e membros — em todo o jogo. Para o FC Porto, claro. Otávio usou André Silva como tabela. Estava à entrada da área, tinha Vanaken consigo, mas passou a bola ao camisola dez e desatou a correr, à espera que a “tabela” lhe devolvesse o passe. E devolveu. Mas não foi uma devolução qualquer. Não foi um toma lá, dá cá. André Silva aguentou a marcação de Denswil nas suas costas, aguentou a de Simons quando este a si se chegou, rodopiou sobre os dois, picou a bola por cima de Vanaken (o tal que não largava Otávio nem por nada) e o brasileiro rematou cruzando e rasteiro, pouco ao lado do poste esquerdo do Brugge.

OK, foi bonitinho e tal. Mas para quê complicar (André Silva desenvencilhou-se de três belgas no espaço de uma cabine telefónica…) o que é simples? Em contra-ataque, aos 68′, Otávio viu Layún a desmarcar-se pelo centro, colocou lá a bola, isolou o mexicano, este correu, correu, e à entrada da área (e antes mesmo do central Poulain a ele se chegar) rematou. O rematou foi como deve ser: forte e colocado, na direção do poste direito e sem hipóteses de defesa para Butelle. Empate no estádio que tem apelido de espirro: Jan Breydelstadion.

Tic-tac, tic-tac. O FC Porto conseguia o que não conseguira durante uma hora: acertar meia dúzia de passes de enfiada, tabelar, usar os flancos e não só o centro para chegar à área belga. Mas não havia maneira de chegar ao golo. Não havia, mas houve. Aos 92′. Corona entrou na área pela direita e foi derrubado (um derrube imprudente, diga-se) por Claudemir. Penálti! — apitou de pronto (e sem dúvidas) o árbitro. André Silva atirou para a direita, Butelle caiu para a esquerda, e o FC Porto fazia a reviravolta perto do fim. Uma reviravolta que é também a sua primeira vitória no Grupo G.

Os portistas estão agora em segundo lugar (ex aequo com o Copenhaga) com quatro pontos, a cinco do líder Leicester.