“Não posso dizer que [a espécie] esteja quase extinta, mas a situação pode ser grave, comparativamente aos anos anteriores. É, de facto, uma das espécies mais ameaçadas de Portugal, só se conhecem quatro locais onde a espécie ocorre, nos últimos dez anos”, disse à agência Lusa Filipe Ribeiro, referindo-se à chamada “boga-de-boca arqueada de Lisboa”.

O investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, explicou que o trabalho abrangeu uma área desde o concelho de Loures, até ao rio Nabão, em Tomar, na margem norte, e de Coina até Abrantes, na margem sul, num total de 19 afluentes do Tejo, cobertos por 70 pontos de amostragem.

Com base em estudos anteriores, os especialistas apontavam para a existência de três populações distintas de boga de boca arqueada de Lisboa (ou simplesmente boga de Lisboa) – no rio Trancão (Paul das Caniceiras), no rio Maior (ribeira de Almoster) e na Ribeira de Muge, na margem sul do Tejo (Almeirim e Alpiarça).

“Este ano, detetámos uma nova população na ribeira de Cabanas, no concelho de Santarém”, avançou o investigador.

Ao contrário, na ribeira de Almoster, agora “não conseguimos encontrar a boga de Lisboa”, acrescentou. Os cientistas instalaram três pontos de amostragem, na ribeira de Almoster, “numa pequena zona”, por isso, Filipe Ribeiro admitiu a possibilidade de o peixe estar em outra parte do curso de água.

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O trabalho vai continuar e os investigadores estão a ‘amostrar’ o rio Tejo naquela que será a “primeira prospeção do troço principal do rio Tejo”, com dez pontos de amostragem, entre Valada do Ribatejo, Benavente e Belverde, e que vai permitir “ter uma ideia das espécies existem no rio”.

O projeto de investigação sobre a boga de Lisboa recebeu o prémio internacional do Fundo para a Conservação de Espécies Mohamed Bin Zayed, no valor de 12.000 dólares (cerca de 10.000 euros).

A boga de Lisboa só foi descoberta neste século e descrita em 2007, mas, é uma das espécies mais antigas entre os peixes de água doce.

O trabalho realizado pela equipa de Filipe Ribeiro permite informar o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e as câmaras municipais acerca da existência no seu território destas populações.

O cientista alertou ainda que a zona do Ribatejo “tem uma elevada pressão humana, muita poluição, de diferentes fontes, tanto humanas como pecuárias, de produções de bovinos”.

“Muitas pressões já estão bastante bem identificadas, o problema é que existe uma certa inoperância, falta de fiscalização nesta região”, criticou, defendendo o reforço da fiscalização do cumprimento da lei pelo ICNF e pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Além de Filipe Ribeiro, a equipa é composta por Ana Veríssimo (CIBIO — InBio), Hugo Gante (Universidade de Basileia, Suíça), David Santos (Universidade do Maranhão, Brasil) e Max Planck (Institute for Ornithology, Alemanha).