O general Rovisco Duarte, chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), disse na manhã desta terça-feira, durante uma visita com deputados à Unidade de Comandos da Carregueira, que as mortes recentes de dois comandos eram situações “anómalas” no treino dos militares. O Exército vai “corrigir o que tiver de ser corrigido” para evitar novas mortes durante a formação, afirmou o general na primeira intervenção pública que o CEME fez sobre o assunto.

O chefe do Exército disse ainda esperar “tranquilamente” pelos resultados dos inquéritos às mortes, mas garantiu que o Exército vai “agir em conformidade” com as conclusões divulgadas. “O Exército é uma instituição fortemente hierarquizada, há responsabilidades de comando aos diferentes níveis (…). Vamos atuar em função dos relatórios que estão a ser preparados”, referiu o general Rovisco Duarte. A dificultar a entrega dos relatórios — tudo apontava para que estivessem prontos há uma semana — está o relatório das autópsias feitas aos dois recrutas.

Há três processos em curso — dois do Exército e um do próprio Ministério Público. Um deles, instaurado para avaliar se houve responsabilidades disciplinares nos incidentes que levaram à morte dos militares, deverá estar concluído “muito em breve”, mas não tem ainda data para que seja conhecido.

Nas semanas que se seguiram à morte dos militares, alguns recrutas do 127.º curso garantiram ter sido privados de água durante a formação e ter assistido a agressões a militares que integravam o grupo, por parte dos instrutores. Ao Observador, fontes da Unidade de Comandos referiram, também, que em cursos anteriores tinham sido detetados formandos na posse de anabolizantes e suplementos sem receita (que são motivo de expulsão do curso).

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O CEME recusou comentar essas intervenções. “Temos a certeza de que os portugueses vão confiar nos Comandos. Eu estou seguro. O Exército é uma instituição credível”, defendeu Rovisco Duarte.

160 comandos prontos para operação das Nações Unidas em África

O Exército vai destacar 160 militares dos Comandos para a República Centro Africana, para uma missão de seis meses. Os homens estão prontos há cerca de quatro meses, mas falta acertar “questões de logística” para que o contingente possa embarcar.

Neste momento, todo o planeamento tático está feito. Falta esclarecer alguns assuntos de âmbito logístico no teatro [de operações]. Presumo que será necessário fazer mais um reconhecimento no teatro”, referiu o general Rovisco Duarte.

O número de militares foi conhecido esta terça-feira, durante uma visita dos deputados da comissão de Defesa da Assembleia da República à Unidade de Comandos, na serra da Carregueira.

Para assinalar essa deslocação, os militares simularam uma missão em teatro de operações em que tentavam — com sucesso — chegar a um líder de um grupo rebelde, o general “Cava”. Em cerca de cinco minutos, e com várias explosões pelo caminho, os Comandos neutralizaram (um eufemismo para matar) uma dezena de inimigos, entraram no edifício onde estava o High Value Target (alvo de elevado valor) da sua missão e levaram consigo o líder dos insurgentes.

Para o Presidente da Comissão de Defesa, Marco António Costa (PSD), os exercícios (antes, tinha havido luta corpo a corpo com armas e exercício de tiro) “demonstram as capacidades operacionais e revelam um alto grau de treino, preparação física e robustez psicológica, essenciais para garantir a eficácia e a competência” destes militares.

O deputado falava perante o grupo de militares que, em breve, serão destacados para a República Centro Africana, com os Humvees brancos e a inscrição “UN” a letras negras por trás. “Cerca de 160 elementos que servirão o nosso país e a comunidade internacional — nomeadamente as Nações Unidas, agora que é dirigida por um português –, num ambiente hostil, de grande perigosidade e que exigiu uma preparação muito rigorosa e muito laboriosa” para cumprirem a sua missão, sublinhou Marco António Costa.

Os deputados estiveram na Unidade de Comandos para “manifestar a solidariedade” do parlamento aos militares, um mês e meio depois de dois recrutas do 127.º curso terem morrido durante a formação, e para garantir que vão prestar “total atenção” às conclusões dos inquéritos que estão em curso, tanto no caso dos Comandos como no acidente com o C-130, na Base Aérea do Montijo, em que morreram três militares, em julho.