Um conjunto de 62 retratos captados por Fernando Lemos de protagonistas do mundo intelectual português, em meados do século XX, exposto a partir desta quarta-feira no Museu Berardo, mostra o “isolamento penoso” criado pela ditadura.

Fernando Lemos: Para um retrato coletivo em Portugal, no fim dos anos 40” é o título desta exposição do artista português radicado desde 1953 no Brasil, onde passou a residir devido à oposição ao regime de Salazar, obtendo a nacionalidade poucos anos depois.

Numa visita guiada aos jornalistas, pela exposição, Pedro Lapa, diretor artístico do museu, sublinhou que este conjunto de retratos, captados por Fernando Lemos:

Mostra bem o meio específico de escritores, atores e artistas plásticos que viveram num período dos mais depressivos da História do país”.

O poeta Alberto de Lacerda, o pintor António Dacosta, o ator Jacinto Ramos, o escritor Jorge de Sena, o historiador José-Augusto França, o escritor José Cardoso Pires, o pintor Marcelino Vespeira, o poeta e artista Mário Cesariny, a pintora Maria Helena Vieira da Silva e o marido, Arpad-Szénes, são alguns dos retratados no trabalho de Fernando Lemos.

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Estava-se no fim do pós-Segunda Guerra Mundial. Em Portugal, o regime ditatorial endurecia, e o isolamento em que estavam estes artistas e intelectuais era penoso”, salientou Pedro Lapa, sobre as circunstâncias em que viveram.

Muitos deles acabaram por emigrar ou ser expatriados, como foi o caso de Maria Helena Vieira da Silva, a quem Oliveira Salazar não concedeu a nacionalidade, e a artista haveria de pedir a nacionalidade francesa.

Também Fernando Lemos acabou por emigrar depois da criação destas imagens, “que permitem fazer um retrato coletivo de uma certa geração traumatizada“, referiu Pedro Lapa.

Pintor, artista gráfico e fotógrafo, Fernando Lemos, hoje com 90 anos, embora radicado no Brasil há décadas, continuou a mostrar o seu trabalho em Portugal.

Nesta exposição, que é inaugurada esta quarta-feira, no Museu Coleção Berardo, são apresentados retratos captados entre 1949 e 1952.

Sobre a outra exposição, que também é inaugurada esta quarta-feira, no Museu Berardo, com obras de nove artistas portugueses, entre os quais Rui Chafes, Ângela Ferreira e Helena Almeida, o diretor artístico do museu, e curador das duas mostras, disse que, na escolha das peças, procurou “criar tensões entre estéticas diversificadas”.

Visualidade & Visão — Arte Portuguesa na Coleção Berardo II” vai contar ainda com obras de Joaquim Bravo, José Barrias, José Luís Neto, Miguel Palma, Pedro Barateiro e Pedro Cabrita Reis.

As obras, em pintura, escultura, videoinstalação e fotografia, dos nove artistas portugueses, vão ocupar três salas do museu.

Estou muito contente por colocar estas obras em diálogo, em criar teias de relações entre artistas de várias gerações, com trabalhos bastante diferentes”, apontou.

Esta exposição revela as práticas artísticas, interrogações e visão crítica destes artistas, procurando “definir alguns dos fios condutores entre o entendimento da visualidade e uma perspetiva sobre o mundo”.

As obras reunidas nesta exposição põem em questão os limites supostos pelos regimes da visualidade referidos, e procuram dar lugar à possibilidade do acontecer de uma outra visão da imagem e do mundo”, segundo Pedro Lapa.

“Fernando Lemos: Para um retrato coletivo em Portugal, no fim dos anos 40” e “Visualidade & Visão — Arte Portuguesa na Coleção Berardo II” são inauguradas esta quarta-feira, às 19h00, e ficarão patentes até 31 de dezembro deste ano.