O Congresso dos Deputados de Espanha chumbou, esta quinta-feira, a proposta de Governo de Mariano Rajoy na primeira sessão de investidura, com 170 votos favoráveis e 180 contrários. Eram necessários 176 ou mais votos a favor.

Acontece este sábado a segunda votação, em que basta uma maioria simples (metade dos votos válidos mais um) para aprovar o novo executivo do líder do PP. Nesta conta, não estão incluídas as abstenções. Desta maneira, a investidura de Mariano Rajoy é dada como certa, com a já anunciada abstenção dos deputados do PSOE e com o apoio garantido do Ciudadanos.

Caso os deputados do PSOE respeitem a disciplina de voto e Rajoy consiga aprovar o seu programa de Governo, será posto um fim a impasse político em Espanha que durou dez meses e resultou na realização de duas eleições num período de um ano.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Como aconteceu

O Podemos abandonou, esta tarde, a sessão de debate para a investidura de Mariano Rajoy como líder do país, em protesto contra as acusações feitas pelo porta-voz do PP, Rafael Hernando. O dirigente acusou Pablo Iglesias de “usar o nome de Espanha para colocar-se ao serviço de ditadores”, em referência às alegadas ligações do partido com o governo da Venezuela.

A sessão teve de ser interrompida momentaneamente pela presidente do Congresso dos Deputados em Espanha, Ana Pastor.

Depois de vários meses de falta de soluções e da ameaça de terceiras eleições, o PSOE votou (simbolicamente) contra um novo governo do líder do PP. O partido decidiu, no entanto, abster-se no Congresso, este sábado, para deixar o governo de Mariano Rajoy ser investido.

Foi à chegada a essa sessão de apresentação que o antigo líder do PSOE, Pedro Sánchez, admitiu ainda não saber se vai ou não respeitar a disciplina de voto do partido na segunda votação. Com Sánchez fora do PSOE, foi Antonio Hernando que esteve à frente do partido socialista espanhol, e foi a ele que coube a abertura do debate.

Do PSOE chegaram os avisos de que a abstenção não significa apoio às políticas de Rajoy. Já a esquerda mais à esquerda — o Unidos Podemos — acusou o PSOE de se juntar ao PP, e garantiu que fará a verdadeira oposição. O Ciudadanos sublinhou que apoia a investidura de Rajoy em função do pacote de 150 acordos que estabeleceu com o líder do PP.

Antes do debate, Mariano Rajoy apelou à responsabilidade dos deputados:

Rajoy. “É tão mau não ter governo como ter um governo que não possa governar

Em resposta aos avisos do PSOE de que os socialistas não apoiarão as políticas do PP, Rajoy sublinhou que fará “tudo o que puder para governar”, dando “tudo” nos acordos. Mas sublinha que “é tão mau não ter governo como ter um governo que não possa governar”. “Estou aberto para falar, mas tenho alguns limites”, explicou o líder do PP.

PSOE. “A nossa abstenção não é uma resignação

Foi o anúncio da abstenção do PSOE na segunda votação que permitiu desbloquear o impasse, mas Hernando avisa Rajoy: “A nossa abstenção vai permitir-lhe formar governo, mas não será um apoio ao seu governo e às suas políticas”. O líder socialista garantiu que o PP não terá o apoio do PSOE “para levar em frente o seu programa eleitoral nem para cumprir as suas receitas ideológicas”, alertando mesmo que o governo de Rajoy “terá de conseguir a governabilidade semana a semana, votação a votação”.

“As alternativas da Câmara reduziram-se a abstenção ou eleições”, sublinhou o porta-voz do PSOE. “Com a abstenção no sábado, vamos trabalhar para construir uma alternativa maioritária. A nossa abstenção não é uma resignação”, disse. E concluiu: “Vamos ser oposição, e você tem de o aceitar, senhor Rajoy, sem artimanhas”.

Pablo Iglesias. “Há mais delinquentes potenciais nesta Câmara do que lá fora”

O líder do Podemos é um forte crítico da abstenção do PSOE, e acusou os socialistas de estarem cada vez mais perto da área política do PP. Por isso, garantiu que “é histórico” que haja um espaço político que vai “fazer oposição de verdade” — o Podemos.

Foram de Iglesias algumas das palavras mais fortes do debate. “Somos uma força política de ordem, gostamos da ordem. O que as pessoas defenderam nas manifestações foi a ordem”, começou Iglesias, acrescentando: “Há mais delinquentes potenciais nesta Câmara do que lá fora”. Quando a presidente do Congresso o alertou para que respeitasse a honra dos membros do parlamento, Iglesias atirou: “A mim compete-me defender a honra do meu país”.

O líder do Podemos envolveu-se depois numa discussão com Mariano Rajoy sobre quem tem mais legitimidade. Rajoy pergunta: “Porque não está aqui você? O que você diz não coincide com o que pensa a maioria dos espanhóis”. E Iglesias atira: “Vocês têm mais espanhóis contra do que a favor”.

Albert Rivera. Pacote de medidas é “a diferença entre os que fazem populismo e os que contribuem com soluções”

A investidura de Rajoy contou com o apoio dos Ciudadanos, de Albert Rivera, que negociou com o PP um conjunto de 150 medidas, que Rajoy se comprometeu a cumprir. Durante a intervenção esta manhã, Rivera sublinhou que o partido tem sido “o partido do sim para tirar o país do atoleiro, os do sim às duas candidaturas que o Rei propôs”. E acusou Pablo Iglesias de querer “ganhar e destituir o PSOE, mas esse não é o nosso objetivo”.

O líder dos Ciudadanos destacou precisamente a importância do pacote de medidas negociadas entre o partido e o PP. “Os nossos cartazes são um acordo de 150 medidas que combinámos com o governo. É a diferença entre os que fazem populismo e os que contribuem com soluções”, afirmou, voltando-se para as bancadas da esquerda. “A Espanha está a mudar. A uma velocidade menor do que nos gostaria, mas está a mudar”.

Rajoy agradeceu o apoio do Ciudadanos, sublinhando que “o emprego é a grande prioridade nos próximos quatro anos”.