Um sorteio é um sorteio e é sempre a mesma coisa? Não é bem assim. No Mundial-2010, por exemplo, Zico, selecionador do Japão, não entende o estatuto de cabeça-de-série atribuído pela FIFA à Espanha, o Irão censura a transmissão em direto do acontecimento devido à presença da escultural apresentadora alemã Heidi Klum, os argentinos enfurecem-se com Pelé na hora de tirar as bolas para o grupo da morte (Holanda, Costa de Marfim mais Sérvia) e um canal televisivo italiano acusa Lothar Matthäus de ter prejudicado a squadra por ter trocado uma bola por outra. Suspeito.

É a velha teoria das bolas frias e quentes. Neste caso, as frias significam um adversário acessível, as quentes um assim para o complicado. E tudo isto recorda a polémica à volta do sorteio do Mundial-82, o primeiro a ser transmitido em direto pela televisão para todo o mundo. Para esse efeito, a FIFA nomeia quatro órfãos. A ideia é “mostrar que o futebol é para todas as idades.” Os erros de casting, esses, acontecem em catadupa. As bolas de Escócia e Hungria saem cedo demais, a do Chile encrava com a do Peru e o hino espanhol é adiado cinco minutos por problemas técnicos. Ainda hoje, esses quatro órfãos reúnem-se anualmente a 16 janeiro para celebrar os 15 minutos de fama.

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Os sorteios, ai os sorteios. Por cá, também há cambalachos. Aquele da Taça de Portugal em que a menina tira a bola amarela, desembrulha-a e diz Penafiel. Ups, afinal é Benfica. Sem problema, errar é humano. O problema é a bola seguinte. É a do Penafiel. Xiiiiiiiiii. No caso de hoje, é diferente. É apenas recordar a coincidência de um Benfica-Paços à 9.ª jornada. Esta noite, às 19h00, há um. Em 2010, também o há. Tanto aí como agora, o Benfica visita o Dragão na jornada seguinte. Ele há coisas. Como nos esquecemos da bola de cristal em casa, só podemos olhar para o passado.

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Em 2010, no dia 29 outubro (amanhã, portanto), o Benfica de Jesus arruma-se com Roberto; Maxi Pereira, Luisão, David Luiz e César Peixoto; Javi García; Gaitán, Aimar e Fábio Coentrão; Saviola e Kardec. A vitória é tranquila, com um golo de outro mundo de Aimar (14′) e um de penálti de Kardec (65′). O Paços de Vitória… Alto lá e pára o baile, um Benfica-Paços à 9.ª jornada com o Rui Vitória? Sim senhor, em 2010 e 2016. Há seis anos, Rui Vitória está do outro lado e é-lhe impossível reagir, sobretudo depois da expulsão de Wanderson Baiano, aos 83′, com duplo amarelo.

O pior (para o Benfica) é a jornada seguinte. Jesus faz uma série de significativas alterações no onze para o Dragão, tudo para travar o andamento de Hulk. Vai daí, David Luiz descai para a esquerda e Sidnei aparece no meio, ao lado de Luisão. Também há Salvio no lugar de Gaitán, Carlos Martins no de Aimar e Aimar no de Saviola. É um desastre, com 3-0 ao intervalo e 5-0 ao soar do apito final de Pedro Proença. Na lista de honra desse jogo, Varela, Falcao, Falcao, Hulk (penálti) e Hulk. Pelo meio, vermelho direto a Luisão.

Há só mais uma experiência do Benfica com Paços e Porto para o campeonato, sem mais ninguém pelo meio. Em 1991-92, na era Sven-Goran Eriksson. Com Neno; Veloso, William, Paulo Madeira e Schwarz; Paneira, Thern, Rui Costa e Pacheco; Yuran e César Brito. É o vira aos dois, acaba aos quatro (Pacheco 29′, César Brito 42′, Thern 75′, César Brito 83′).

No jogo seguinte, também na Luz, o Porto decide o campeonato a seu favor com um emocionante 3-2. Todos os cinco golos anotam-se na segunda parte, nos últimos 25 minutos. Começa João Pinto, de penálti, a castigar falta de Rui Bento, expulso com duplo amarelo por Fortunato Azevedo. Com dez jogadores, o Benfica reage com galhardia e empata por William, aos 74′. Cabe a Kostadinov o 2-1 aos 84′. No quadradinho seguinte, 2-2 de Yuran. De um sururu, resulta o segundo vermelho da tarde, para Jaime Magalhães, aos 87′. Com 10 para 10, o Porto dá o golpe final por Timofte.