Reportagem em Palo Alto, EUA

De onde vem o sucesso de Silicon Valley? Do dinheiro e das pessoas. É um ecossistema único que reúne 20 mil startups e 2,2 milhões de trabalhadores altamente especializados (mais de metade tem menos de 39 anos de idade). Só no ano passado entraram em Silicon Valley qualquer coisa como 24,5 mil milhões de dólares de investimento.

Depois, jovens altamente qualificados com espírito empreendedor, que vivem e trabalham numa atmosfera competitiva mas onde há partilha, onde é fácil conhecer pessoas, trocar contactos e experiências. É um sítio onde é relativamente comum, por exemplo, estar numa festa e conhecer alguém com quem se troca umas ideias, e está dado o primeiro passo para marcar uma reunião que pode resultar num negócio de milhões. Parece fácil, e é.

São estes números e esta cultura que justificam a presença e o investimento da SAP nesta região da Califórnia. A empresa de software de gestão com sede na Alemanha continua a apostar na inovação, e foi para o demonstrar que convidou duas dezenas de jornalistas dos cinco continentes para a SAP Spotlight Tour, que se realizou no passado mês de setembro, em Palo Alto, EUA.

É lá que se situa o principal centro de pesquisa e desenvolvimento da tecnológica alemã, porque é ali que está a matéria-prima, a base criativa que alimenta as dezenas de milhares de clientes que a SAP tem espalhados pelo mundo, na sua maioria grandes empresas. É para responder às suas expectativas e para as ajudar a tornarem-se mais competitivas que a SAP investe anualmente milhões de dólares em pesquisa e inovação, numa busca permanente por novas ideias e soluções. E onde é que elas estão? Nas startups, claro está. E em Silicon Valley há milhares delas.

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Em entrevista ao Observador, Manju Bansal, vice-presidente da SAP e responsável pelo SAP Startup Focus, disse-nos que “é impossível fazer tudo sozinho”, para justificar o investimento nas 900 startups que a SAP apoia atualmente, à razão de uma nova por semana. Exatamente, a SAP formaliza pelo menos uma nova parceria, todas as semanas.

Não estão todas em Silicon Valley, esclarece Manju Bansal. Depois dos Estados Unidos aparece a Índia, a Alemanha, o Brasil e a Austrália na lista de países onde se encontram as pequenas empresas que apresentam as melhores ideias para resolver os problemas dos seus clientes. Mas acrescenta que o país não é por si só um critério, até porque “basta uma ligação à Internet”, já que se tratam, na esmagadora maioria, de soluções de programação focadas no mundo empresarial e distribuídas, genericamente, em três grandes áreas: análise e processamento de dados, realidade aumentada e machine learning (nos domínios da inteligência artificial).

É precisamente sobre estas duas últimas áreas que se debruçam três empresas portuguesas: Feedzai, Wizdee e Powergrid. O mundo é um lugar cada vez mais pequeno e a SAP tem as portas abertas, por isso qualquer empresa com atividade nesta esfera de ação pode candidatar-se ao programa Startup Focus, bastando para isso fazer o registo neste site.

A realidade aumentada é um campo que a SAP identifica como estratégico e que Manju Basal utiliza com frequência no seu discurso, talvez pela aplicação prática ou pela simplicidade com que a sua utilização pode ser ilustrada. Deu-nos dois exemplos: esta tecnologia vai libertar as duas mãos de um técnico que repara um avião, que além do mais vai conseguir ver (através de uns óculos) quais as características técnicas das peças que tem à sua frente e obter uma lista de possíveis problemas, ou até “observar” as que se escondem por detrás; seguindo o mesmo princípio, um cirurgião vai conseguir “ver” cada doente com mais rigor, porque a anatomia é diferente em cada um – um scan prévio permitirá produzir em detalhe um mapa completo dos órgãos e tecidos de cada paciente.

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Entende-se por Realidade Aumentada a integração de imagens artificiais no campo visual real – por exemplo, projetadas nas lentes oculares ou no para-brisas de um carro, para citar os dois exemplos mais comuns.

Por outras palavras, a Realidade Aumentada acrescenta informação à realidade, o que não acontece com a Realidade Virtual, em que todo o plano de imagem é substituído por um cenário artificial.

Esta tecnologia esteve em destaque no Levi’s Stadium em Santa Clara, onde decorreu uma das sessões desta Spotlight Tour e onde estiveram presentes algumas startups parceiras da SAP. Ryan Pamplin da Metaglasses não tem dúvidas de que a realidade aumentada tem muitas cartas para dar: “Vai ser uma, senão a maior indústria do futuro próximo, não há nenhuma área de atividade onde não vai entrar”. E a imaginação é o limite, reforça Manju Bansal.

Uma ideia e a respetiva aplicação prática nem sempre andam de mãos dadas, por isso o vice-presidente da SAP reconhece que a tecnologia produzida por estas centenas de pequenas empresas nem sempre tem continuidade, existe algum insucesso, algo que é inerente ao risco. Ainda assim, estar nesta lista de empresas associadas à SAP é, só por si, uma mais-valia para as pequenas empresas, porventura um sinal positivo para futuros investimentos, mesmo que a ideia original não resulte.

Falhar não é um problema nem tão pouco diminui o interesse e a procura de inovação, uma área “crítica” para a SAP porque “a inovação é o ‘sangue’ de qualquer empresa de software.” Inovação é uma palavra cara e nem sempre fácil de definir, mas que o responsável da SAP Startup Focus identifica da seguinte forma: é alguma coisa que ainda não foi feita; algo que já existe mas que tenha recebido um novo “toque”; ou uma nova abordagem para resolver um problema, ainda que utilize as ferramentas que já se conhecem. E acrescenta: “Estes são tempos muito interessantes. A tecnologia está a evoluir depressa para caminhos que ainda não compreendemos”. Mais uma razão para a SAP se querer manter na corrida.

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A SAP Spotlight Tour foi um encontro que serviu ainda para apresentar aos jornalistas o Centro de Desenvolvimento de Palo Alto, um espaço construído com o design thinking em mente. É ali que se desenham, literalmente, as soluções de software da empresa e foi por isso o local escolhido para o lançamento internacional do Build, uma plataforma para a criação de protótipos de aplicações.

Com o Build é possível a qualquer pessoa (empresário, empresa) construir e testar exaustivamente uma nova ferramenta antes de a colocar em produção, reduzindo assim os custos operacionais. A subscrição e teste iniciais são gratuitos, pode aceder e experimentar o serviço neste link.

O Levi’s Stadium, um dos estádios tecnologicamente mais evoluídos do mundo, foi também o palco para outro anúncio: a Sapphire Ventures, sociedade de capital de risco fundada pela SAP, disponibilizou mais mil milhões de dólares para a expansão e crescimento de empresas de tecnologia. Este fundo soma agora um total de 2,4 mil milhões de dólares para investimento e reafirma-se como um dos líderes no investimento em tecnologia.

O Observador viajou a Silicon Valley a convite da SAP