Jacarepaguá. Uyyy, isto é música para os nossos ouvidos. Que circuito, que memórias. Interlagos. Uyyy, também. É lá que se corre este domingo (16h00, Eurosport) o penúltimo Grande Prémio do ano (Abu Dhabi fecha a época, a 27 de Novembro). Nas boxes da Mercedes, há um piloto em risco de se sagrar campeão mundial pela primeira vez. É ele Nico Rosberg, filho do famoso Keke, campeão em 1982. Nas mesmas boxes, há um outro piloto com o sonho de adiar o título para o último GP. É ele Lewis Hamilton, actual campeão. A corrida promete. É o costume no Brasil, um país cheio de tradição na Fórmula 1. Eis a lista dos cinco momentos mais emocionantes do GP Brasil.

1973 Seis vitórias é o máximo individual no Brasil, a cargo do francês Alain Prost. E os brasileiros? Quatro com dois triunfos cada: Massa (2006, 2008), Senna (1991, 1993), Piquet (1983, 1986) e Fittipaldi (1973, 1974). É deste último que falamos.

Mais de 100 mil pessoas enchem o autódromo de Interlagos, com 8 quilómetros de extensão entre rectas enormes e curvas de alta velocidade. É a primeira corrida de sempre no Brasil, a segunda do ano 1973, a seguir à da Argentina (ganha por Emerson Fittipaldi, ao volante de um Lotus). É ele quem larga em segundo lugar, ao lado do sueco Ronnie Peterson (outro Lotus), e assume a liderança na 15.ª volta. Daí até ao fim, domina a corrida sem ser incomodado por Jackie Stewart (Tyrrell). Curiosidade: só estes dois acabam o GP na mesma volta e só 12 dos 20 sobrevivem às 40 voltas.

A estes detalhes, acrescente-se o sol abrasador: 37 graus de temperatura ambiente e mais o dobro no asfalto propriamente dito (70). Diz Fittipaldi, abraçado à mulher Maria Helena. “O carro esteve maravilhoso do princípio ao fim. Só o calor, este calor brasileiro, importunou-me um pouco. Mas o sol, quando escalda, é para todos.” No pódio, Jackie Stewart dá crédito ao vencedor. “Emerson fez uma prova fantástica.”

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1975 O Brasil não é um país, está mais para continente tal a extensão territorial. O estado mais importante é o de São Paulo, de onde são naturais Carlos Pace (Brabham) e Emerson Fittipaldi (McLaren), os dois primeiros classificados do GP-1975, em Interlagos (São Paulo). A sensacional coincidência acontece numa tarde de calor sufocante que obriga a organização a chamar inúmeros carros dos bombeiros para refrescar os mais de cem mil espectadores.

A pole position está a cargo de Jean-Pierre Jarier, ao volante de um Shadow. O francês é ultrapassado pelo argentino Carlos Reutemann (Brabham) na primeira curva e dá o troco durante a quinta volta. Líder incontestável, o motor de Jarier falha à 32.ª volta e o irredutível Pace aproveita para assumir o comando da prova até ao fim. É a sua primeira vitória na F1. O delírio é absoluto nas bancadas e aumenta consideravelmente no momento em que Fittipaldi ultrapassa Regazzoni (Ferrari) para a primeira dobradinha brasileira de sempre.

1986 E não é que somos fãs de dobradinha? Uma década depois de Pace e Fittipaldi, outros dois brasileiros fazem a festa, agora em Jacarepágua, com Nélson Piquet (Williams) em primeiro e Ayrton Senna (Lotus) em segundo. Rivais desde sempre, é vê-los a segurar a bandeira do Brasil no pódio.

Nos treinos, Senna domina Piquet com um segundo de avanço e os espectadores cariocas entusiasmam-se como nunca. Na larga, Senna mantém o primeiro lugar enquanto Piquet se deixa ultrapassar por Mansell. Empolgado, o inglês da Williams tenta trocar as voltas a Senna e sai da pista na Curva Sul. Menos um. Falta Prost, sempre persistente. O motor do McLaren entra em rotura e o francês é obrigado a desistir à 30.ª volta. À frente da corrida desde a terceira volta, Piquet anda mais rápido que Senna. “A vitória do Nélson é justa pela regularidade”, comenta Ayrton.

1991 Bicampeão mundial, Senna tem uma espinha encravada: a de nunca ter sido vencedor de um GP no Brasil em sete tentativas. Na tarde de 24 Março 1991, Senna consegue a pole (Pedro Matos Chaves nem chega à grelha, via sétimo lugar na pré-qualificação).

A corrida é tranquila até às 20 voltas do fim. “De repente, perdi totalmente a quarta [marcha]. Comecei a sentir dores no pescoço, no ombro e nos braços. Aí fiquei sem a quinta e a terceira. Nada funcionou, faltando sete, oito voltas para o final. Achei que não ia ganhar.” Mas ganha, com três segundos de avanço sobre o italiano Riccardo Patrese (Williams). E sofre. O esforço é tal que Ayrton tem dificuldade em sair do safety-car e precisa de ajuda para levantar o troféu.

2008 E chegámos a Hamilton. É uma das corridas mais emocionantes de sempre. O então líder do Mundial chega a Interlagos com 7 pontos de vantagem sobre Massa, que precisa de vencer em casa e ainda sonhar com o sexto lugar do inglês.

Massa (Ferrari) faz pole e domina a corrida de fio a pavio. Ganha-a com categoria e espera uns longos 17 segundos para saber se é campeão mundial. De repente, o volte-face inacreditável. Sob uma bátega do arco da velha, o alemão Timo Glock (Toyota) , com pneus intermédios, perde força na Subida do Café, a penúltima curva do circuito, e deixa-se ultrapassar por Hamilton (McLaren). É o inglês o campeão mais jovem da história (23 anos). O ambiente nas boxes da Ferrari é de ir às lágrimas. Tal como o da McLaren.

“Estou ainda tão nervoso que nem sei o que dizer nem sentir”, testemunha Hamilton. No outro lado, Massa chora baba e ranho. “Estou com a cabeça em pé. Fiz pole e venci a corrida, só faltou o título de campeão mundial. Frustrado? Não, estou orgulhoso por ter feito parte da história da F1 com este final emocionante.”