A noite em Chaves, de um frio trasmontano que enregela até ao tutano, pedia tudo menos uma noitada a tiritar, ao relento.

Mas “noitada” até foi coisa que houve lá para os lados do estádio; futebol é que nem tanto, no paupérrimo Chaves-FC Porto. Ninguém queria arredar pé do relvado. À hora marcada e sem atrasos, 20h15, lá estavam eles, os clubes, prontos a disputar a Taça de Portugal. E por lá continuaram horas a fio, até às 23h12 desta sexta-feira, quase sábado, até que Leandro Freire bateu o décimo e derradeiro penálti. Ufffff! Duas horas e 57 minutos. É muito tempo.

Se é cinéfilo, e como a noite pedia o conforto do sofá, o agasalho da manta, saiba que podia ver ou rever o Apocalypse Now (o Redux, que é mais alargado na versão) quase até ao fim. E recostado no sofá, se é mais de séries e Netflix, podia certamente ver Narcos — a temporada toda talvez não, mas para três episódios até chegava bem.

E de caramelos, gosta? Pois bem. Saído de Lisboa, por exemplo, e desligada a TV, poderia fazer-se à estrada, cruzar o país até Badajoz — e ainda chegaria a Espanha antes do jogo terminar –, trazendo de lá alguns na mala.

A sério: duas horas e 57 minutos é muito tempo. Vamos a mais exemplos. No verão, o queniano Eliud Kipchoge percorreu todos os 42,195 quilómetros da maratona Jogos Olímpicos em menos tempo. E foi em menos tempo, apenas 38 minutos, que no dia 27 de agosto de 1896 o Reino Unido derrotou Zanzibar na guerra “mais curta da história militar”.

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Mais: neste tempo todo, poderia ter antecipado as compras de Natal e evitado filas e mais filas em dezembro. E duas horas e 57 minutos serve-nos também para pensar, durante um maçador jogo de futebol em Chaves, no que fazer com duas horas e 57 minutos do nosso tempo.

Quanto ao (pouco) futebol visto.

Aos 11′, a primeira ocasião de perigo. E é para o Chaves. Perdigão tinha a bola controlada à direita. Alex Telles aproximou-se dele para lha surripiar. Não conseguiu. Marcano foi apoiar Telles: ou vai ou racha. Não conseguiram. Nisto, Perdigão desmarcou Paulinho – que vinha a sprintar desde a defesa como “um louco” –, Paulinho cruzou para o primeiro poste, William estava lá, Felipe não – deu um passo à frente cedo demais –, e foi William a desviar de cabeça, pouco ao lado do poste esquerdo de José Sá.

O primeiro remate do FC Porto só foi coisa que se visse ao 15′. Varela simplesmente não tinha quem desmarcar. À sua frente, André Silva metera-se numa “cabine telefónica” com Leandro e Lenho; à direita, Maxi não subira. Então, Varela, de frente para a baliza — mas ainda longe da área –, embalou, deu um passo, dois, e rematou. A direção foi a melhor. E a relva, molhada e irregular, até deu um efeito “esquisito” à coisa, que quase traía António Filipe. Mas à segunda o guarda-redes do Chaves lá segurou.

E assim acabou a primeira parte. Da segunda contam-se dois remates apenas.

Assim, sim. Otávio colocou a bola (53′) “a rasgar” na direta, Lenho não seguiu com Varela, Varela seguiu sem Lenho em direção à esquina da área, levantou a cabeça, André Silva não estava na área, mas vinha embalado na direção desta. Varela cruzou para trás, André rematou de primeira, António Filipe segurou à segunda.

E aos 63′: plim! À trave. Não havia maneira de a bola sair dali, da esquerda. Alex Telles entregou-a a André André e foi da esquerda, quase na quina da área, que este rematou em arco. António Felipe seguiu a bola com os olhos. Não sabemos se tem super-poderes o não. Mas a verdade é que a bola lá se “desviou” com o olhar e foi bater no canto superior direito da baliza, em cheio naquele “metal preciso” que evita golos.

No prolongamento, aos 94′, o FC Porto até poderia ter arrumado com o jogo. Mas não o fez. Vindo da esquerda, Jota tabela com André Silva à entrada da área, recebe a bola de volta e remata mas em jeito do que força. António Filipe defendeu para a frente. E à “frente” estava Depoitre, que rematou desengonçado por cima. Viriam os penaltis. E nos penaltis falharam Braga e Felipe Lopes para o Chaves, Layún, Depoitre e André Silva para o FC Porto. Freire não falhou. E o FC Porto está fora da Taça da qual foi finalista vencido na edição passada.

Só mais uma perguntinha: querem que vos leve alguma coisa aqui de Badajoz? Caramelos?