Os horticultores do concelho da Póvoa de Varzim estão registar “um dos melhores anos de sempre”, em contraciclo com outros subsetores agrícolas, e preveem terminar 2016 com os maiores índices de rentabilidade de que têm memória.

Em conjunto e até ao final do terceiro trimestre deste ano, as duas mil explorações hortícolas da Póvoa de Varzim faturaram cerca de 80 milhões de euros, sendo metade desse valor gerado através de exportações, segundo cálculos da Horpozim, uma associação local que reúne vários empresários do setor.

Apesar de preencherem uma área de cultivo relativamente pequena – cerca de dois mil hectares, o que corresponde sensivelmente a dois mil campos de futebol – os horticultores desta região têm maximizado as suas produções, seguindo técnicas passadas de geração em geração, mas também inovando, nomeadamente com a utilização de estufas.

Manuel Silva, que além de produtor é também presidente da Horpozim, considerou que a conjugação de vários fatores levou a que 2016 tenha sido “um dos melhores anos de sempre”, ao contrário do que sucede noutros subsetores agrícolas.

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“Este verão foi muito quente, e outras zonas não tiveram tanta capacidade para produzir, levando a que os preços tenha sido pagos acima da média”, explicou o horticultor.

Além disso, e no âmbito da Horpozim, Manuel Silva explicou que houve uma aposta forte na presença em várias feiras agrícolas para divulgar os produtos, aproximando produtores, distribuidores e consumidores.

“Como a procura e a oferta estabelecem os preços, tal ajudou a proporcionar-nos um ano excecional”, completou.

Claro que tudo isto só foi possível porque a qualidade das alfaces, tomates, pepinos ou pimentos que crescem nos solos do concelho poveiro têm agradado os consumidores, contribuindo para isso o que Manuel Silva apelidou de “características únicas da região”.

“Como estamos entre os rios Cávado e Ave forma-se aqui um microclima favorável que, conjugado com as condições do solo muito propícias e temperaturas amenas, proporciona produtos de excelência”, analisou.

A juntar a tudo isto, o produtor e presidente da Horpozim lembra que a Póvoa de Varzim está “estrategicamente localizada” a cerca de 50 quilómetros das principais das capitais de distrito do Norte, como Porto, Braga ou Viana do Castelo, e a fronteira com Espanha está localizada a 90 quilómetros.

“Cerca de 50 a 60% do que produzimos é destinado ao mercado galego”, partilhou Manuel Silva.

O dirigente não consegue prever se nos próximos anos os resultados se poderão repetir, mas lembra que a organização dos produtores numa associação tem boas bases para que o “crescimento continue a acontecer”.

“Queremos caminhar para uma associação empresarial agrícola, que abraça não só os produtores mas toda uma fileira de empresas que estão envolvidas no setor. Queremos que no negócio seja bom para todos”, contou Manuel Silva.

O presidente da Horpozim alerta, no entanto, “que mais de metade dos produtores locais têm mais de 50 anos” considerando que é preciso atrair mais jovens para o setor, “até porque há espaço para tal”.

“Precisamos de mais jovens empresários e quadros com formação, porque a tendência é que as empresas cresçam e produzam mais” tornando “necessária a renovação etária no setor”, lembrou Manuel Silva, que vinca que a horticultura na Póvoa de Varzim movimenta mais de 10 mil postos de trabalho diretos e indiretos.

A seguir a recomendação de Manuel Silva, está Pedro Torres, um horticultor de 37 anos, que além de se dedicar ao setor, tem aplicado novas técnicas para otimizar a sua produção de tomates, nomeadamente a hidroponia, um sistema de cultivo caracterizado por não precisar de terra, já que as raízes das plantas ficam dentro da água.

“Os meus pais já trabalhavam neste setor e eu continuei, tentando inovar e evoluir. Tenho usado esta cultura que não precisa de solo, pois toda adubação da planta é feita através da água, permitindo um maior controlo sobre a cultura e conseguindo rentabilizar as produções”, explicou.

Pedro Torres reconheceu que, profissionalmente, teve um “ano que apesar de não ser excelente, foi muito bom”, exportando grande parte dos seus produtos para clientes “que, mais que a quantidade, apreciam a quantidade”.

“Prefiro ter menos área e mais qualidade, mas isso dá muito trabalho e aplicação e não estou a ver muitos jovens aqui da região a seguirem esta atividade”, analisou Pedro Torres.

Paulino Almeida, outro produtor da Póvoa de Varzim e também dirigente associativo, considera que o caminho e evolução do setor passam por encontrar mais mão-de-obra qualificada.

Considerou que a organização associativa destes produtores “têm um papel fundamental, não só na transmissão e partilha de informações e práticas no terreno como também na escala que podem ter”.