Todos os padres católicos têm, a partir desta semana, a possibilidade de absolver as mulheres que façam abortos, desde que se arrependam. Na carta apostólica Misericordia et misera, apresentada esta segunda-feira, o Papa Francisco sublinha que “o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente”, mas acrescenta que “não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir”.

Concedo a partir de agora a todos os sacerdotes, em virtude do seu ministério, a faculdade de absolver a todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto”, lê-se na carta do Papa Francisco.

A faculdade de absolver os pecados mais graves tinha sido dada no início do Ano Extraordinário da Misericórdia, que acabou este domingo. “Aquilo que eu concedera de forma limitada ao período jubilar fica agora alargado no tempo, não obstante qualquer disposição em contrário”, escreve o líder da Igreja Católica no documento que assinala as principais conclusões do ano jubilar.

Através desta carta apostólica, o Papa Francisco declara ainda que os padres da Fraternidade de São Pio X, uma associação de sacerdotes fundada por Marcel Lefebvre em 1970 e que recusa as reformas introduzidas pelo Concílio Vaticano II, poderão continuar a perdoar os pecados aos crentes que frequentem as igrejas que dirigem. Esta medida também tinha sido introduzida de forma extraordinária no Ano da Misericórdia, e é agora prolongada no tempo.

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Francisco pede ainda que a vivência do ano extraordinário que agora termina contribua para “fazer crescer uma cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos”. “O caráter social da misericórdia exige que não permaneçamos inertes mas afugentemos a indiferença e a hipocrisia para que os planos e os projetos não fiquem letra morta”, destaca.

“Não ter trabalho nem receber um salário justo, não poder ter uma casa ou uma terra onde habitar, ser discriminados pela fé, a raça, a posição social… estas e muitas outras são condições que atentam contra a dignidade da pessoa”, escreve o Papa, pedindo “vigilância e solidariedade”. Além disso, sublinha o Sumo Pontífice, é necessário “dar formas concretas à caridade”.

No documento, Francisco critica também “a cultura do individualismo exacerbado, sobretudo no Ocidente”, que “leva a perder o sentido de solidariedade e responsabilidade para com os outros”.

A carta apostólica foi assinada em público este domingo, no final da missa de encerramento do Ano da Misericórdia. Depois da assinatura, o Papa ofereceu cópias do texto a dois arcebispos — de Manila e de Edimburgo –, a um diácono permanente e à sua família, a duas freiras, a dois noivos, a dois missionários, a duas catequistas e a alguns doentes, como símbolo da divulgação mundial do documento. A carta foi apresentada esta segunda-feira a toda a Igreja Católica, em conferência de imprensa a partir do Vaticano.