A Escola Básica e Secundária de Santo António, no Barreiro, parece ter lugar cativo no fundo dos rankings das escolas, que todos os anos são elaborados, com base nas notas dos exames nacionais. Em 2014/2015 ocupava a posição 501, em 505, considerando as escolas com mais de 100 provas realizadas. A sua média ficou-se pelos 8.29 valores. Mas, tal como a moeda, também aqui a realidade pode ter duas faces. Um novo indicador agora disponibilizado pelo Ministério da Educação, que compara escolas com alunos de contextos semelhantes, permite perceber que, no ano passado, e apesar dos resultados nos exames, esta escola contribuiu mais para o sucesso dos seus alunos do que outras escolas com características muito semelhantes.

É o indicador do percurso direto de sucesso, que existia já para os 2.º e 3.º ciclos e que agora foi estendido ao ensino secundário. Na prática, este indicador diz-nos quantos alunos numa escola concluíram o ensino secundário sem retenções e conseguiram ter positiva nos exames das disciplinas trienais (português e matemática, português e história ou português e desenho, consoante os cursos). E depois alarga a análise ao resto do país, revelando qual a percentagem de sucesso no conjunto das restantes escolas, a nível nacional, com alunos com um percurso comparável até chegar ao 10.º ano, tendo por referência as notas obtidas nos exames de 9.º ano.

Este indicador, aliado a outros também disponíveis, como o da progressão dos alunos, e em que esta escola se posicionou, no ano passado, acima da média nacional, permitem tirar conclusões acerca do trabalho da escola. No caso da Escola Básica e Secundária de Santo António, por exemplo, em 2014/15, 24% dos alunos conseguiram concluir o secundário com sucesso — não chumbando nenhum ano e conseguindo nota positiva nos exames trienais. Uma percentagem “bastante superior” à média nacional para alunos semelhantes (17%).

O secretário de Estado da Educação, João Costa, explicou que este novo indicador permite “melhorar a comparabilidade entre os dados das diferentes escolas” e “valoriza a avaliação interna, não premeia a retenção e ao mesmo tempo não premeia a seleção de alunos porque estamos a comparar alunos comparáveis”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Uma escola que recebe alunos de 10 e os leva a um 17 é uma escola muito melhor que uma escola que recebe alunos de 15 e os leva ao 17, porque o trabalho daquela escola é muito mais rico”, resumiu o secretário de Estado da Educação, João Costa, durante um encontro com os jornalistas para a apresentação dos novos dados do portal InfoEscolas.

O governante sublinhou que estes indicadores são mais robustos do que os habituais rankings elaborados com base na média das notas dos exames. “Comparar apenas médias é muito pobre e trabalhar todas estas variáveis é metodologicamente muito mais rico”, afirmou o secretário de Estado. “A média é a média. Quando eu como dois frangos e vocês nenhum, em média comemos um.”

E estes novos indicadores permitem fazer leituras diferentes daquelas que habitualmente resultam dos rankings. “Podemos fazer simulações, e é muito interessante porque se desfaz a ideia de que há um setor, que é o setor privado, que tem excelentes resultados e um setor, que é o setor público, que está cá em baixo.”

Quando simulamos a aplicação dos percursos diretos de sucesso, escolas que ano após ano aparecem no número 300, subitamente estão no topo da tabela. Porquê? Porque fazem um trabalho de progressão muito maior, porque não selecionam alunos. Não obstante, outras escolas que estavam no topo mantêm-se no topo. Mas começamos a ter uma mancha muito mais rica e diversificada entre setor público e privado”, destacou o secretário de Estado.

Outra das novidades é que são divulgados dados dos resultados a todas as disciplinas, porque “há vida para lá do português e da matemática”, servindo de “instrumento de reflexão para a escola”. Este novo indicador vai “permitir ver se dentro da mesma escola há desalinhamentos internos”. Ou seja, se os alunos tiverem 12, em média, a português e história e 10 a geografia, isso pode significar que algo de errado se passa com aquela disciplina. Se essa análise se estender às restantes escolas, permite perceber que algo de errado se pode estar a passar com o ensino da disciplina.

“Temos um histórico de muitos anos em que não temos dados sobre uma série de disciplinas. Nós não sabemos como é o ensino da história e da físico-química em Portugal e precisamos de dados sobre isso. Isso já foi iniciado com as provas de aferição rotativas por disciplinas e vai agora mais longe. Imagine que detetamos um problema a nível nacional com uma disciplina específica, podemos canalizar recursos de formação e planos de incremento”, acrescentou João Costa.

No caso de se identificar um desalinhamento em relação a uma escola em concreto, “o que poderemos fazer nesse caso é reforçar os mecanismos de apoio local e fazer um acompanhamento muito mais direto aos programas específicos de cada escola”, referiu.