Vestia-se sempre de negro quando a hora chegava. Alto, altíssimo, esguio também, louro, de um louro quase ruço, ora sorria, ora se lhe franzia o rosto, e deslizava. Ninguém assim deslizava. Alexei Yagudin foi o melhor. Não, não é reforço de inverno. É patinador, da patinagem artística no gelo. O melhor de sempre.

A referência a Yagudin é simples de explicar. O que mais se viu no relvado do Telia Parken foi “Yagudines”. Um relvado seco, irregular como se tivesse sido tomado pelas toupeiras antes do jogo, gelado, literalmente gelado, de um gelo que escorrega e tomba. E quem mais escorregava era o FC Porto e não tanto o Copenhaga, habituado que está àquele batatal. Perdão: relvado. Os matulhões dinamarqueses estavam nas suas sete quintas. O futebol de bola-no-pé português nem por isso.

Escorregadela daqui, outra de acolá. Sempre que o FC Porto se aproxima da área do Copenhaga era isto. Não, rente à relva a coisa não vai lá. Então, que se jogue pelo ar. Foi o que Corona pensou aos 14′, cruzando desde a esquina da área, à direita, para a cabeça de Jota. Mas a bola desceu. Desceu demais — e só desceu porque Jorgensen lhe tocou de raspão. Quando esta chegou a Jota, não bateu na cabeça, bateu-lhe no peito — dentro da pequena área — e este não conseguiu desvia-la para dentro da baliza.

Não é muito emocionante, mas é o que de melhor há para lhe contar do FC Porto na primeira parte.

Uma primeira parte da qual só há uma remate à baliza para amostra. Foi aos 30′. E é para o Copenhaga. Verbic cruza da esquerda, Pavlovic desvia de cabeça no interior da área, Felipe corta com a mão — sim, é penálti e ficou por assinalar — e a bola não segue para a baliza. Mas continua do lado Copenhaga: Toutouh, à direita, na esquina da área, amortece para trás, para a entrada desta, e Ankersen faz um remate forte e rente ao poste direito. Casillas segurou.

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A síndrome de Yagudin e da patinagem artística no gelo voltou aos 35′. Toutouh recuperou a bola à entrada da área do Copenhaga. O FC Porto havia subido para lá, para um canto. E Toutouh disparou meio-campo fora. Óliver seguiu atrás dele, apanhou-o quase chegado ao centro do meio-campo, sacou-lhe a bola de carrinho e entregou-a em André Silva, à esquerda. A defesa do Copenhaga estava em contra-pé — correram todos a apoiar Toutouh; tramaram-se. André Silva desviou-se de Jorgensen e desviou dele a bola. Entrou na área, quis rematar em jeito, mas escorregou e o jeito foi-se. A bola sai quase pela bandeirola de canto, à direita.

Maldita relva! Maldito gelo sobre ela!

Viria a segunda parte e nela o FC Porto, por fim, aos 56′, rematou. E foi quaaaaase golo. Corona driblou Augustinsson à direita, cruzou, mas cruzou mal e rasteiro. A bola era de Jorgensen. Contudo, o central do Copenhaga não se livrou dela, escorregou também, e esta acabaria à entrada da área em Maxi. O lateral do FC Porto chutou. Não, não acertou na baliza. O remate foi frouxo. Mas como não havia forma de alguém acertar com o que quer que seja, Johansson não fez por menos e também errou no corte ao remate do uruguaio. Quem agradeceu foi André Silva, que driblou Johansson e rematou, dentro da pequena área. Fê-lo de canhota e o guarda-redes Olsen defendeu para a frente. André Silva teria outra tentativa. Desta vez de pé direito. Johansson mergulhou autenticamente no relvado e cortou. Ufffff!

A melhor ocasião foi esta. A segunda melhor foi depois, aos 71′. “Passa! Passa! Passa!” Mas Jota não passou. Recuperou a bola no meio-campo do FC Porto, entrou com ela no do Copenhaga, correu, correu mais um pouco, driblou um, dois, e chegado à área dos dinamarqueses lá rematou. Mas de tanto correr, de tanto driblar, cansou-se e o remate (que até nem foi mau, diga-se; forte mas ao centro da baliza) acabou nos braços de Olsen.

Contas feitas, e com o empate, o FC Porto ainda não está nos oitavos-de-final. Uma vitória era o suficiente. Um golinho só, de preferência sem nenhum sofrido. Mas nem um se viu. Agora é vencer o Leicester no Dragão. Pelo sim, pelo não, o melhor é vencer. É que se o FC Porto perde (knock-knock na madeira!) e o Copenhaga vence o Club Brugge, a Liga Europa é serventia da casa.

Daqui por 15 dias se verá.