“Festival de sexo” é como lhe chama Chris Jones, da Great Barrier Reef Marine Park Authority, ao evento anual na Grande Barreira de Coral, na Austrália, onde os corais reproduzem em massa. “Esperma e ovos são libertados todos ao mesmo tempo, na água, e juntam-se”, acrescenta à BBC.

Jones e a sua equipa foram capazes de prever o tempo da “desova” dos corais — meia hora — através do seu conhecimento da temperatura da água, marés e lua. Mas o festival pode ter os dias contados. É que a Grande Barreira de Coral está a morrer, graças a uma série de ameaças causadas pelo Homem. Um quarto do recife já está morto e, em algumas áreas, o número de corais mortos já é cerca de metade.

Os corais são animais pequenos e simples que existem há cerca de 500 milhões de anos. Alimentam-se de algas e reproduzem-se de diferentes formas. Por vezes clonam-se. Outra alternativa é se o coral se partir e pousar num local adequado, onde, com as condições necessárias, pode crescer e formar uma nova colónia de corais.

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A maioria dos corais são de cor verde acastanhada, mas existem alguns de fluorescentes, uma reação à luz solar, como explica Jones. A cor atua como uma espécie de protetor dos protege dos raios ultravioleta. Quando um coral morre transforma-se em pedra e é assim que se formam os recifes.

A imensa diversidade

A Grande Barreira de Coral tem duas vezes a idade da humanidade é incrivelmente grande, com 2.300 quilómetros — dez vezes maior do que o segundo maior recife de coral do mundo, a Barreira de Belize — e tem cerca de 3.000 recifes de coral. A sua dimensão faz com que tenha uma enorme diversidade de espécies, que não se encontram em mais nenhum sítio. É o caso do dugong, uma mistura entre uma foca, uma vaca e um elefante. Também existem crocodilos, seis das sete espécies de tartarugas marinhas do mundo, esponjas e moluscos gigantes.

A Grande Barreira de Coral é agora um dos últimos lugares na Terra onde podes ver moluscos gigantes”, afirma Jones.

Mas os organismos verdadeiramente importantes são aqueles que raramente vemos, como os vermes e bactérias que asseguram o ecossistema. A Grande Barreira de Coral têm tantas formas e tão estranhas que Chris Jones apenas conseguiu explicar ao filho, de nove anos, que “há donuts, fungos e crateras da lua”.

A presença humana

Os povos aborígenes da Austrália utilizam os recursos naturais do recife há pelo menos 40.000 anos. “O mar é tão importante para eles como a terra, em termos de espiritualidade e uso de recursos“, diz Jones. Entretanto, foram muitos os navegadores e cientistas que tentam estudar e compreender o recife.

Hoje em dia o recife recebe cerca de dois milhões de visitantes por ano. Mas Jones entende que o turismo não é a grande ameaça à Grande Barreira de Coral. O pior são as alterações climáticas, a má qualidade as águas e a atividade piscatória, que envolve herbicidas e pesticidas.

O aquecimento global tem levado à subida da temperatura e ao aumento do nível das águas do mar que “stressam” os corais.

Quando o coral fica stressado rejeita as algas e não se alimenta. É aí que se torna transparente e se pode ver o seu esqueleto de carbonato de cálcio, que faz com que o coral pareça branco e isso é o que chamamos de branqueamento de corais.

O branqueamento de corais acontece quando a temperatura da água sobe 1 grau centígrado durante pelo menos quatro semanas. Se durar mais de oito semanas, os corais começam a morrer. Alguns corais lidam melhor com a temperatura elevada da água do que outros pelo que analisar os seus fatores genéticos pode ajudar a salvar os corais.

A ciência está a investigar as bactérias que podem tolerar o stress térmico do aquecimento global”, termina Chris Jones.