Portugal colocou 700 milhões de euros em Obrigações do Tesouro a cinco anos, pagando uma taxa de 2,112%, que é mais alta registada neste prazo em leilões realizados este ano.

Este último leilão registou uma procura para 1.346 milhões de euros, que corresponde a quase o dobro da oferta. O IGCP (Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida), liderado por Cristina Casalinho, aceitou colocar 700 milhões de euros, perto o valor mais alto do intervalo de referência que era de 750 milhões de euros.

Em anteriores operações de venda de dívida a cinco anos realizadas este ano, o juro exigido pelos investidores tinha ficado abaixo dos 2%, de acordo com informação da agência Bloomberg. Na última colocação de títulos a cinco anos, que vencem em 2021, realizada em outubro passado, o juro foi de 1.7510%.

O secretário do Estado do Tesouro e Finanças, Mourinho Félix, afirmou que o leilão tinha obtido um “resultado aceitável”, tendo em linha de conta as condições de mercado nas últimas semanas. As opiniões entre os analistas dividem-se.

Entre o sobressalto, o esperado e o bem sucedido

Sobre o juro cobrado, o diretor de negociação do Banco Carregosa, admite que teve um “sobressalto” quando viu a taxa . Num comentário ao leilão, João Queiroz considera que foi “uma subida considerável de mais de 25 pontos base (mais de 0,25%) no espaço de um mês.” E conclui:

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“É notório que os investidores estão a exigir um prémio maior para comprar dívida portuguesa e foi isso que fez subir a taxa de hoje. Também talvez tenha sido por isso que o Tesouro decidiu não emitir o montante máximo previsto.”

Para este especialista, a evolução é explicada pelo “aumento da perceção dos investidores sobre o risco da dívida portuguesa. Apesar de não termos aumentado o risco face a Espanha ou Itália, a distância que nos separa das taxas alemãs está nos valores mais elevados do último mês (o spread face à Alemanha está nos 255 pontos)”

Já José Lagarto, gestor de ativos da corretora Orey Financial, considera que o leilão até foi bem sucedido, na atual conjuntura do mercado obrigacionista.

“Com um montante indicativo entre 500 e 750 milhões de erurs e uma taxa de cupão de 3,85% o IGCP conseguiu uma colocação de 700 milhões de euros com um rácio bid to cover (cobertura) de 1,92, ligeiramente inferior à da última emissão de 1,93. A yield média (taxa) desta emissão foi de 2,112%, um aumento de 36 pontos base face à anterior colocação.

Numa altura em que a tendência das taxas de juro a nível global é de subida, a colocação perto do máximo proposto a nível ligeiramente superior à anterior colocação, poderá ser encarada como bem sucedida”.

Tiago da Costa Cardoso, gestor da corretora XTB, destaca que esta ida de Portugal aos mercados foi “o primeiro leilão de mais longo prazo após a subida desenfreada a que temos assistido no mercado de dívida”.

“Como seria de esperar a ‘yield’ acabou por ser maior que no último leilão, tendo o IGCP conseguido colocar 700 milhões a uma ‘yield’ de 2.112%, uma forte subida face aos 1.751% anteriores. Este valor já era expectável, daí que esta seja provavelmente a última colocação de dívida de longo prazo do ano. Uma decisão sensata por parte do IGCP que deverá esperar que o mercado de divida arrefeça para conseguir melhores juros.

O analista sublinha ainda que também a Alemanha colocou esta quarta-feira dívida a 10 anos, registando uma ligeira subida das ‘yields’ para os 0,21%.

Esta operação realizou-se um dia depois de Portugal ter anunciado o pagamento antecipado de 2.000 milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional, um reembolso que foi justificado pelo Governo com o sucesso na colocação em mercado de Obrigações do Tesouro. No entanto, o leilão ocorreu num ambiente financeiro de penalização do mercado internacional de obrigações, um fenómeno que tem sido atribuído à vitória de Donald Trump nas presidenciais americanas

Este leilão, o último previsto para este ano, realiza-se dias depois dos juros da dívida portuguesa a longo prazo terem estado sob pressão dos investidores, com as taxas a atingir o valor mais alto desde fevereiro no mercado secundário. As taxas têm estado a aliviar desde o início da semana. Hoje o juro exigido pelos investidores pelas obrigações portuguesas estava a negociar nos 2,165% a cinco anos e nos 3,687% a dez anos.