A compra de dólares nas ruas de Luanda completou esta quinta-feira a quinta semana consecutiva sem alterações, mantendo-se nos 490 kwanzas (2,75 euros), o maior período de estabilidade de preços no mercado paralelo após as fortes subidas de junho.

A situação foi constatada pela agência Lusa numa ronda pelas ruas da capital angolana e é justificada pela falta de dólares e de moeda nacional no mercado, mas com o mercado paralelo a transacionar ainda muito acima do câmbio oficial.

As ‘kinguilas’ de Luanda, como são conhecidas as mulheres que se dedicam à compra e venda de divisas na rua, insistem que não há kwanzas no mercado, o que por sua vez trava a subida do preço do dólar.

Apesar deste período de estabilidade, que se regista desde praticamente o início de outubro, ninguém arrisca uma previsão para as próximas semanas, tendo em conta o período de Natal e as habituais viagens para o estrangeiro e correspondente aumento de procura de divisas.

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O preço praticado no mercado de rua de Luanda permaneceu próximo dos 600 kwanzas por cada dólar em agosto e julho, depois de máximos acima dos 630 kwanzas em junho, embora com pontuais flutuações semanais.

Na ronda semanal realizada esta quinta-feira pela Lusa, a venda de cada dólar estava fixa nos 490 kwanzas nos bairros de São Paulo, Mártires de Kifangondo, Maculusso e na Mutamba, ainda cerca de três vezes acima da taxa oficial de câmbio.

O chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para Angola, Ricardo Velloso, defendeu a 16 de novembro, em Luanda, após duas semanas de reuniões, anuais, com as autoridades angolanas, a necessidade de uma “flexibilidade na política cambial” angolana.

Para o economista brasileiro, em função da conjuntura angolana atual – crise provocada pela quebra nas receitas do petróleo e escassez de divisas -, são necessárias novas desvalorizações do kwanza.

“Não recomendámos um número específico e depende um pouco das políticas que dão apoio a essa política cambial mais flexível”, apontou o chefe da missão do Fundo para Angola.

Desde setembro de 2014, a moeda nacional angolana desvalorizou-se em mais de 40 por cento face ao dólar norte-americano, para 166 kwanzas por dólar, à taxa oficial, muito longe dos valores do mercado paralelo.

A inflação também se ressente e os preços a 12 meses ultrapassaram, segundo o Instituto Nacional de Estatística angolano, 40% de aumento, até outubro.

O Banco Nacional de Angola (BNA) informou na quarta-feira que vendeu aos bancos comerciais, na primeira quinzena de novembro, o equivalente a 739,3 milhões de dólares (700 milhões de euros) em divisas, “cobrindo as operações de caráter prioritário”.

Aos balcões dos bancos ainda persistem as dificuldades no acesso a divisas – devido à crise que afeta o país, decorrente da quebra nas receitas petrolíferas -, levando clientes a optarem pelo mercado de rua, apesar de taxas de câmbio, que são três vezes superiores à oficial.

São preços especulativos que, em muitos casos, como para os trabalhadores expatriados, é a única forma de ter acesso a divisas no atual contexto de crise económica, financeira e cambial.

O BNA revelou já em julho que está a trabalhar com os bancos comerciais numa “melhor programação na venda de divisas” para “repor de forma gradual, programada, organizada e prudente” as necessidades de todos os setores da economia.