O Presidente chinês, Xi Jinping, comprometeu-se esta quinta-feira a reforçar o livre comércio na Ásia Pacífico, depois de o Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, ter anunciado, no início desta semana, que vai abandonar o Acordo de Associação Transpacífico (TPP) no seu primeiro dia na Casa Branca.

Desta forma, o isolacionismo patente nos discursos de Donald Trump, Presidente eleito dos Estados Unidos, parece contrastar com a nova dinâmica da diplomacia chinesa, com Pequim a assumir agora a defesa do livre comércio e da globalização.

Xi, que realiza uma visita de Estado ao Chile, prometeu “impulsionar a construção de uma área de livre comércio na Ásia Pacífico e uma economia mundial aberta”. Na sua última paragem, num périplo de uma semana pela América Latina, Xi disse que acordou com a sua homóloga chilena, Michelle Bachelet, trabalhar numa “total relação estratégica”. Saiba que a América Latina é uma região conhecida por ser o “quintal” dos EUA.

Ambos concordaram reforçar o acordo de livre comércio já estabelecido entre os dois países e assinaram 12 acordos de cooperação.

“Para prosseguir com o desenvolvimentos dos laços a longo termo, decidimos elevar as nossas relações bilaterais para uma relação estratégica e abrir uma nova página nos laços entre a China e o Chile”, afirmou Xi em conferência de imprensa.

O Chile é o maior produtor de cobre do mundo e o segundo maior produtor de salmão. Por sua vez, a China é o principal parceiro comercial do país e destino de 25% das exportações chilenas no ano passado.

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Esta semana, Xi assinou ainda 18 novos acordos com o Peru e participou da cimeira dos líderes da APEC (Fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico), que teve como um dos principais temas a criação de uma área de livre comércio para a região.

Durante a cimeira, Xi lembrou que a globalização é “uma faca de dois gumes”, questionada por “muitas vozes” e instou a comunidade internacional a abordar seriamente estes “desafios”.

No Equador, que atravessa uma recessão, o líder da China inaugurou a maior barragem hidroelétrica do país, construída por uma firma chinesa e paga com parte dos quase oito mil milhões de dólares que Pequim emprestou ao país desde 2007.

A China tem acordos de livre comércio com Costa Rica, Chile e Peru e está a negociar novos acordos com o Uruguai e a Colômbia.

Em 2015, o país asiático ultrapassou os EUA como o principal investidor externo na América Latina.

O investimento direto chinês na região subiu no ano passado 67,1%, em termos homólogos, para 21,45 mil milhões de dólares, segundo dados do Ministério do Comércio da China.

A estratégia de Trump para a região inclui romper com o Tratado Norte-Americano de Comércio Livre (NAFTA) e abandonar o Acordo de Associação Transpacífico (TPP), para além de construir um muro na fronteira com o México.

“A China insiste que a globalização é um processo irreversível, para nós e para o mundo”, diz à agência Lusa Cui Shoujun, diretor do centro de estudos para a América Latina da Universidade Renmin, em Pequim.

“Histórica, geográfica e até politicamente, a América Latina é vista como o quintal dos EUA”, nota. “Mas agora estamos numa era global”, acrescenta.

Face ao anúncio de que Trump vai retirar os EUA do TPP, vários países voltam-se para tratados alternativos, nomeadamente o Acordo Integral Económico Regional (RCEP).

Esta zona de livre comércio incluiria a China, os dez países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), Austrália, Coreia do Sul, Índia, Japão e Nova Zelândia.

Esta semana, um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros afirmou que Pequim espera que as conversações para a criação do RCEP “possam produzir resultados em breve”.

No ano passado, Xi anunciou que, até 2025, o comércio bilateral entre a China e a América Latina alcançará os 500.000 milhões de dólares, enquanto o investimento chinês na região atingirá os 250.000 milhões.

“A China pode ajudar a América Latina a internacionalizar a sua economia”, defende Cui Shoujun.

“Partilhamos das mesmas aspirações com os países da região, de que enquanto nação em desenvolvimento, não estamos devidamente representados no novo milénio”, acrescenta.

Em entrevista à Lusa, o novo embaixador do Brasil em Pequim, Marcos Caramuru de Paiva, notou que a China “impõe-se naturalmente” e “força todo o mundo a adaptar-se a uma nova realidade”.

“Você precisa incorporar esta realidade e tentar extrair o melhor que puder”, disse, acrescentando: “Não adianta brigar com a realidade como ela é”.