Segundo dados da Associação de Apoio à Vítima (APAV), 22 387 vítimas de violência doméstica procuraram a associação para pedir apoio, entre 2013 e 2015. Destas, 35,7% fizeram-nos após calarem os abusos sofridos, em média, entre dois a seis anos.
Apesar do período de vitimação continuada ter vindo a decrescer, ainda existe uma parcela elevada de vítimas (15, 7%) que silenciam denúncias ao longo de 25 anos e até mais.
Daniel Cotrim, psicólogo da associação, afirmou ao Observador que se está perante uma mudança de paradigma e, cada vez mais, as vítimas estão dispostas a quebrar o ciclo de violência mais cedo. “Há dez anos não era estranho que as mulheres fossem vítimas ao longo de décadas e, muitas vezes, só depois de os filhos se tornarem independentes é que decidiam pôr termo à relação”, referiu, destacando que as campanhas de sensibilização têm contribuído para o esclarecimento de quem sofre este tipo de crime, ao mesmo tempo que impulsiona as queixas contra os agressores.
Segundo os dados da APAV, a maioria de vítimas de violência doméstica que procurou a associação são mulheres (85,46%), sobretudo casadas (35,1%), pertenciam a um tipo de família nuclear com filhos (43,9%) e a residência comum foi o local onde os crimes ocorreram com maior frequência (66,6%).
Por sua vez, o agressor é, maioritariamente, do sexo masculino (86%), com idade entre os 36 e os 45 anos.
Analisando o boletim estatístico da associação, divulgado esta quinta-feira, Daniel Cotrim destacou o aumento do número de mulheres mais jovens que se predispõem a denunciar os crimes. O psicólogo lembrou as campanhas de sensibilização, nomeadamente as que focam a violência no namoro, para contribuir para este fator. “Há mais informação e as vítimas estão a tomar consciência de que o risco é verdadeiro e que de repente os maus tratos psíquicos podem avançar para algo mais grave”, salientou.
O psicólogo acredita que se está no bom caminho para se combater as cifras negras do crime de violência doméstica, mas destaca a necessidade de um trabalho em rede entre organizações, polícias e tribunais para que as vítimas não se sintam desamparadas: “Quando nos procuram querem ver a sua situação resolvida no imediato. Temos de trabalhar o risco e o sistema tem de estar preparado para agir imediatamente de modo a não frustrar a vítima”.
Amanhã, dia 25 de novembro, assinala-se o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres.