Zero-zero e zero-zero. O Porto não ata nem desata. Em Chaves, 0-0 durante 120 minutos e depois três penáltis falhados no desempate inglório da 4.ª eliminatória da Taça de Portugal. Quatro dias depois, 0-0 em Copenhaga e adia-se o apuramento para os oitavos da Liga dos Campeões. Este sábado à noite (20h30), o Porto apresenta-se no Restelo para a 11.ª jornada do campeonato nacional. Vai um outro 0-0?

Huuuuuuum. Difícil, altamente improvável. O último de sempre no Restelo é ainda no século XX, mais precisamente em Outubro 1999. É para a 6.ª jornada e, curiosamente, também há um clássico entre Boavista e Sporting, só que em Alvalade (2-0, por Delfim e Acosta). No 0-0 do Restelo, o Belenenses é o de Vítor Oliveira e o Porto o de Fernando Santos. Na folha de serviço do árbitro Bruno Paixão, oito cartões amarelos e um vermelho, cortesia Peixe aos 76 minutos. Daí para cá, nenhum Belenenses-Porto sem golos. É hoje?

Huuuuuuum. Se isso acontecer, o Porto acumula três jogos seguidos com 0-0. É inédito? Nem por isso, a última vez é (imagine-se) na era Mourinho, em Abril 2004. Zero-zero vs Nacional, na Madeira. Zero-zero vs Beira-Mar, em Aveiro. Zero-zero vs Deportivo, no Dragão, para a 1.ª mão das meias-finais da Liga dos Campeões. E antes disso? Braga, Benfica e Tottenham em Outubro/Novembro 1991 na era Carlos Alberto Silva. E antes? Varzim, Boavista e Sporting em Outubro/Novembro 1978 na era José Maria Pedroto. Em todos esses três casos, o Porto é campeão nacional nessas épocas. Amazing. É para repetir em 2016-17?

Huuuuuuum. Só se o Porto se endireitar, porque isto de só jogar bem de vez em quando é fatal para um candidato ao título. Adiante no mundo dos ses. E se o Belenenses fizesse jus ao factor casa? Huuuuuuuuuum, isso é démodè. A última vez é de Março 2002. Primeiro é o Sporting, em Agosto (3-0). Segue-se o Benfica, em Setembro (1-1). Só falta o FC Porto cair no Restelo. É o triste fado dos grandes, intranquilos como nunca. Este Belenenses de Marinho Peres versão 2001-02 não está para brincadeiras e bate o pé a seja a quem for. Então e se o onze adversário começar em Baía e acabar em McCarthy? Nada a temer, o Belenenses vai entrar destemido, cheio de fé e de olho na vitória. E se o treinador dessa equipa se chamar José Mourinho? Carregaaaaaa Belenenses.

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Os portistas entram mal, desorientados, arruaceiros. Aos 19 minutos, Capucho agride Wilson com uma cotovelada sem bola. É vermelho directo. João Ferreira nem vê o lance. Aos 22’, ironia das ironias: Capucho aproveita uma má saída de Marco Aurélio dos postes para fazer um chapéus dos dele e é golo quase certo; na linha, Wilson faz o corte e adia o golo. Que só se festeja na outra baliza. César Peixoto marca o canto ao primeiro poste, Secretário falha a intercepção e a bola bate em Verona antes de entrar. Até final da primeira parte, só mais um lance digno de registo com remate estrondoso de McCarthy superiormente defendido por Marco Aurélio para canto.

Mourinho faz entrar Deco mais Postiga de uma assentada e o Belenenses nem nota. O Porto ataca pouco e mal. Na defesa, é uma sucessão de equívocos com Baía a meter água a jogar com os pés. Rui Duarte é que não aproveita o deslize e atira muito por cima. No fundo, no fundo, é o aviso para o que aí vem. Aos 74 minutos, César Peixoto, de 21 anos e contratado no Verão anterior ao Caçadores das Taipas, da 3ª divisão, recebe uma bola de Marco Paulo, dá um toque, dois, três e aqui vai disto. O remate com o pé esquerdo é portentoso, indefensável. A bola entra no ângulo superior, é o golo da jornada. Há dúvidas? Não há nem pode haver. Já perto do fim, Baía falha novamente com os pés no limite da sua área e Cafú avança até à baliza deserta para o 3-0. Que abada. Marinho Peres é o homem mais calmo do planeta. “Há dias em que saímos de casa e somos atropelados, há outros em que jogamos de olhos fechados na lotaria e ganhamos.” Mourinho, esse, dá os parabéns ao Belenenses e ainda deixa um recado. “Este é o pior Porto dos últimos 26 anos.”