Se Portugal ganhasse à Espanha em Donetsk, avançaria para a final. Se Portugal ganhasse à Itália em Kiev, o Euro-2012 seria nosso. Se Portugal levantasse o caneco, qualificar-se-ia para a Taça das Confederações. A conversa dos ses é adiada por quatro anos mais. Em França, a seleção de Fernando Santos consegue o improvável, com três empates na fase de grupos. Na fase a eliminar, arruma Croácia no prolongamento, Polónia nos penáltis mais Gales no tempo regulamentar até derrubar o anfitrião em Saint-Denis, com aquele golo de Éder aos 109 minutos, e selar o carimbo para a Taça das Confederações-2017, na Rússia.

Pois bem, eis Portugal no sorteio deste sábado, em Kazan. E no pote 1, como oitavo classificado no ranking da FIFA em Novembro. Quantos são, quantos são? Também no pote 1, Rússia, Alemanha e Chile. Um deles é nosso adversário na primeira fase: grupo A ou grupo B, eis a questão. No pote 2, México, Austrália, Nova Zelândia e um representante africano a definir só em fevereiro. Aqui, apanhamos dois. Venham eles.

De 17 junho a 2 julho, quatro cidades russas (São Petersburgo, onde se joga a abertura e a final, Moscovo, Kazan mais Sochi) recebem o evento organizado pela FIFA desde 1997, mas a ideia, essa, é de Fahd bin Abdul Aziz Al-Saud. Quem? O Fahd, vá. Sexto filho dos 40 do Rei Ibn Saud, fundador da moeda moderna na Arábia Saudita em 1932, é nomeado ministro da Educação em 1953, aos 33 anos de idade. É Fahd que abre a escola pública às mulheres e introduz o ensino das ciências da natureza. Com a destituição do pai Saud em 1964 e o assassínio do irmão mais velho Faisal em 1975, Fahd assume o reinado em 1982. Reforma as forças armadas, a economia e também o desporto. Entra no mundo da FIFA e ganha o concurso do Mundial sub-20 em 1989, conquistado por Portugal de Queiroz, Nelo Vingada e outras figuras. Três anos depois, inventa a Taça Rei Fahd, agora Taça das Confederações.

Arábia Saudita — 1992

O rei convida quatro seleções e paga tudo (viagem e alojamento), até aos árbitros. “Foi uma loucura”, descreve Alberto Acosta, avançado argentino, campeão pelo Sporting em 2000. “Aquilo era um mundo novo, tudo muito ordeiro e limpo, notava-se a circulação de dinheiro vivo nas ruas com os grandes carros e roupas de marca. Nos estádios, havia imensas pessoas [média de 42 mil].”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Quatro seleções campeãs continentais em Riade no mês de outubro: Argentina (América do Sul), EUA (Concacaf), Arábia Saudita (Ásia) e Costa do Marfim (África). Falta a Dinamarca (Europa). É o sistema de meias-finais, terceiro e quarto lugares, final. Ganha a Argentina, fácil. “Quatro-zero à Costa do Marfim, três-um à Arábia Saudita. Na altura, jogava no Boca Juniors e tinha marcado golos em três superclássicos [com o River Plate], pelo que merecia a confiança do selecionador, Alfio Basile (Coco). Um grande senhor. Sabe muito de futebol e trata bem o jogador. Com ele sempre ganhámos. Além dessa Taça das Confederações, ainda a Copa América-93. Aliás, fiz 19 jogos pela Argentina, todos com o Coco, e não perdi nenhum. Bom, nessa aventura de Riade, era suplente de Caniggia e Batistuta. Ainda assim, marquei o 4-0 à Costa do Marfim.”

Arábia Saudita — 1995

Três anos mais tarde, o rei organiza outra taça, agora com seis seleções. Argentina (campeã da Copa América) e Arábia Saudita (anfitriã) repetem a presença. Os novatos: Dinamarca (campeã europeia), Japão (Ásia), México (Concacaf) e Nigéria (África).

Acosta já não entra aqui, e sim Amunike. O então sportinguista assina o 1-0 sobre o Japão e falha a grande penalidade que permite a medalha de bronze do México no desempate após um empate a um golo. O ouro é para a Dinamarca dos irmãos Laudrup. Na final com a Argentina de Passarella, o mais velho (Michael) faz o 1-0 e o mais novo (Brian) assiste Rasmussen para o 2-0. Finalmente juntos, depois de Michael ter abdicado do surpreendente Euro-92 por desavenças com Richard Möller Nielsen, o seleccionador então em funções.

Arábia Saudita — 1997

Aparece a FIFA para dar o cunho oficial, formata-se para oito seleções (a campeã europeia Alemanha desiste e dá a vaga à vice República Checa) e a Arábia Saudita continua a organizar.

Dois grupos de quatro, meias-finais, terceiro/quarto lugares e no fim goleia o Brasil: 6-0 à Austrália, com 3-0 ao intervalo mais hat-tricks de Romário e Ronaldo fenómeno. A canarinha é a primeira equipa a juntar Taça das Confederações ao Mundial (1994) e Copa América (1997).

México — 1999

Bienvenidos a México. O novo país organizador estende o torneio por três cidades, só que a de Monterrey é vetada à última hora porque o estádio tem o patrocínio de uma companhia de cerveja rival da que patrocina a FIFA.

O Brasil chega novamente à final, depois de bater a Alemanha (4-0, fase de grupos) e Arábia Saudita (8-2, nas meias). Ronaldinho Gaúcho, número 7 (o 10 é Alex do Cruzeiro), marca em todos os jogos, menos na final, ganha 4-3 pelos anfitriões. A Alemanha de Ribbeck e Matthäus perde também para os EUA e está a caminho do fundo do poço, só lhe falta aquele (tri)empurrão de Sérgio Conceição no Europeu do ano seguinte.

Coreia do Sul/ Japão — 2001

Pela primeira vez, a FIFA utiliza o evento para ensaiar o Mundial do ano seguinte. Com um golo de Patrick Vieira na final com o anfitrião Japão (1-0), a França imita o Brasil de 1997 e também junta a Taça das Confederações ao Mundial (1998) e Europeu (2000).

A Austrália é a revelação do torneio com vitórias sobre França na fase de grupos (1-0) e Brasil no terceiro/quarto lugares (1-0), além de proporcionar o despedimento do selecionador Emerson Leão. Entraria Luiz Felipe Scolari e o Brasil voltaria ao Japão para levantar a Taça do Mundo.

França — 2003

Campeã em título, a França retém o título a jogar em casa. Com muita dor. A morte por paragem cardíaca do camaronês Marc-Vivien Foé, de 28 anos, durante a segunda parte da meia-final com a Colômbia abala a estrutura do futebol.

A seleção camaronesa toma a decisão de jogar a final, resolvida com um golo de Henry no prolongamento. Para levantar a taça, o capitão francês Marcel Desailly junta-se aos companheiros e aos africanos para uma sentida homenagem a Foé. Como curiosidade, uma seleção europeia volta a resgatar a medalha de bronze depois da República Checa em 1997: é a Turquia (2-1 à Colômbia, após eliminar o Brasil na fase de grupos). Bola extra: Lucílio Baptista é a presença inédita de um português no apito, com dois jogos (França-Colômbia 1-0, Brasil-EUA 1-0).

Alemanha — 2005

Agora sim, é definitivo: a Taça das Confederações realiza-se um ano antes de cada Mundial. Na Alemanha, show de bola do Brasil com 3-2 à anfitriã na meia-final e 4-1 à Argentina na decisão, com Adriano insuperável ao lado do capitão Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Robinho. No dia seguinte à goleada, o jornal argentino “Olé” faz uma humorística primeira página: “Por razões técnicas, não podemos imprimir a manchete. Até amanhã.”

https://www.youtube.com/watch?v=7qstdRUaYdM

Da Grécia de Rehhagel, campeã europeia à custa de Portugal no ano anterior, nem um golo para amostra: 3-0 do Brasil, 1-0 do Japão e 0-0 com o México.

África do Sul — 2009

A perder 2-0 ao intervalo com os EUA, o Brasil dá a volta à surpreendente final de Joanesburgo com um bis de Luís Fabiano e o 3-2 de Lúcio aos 84 minutos.

Sem um golo sofrido na fase de grupos, a campeã europeia Espanha tropeça precisamente com os EUA (2-0 nas meias-finais) e coloca um ponto final na invencibilidade de 35 jogos e 933 dias, desde o 1-0 da Roménia num particular em Novembro 2006. No ano seguinte, outro galo cantaria.

Brasil — 2013

Brasil, Espanha e Itália, os repetentes de 2009. A eles, juntam-se Japão, México, Uruguai, Nigéria e Taiti, a única estreante. Vencedor da Taça da Oceânia (1-0 à Nova Caledónia), o Taiti é um grupo de amadores a quem lhe sai a sorte grande de visitar o Brasil. E que tal? O Taiti diverte-se à grande, fora do relvado. Lá dentro, apanha 6-1 da Nigéria, 10-0 da Espanha e 8-0 do Uruguai (num jogo apitado por Pedro Proença).

Na final, o Brasil de Scolari dá água pela barba à Espanha à conta dos golos de Fred, Neymar e Fred. Na baliza do campeão, Júlio César (ainda no QPR, a um passo do Benfica). Na baliza do vice, Iker Casillas (ainda no Real Madrid, a um pasito do Porto).