A posição da direcção soviética face à tomada do poder por Fidel Castro em Cuba não foi de imediato apoio. Nikita Krutschov, à altura secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, olhou com desconfiança para a revolução de jovens barbudos, tanto mais que estes não gozavam do apoio do Partido Comunista de Cuba e não eram muito claras as suas intenções políticas.

A URSS de Estaline tinha cortado as relações diplomáticas com a ditadura de Baptista em 1952 e voltou a restabelecer os laços diplomáticps com Cuba após a conquista do poder por Fidel Castro em 1960 e já depois da morte do ditador soviético. Porém, o Kremlin virou-se mais seriamente para Cuba quando os Estados Unidos tentaram derrubar Fidel através do desembarque de mercenários na Praia dos Porcos, em Abril de 1961. Em Maio do mesmo ano, o dirigente cubano proclama abertamente a opção pela “via socialista de desenvolvimento e é precisamente este factor que irá definir as relações entre Cuba e a União Soviética.

À medida que aumenta o embargo norte-americano, cresce o número de engenheiros, médicos, conselheiros militares e outros especialistas soviéticos que são enviados para a “Ilha da Liberdade”. A justificação era evitar novas tentativas de derrubar o “primeiro regime socialista no hemisfério ocidental”, mas, na realidade, o Kremlin não podia perder a possibilidade de possuir um “submarino inafundável” a poucos quilómetros do seu principal adversário na guerra fria: os Estados Unidos da América.

Em 1962, Raúl Castro visita Moscovo, onde é recebido por Nikita Khrutschov, o sucessor de Estaline à frente da URSS. Durante o encontro eles acordaram, a fim de evitar novas invasões norte-americanas, instalar em Cuba mísseis de médio alcance com ogivas nucleares. A reacção dos norte-americanos a esse passo provocou uma série crise nas relações entre Washington e Moscovo, que por pouco não descambou num confronto nuclear. O potencial poder destruição das armas nucleares era tão grande que obrigou os dirigentes das duas grandes super-potências a chegarem a um acordo. Khrutschov aceitou retirar os mísseis soviéticos da ilha enquanto que John Kennedy comprometia-se a retirar os mísseis norte-americanos instalados na Turquia, país que fazia fronteira com a URSS, e a não invadir Cuba.

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Este acordo foi recebido com alívio pela comunidade internacional, mas os dirigentes cubanos ficaram ofendidos pelos seus camaradas soviéticos não os terem consultado sobre esse acordo. Em Cuba surgiu a frase: Nikita, Nikita, lo que se dá, non se quitá”.

Porém, Fidel não tinha outras alternativas para se manter no poder, pois a ajuda financeira, económica e política da URSS era fundamental para a sobrevivência do regime cubano. Por outro lado, os comunistas soviéticos tinham em Cuba um aliado importante para penetrar nos países do chamado Terceiro Mundo.

Angola, Etiópia e por aí além

Foi no campo desta política que as tropas cubanas foram enviadas, por exemplo, para a Etiópia e Angola. Porém, é de ressalvar que a intervenção armada de Cuba em Angola em 1975, essencial para salvar o regime do MPLA e de Agostinho Neto, foi decidida sem o consentimento do Kremlin. Moscovo recebeu a notícia do envio de militares cubanos para a antiga colónia portuguesa através do seu embaixador na Guiné-Conacri, quando os aviões cubanos já sobrevoavam o Atlântico. Fidel receava que as autoridades soviéticas não dessem luz verde a essa operação antes da proclamação da independência de Angola, a tempo de travar as tropas sul-africanas e da UNITA que avançavam sobre Luanda. Os comunistas soviéticos acabaram por aceitar esse facto consumado, que levou a que a URSS chamasse a si os custos económicos da guerra em Angola.

A propósito, a cooperação com a União Soviética quase transformou a ilha numa grande monocultura de açúcar, o principal produto de exportação cubana.

As relações entre a URSS e Cuba começaram a mudar rapidamente com a subida de Mikhail Gorbatchov ao poder em Março de 1985, acelerando à medida que o secretário-geral do Partido Comunista da URSS aprofundava a sua política de reformas internas e de desanuviamento no campo internacional.

Desde o início que Fidel Castro olhou com desconfiança e cepticismo para a política de “perestroika” (“reconstrução”) e “glasnosti (“transparência), proibindo em Cuba a venda de alguns jornais e revistas soviéticas. Segundo recorda Boris Ieltsine, o dirigente cubano teria manifestado apoio a este na sua luta contra Gorbatchov, mas, como mostraram os acontecimentos, Fidel enganou-se redondamente.

Em 1989, Gorbatchov visita Cuba num momento em que o seu próprio país atravessava graves problemas económicos, sociais e políticos, que levaram o dirigente soviético a reduzir fortemente a ajuda ao regime de Fidel.

Nos anos 90, Boris Ieltsin, então Presidente da Rússia, continuou essa política, retirando de Cuba grande parte dos militares russos aí aquartelados. No entanto, é Vladimir Putin que, em 2003, ordena o encerramento da base de espionagem electrónica em Lurdez, que dava a Havana mais de 200 milhões de euros por ano. A título de exemplo, o enfraquecimento dos laços económicos entre Cuba, por um lado, e a Rússia e outros países do espaço post-soviético, por outro, provocou, entre 1990 e 1993, uma queda de 33% do PIB, levando alguns analistas a considerar que a queda do regime comunista cubano estaria para breve.

Porém, Havana soube encontrar parceiros que permitissem manter vivo o regime, sendo aqui importante salientar o apoio da Venezuela de Hugo Chavez, principalmente no que diz respeito ao fornecimento de petróleo.

Com a chegada de Vladimir Putin ao poder na Rússia, em 2000, dá-se um novo incremento às relações russo-cubanas em numerosas esferas. Em 2014, o Presidente russo visita Cuba, pouco antes disso, perdoou 90% da dívida cubana à URSS, que constituía cerca de 30 mil milhões de dólares, e foram assinados vários acordos de cooperação em diferentes áreas. No contexto da actual política externa do Kremlin, são cada vez mais as notícias de que os russos poderão regressar à base de Lurdez. Muito irá depender da forma como se desenvolver o diálogo entre Raúl Castro e o Presidente eleito dos Estados Unidos, Ronald Trump. Caso não melhorem as relações entre a Rússia e os Estados Unidos e Washington decida regredir na politica de abertura face a Cuba, iniciada por Obama, os contactos entre Moscovo e Havana poderão conhecer uma nova era.

Claro que muito também dependerá da evolução da política interna de Cuba depois da morte de Fidel Castro.