François Fillon é o vencedor das primárias francesas do centro-direita às eleições presidenciais de abril. Poucos minutos depois das urnas terem fechado, ao final da tarde deste domingo, os primeiros resultados apontaram logo para uma larga vitória do ex-primeiro-ministro francês, nesta que foi a segunda volta das eleições primárias do partido Les Républicains. Agora, com os votos já praticamente todos contados, a larga margem de diferença para o rival Alain Juppé confirma-se. Fillon, que foi primeiro-ministro durante os cinco anos da presidência de Nicolas Sarkozy, é assim o escolhido dos conservadores para as presidenciais, onde vai defrontar a candidata da extrema-direita Marine Le Pen.

Nas 10.008 mesas (de um total de 10.229 mesas) onde os votos já foram contados, Fillon alcançou 66,5% dos votos, enquanto Alain Juppé apenas conseguiu convencer 33,5% do eleitorado.

No discurso de vitória, François Fillon disse que alcançou “uma vitória de fundo baseada em convicções”. “Há três anos que traço o meu caminho ouvindo os franceses, com o meu projeto e com os meus valores. A minha iniciativa foi compreendida, a França não suporta o seu abandono. A França quer a verdade e a França quer atos”, declarou Fillon, colhendo vários aplausos da plateia.

“Este quinquenato que ora termina foi patético. Há que lhe pôr termo e recomeçar como nunca o fizemos, há já 30 anos. François Hollande denegriu a função presidencial e há que restaurá-la”, acrescentou o vencedor das primárias de centro-direita, lançando críticas a Hollande e prometendo exercer o cargo “com dignidade”.

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Também Alain Juppé, 71 anos, que também já foi primeiro-ministro francês e é atualmente presidente da câmara de Bordéus, reconheceu a “larga vitória” de Fillon, felicitando-o. “Desejo-lhe boa sorte para a sua próxima campanha presidencial e que ganhe em maio”, rematou.

Agradecendo a quem votou nele, Juppé disse que “termina a campanha como começou”: “um homem livre, que não transigiu nem com o que é, nem com o que pensa”.

François Fillon conquista assim a nomeação do centro-direita para as presidenciais e vai ter a tarefa de defrontar não só o candidato das esquerdas, que sairá das primárias de janeiro, mas sobretudo a líder da extrema-direita francesa Marine Le Pen, que está a ser apontada como favorita na primeira volta das presidenciais, que se joga a 23 de abril. A segunda volta disputa-se em maio.

Fillon, 62 anos, é católico e liberal, e considerado um candidato mais “radical” e “tradicionalista”. Defende que o aborto “não é um direito fundamental”, embora não tencione mudar a lei que já está em vigor em França há vários anos, e que os emigrantes que chegam a França devem “assimilar a herança” e os valores do país que os acolhe.

Em termos de política económica, Fillon considera-se um “liberal social”, sendo um assumido admirador da britânica Margaret Thatcher e da sua rígida política económica, mas defendendo ao mesmo tempo medidas como a redução do número de funcionários públicos.

Mal começaram a sair os primeiros resultados, na sede de campanha de François Fillon, houve uma “explosão de alegria”, enquanto na sede do adversário se fazia notar um “silêncio” constrangedor:

Segundo o jornal francês Le Monde a participação eleitoral aumentou ainda mais face à primeira volta, na semana passada, que já teve um registo de participação muito alto: 4,3 milhões de eleitores. Até à 00h25, e a faltar contar os votos em apenas 221 de 10.229 meses, já estavam contabilizados 4.299.861 votos.

Na primeira volta da corrida, Fillon foi o mais votado dos candidatos do centro-direita, com 44,1% dos votos, tendo Juppé ficado em segundo, com 28,6%, e o ex-Presidente Nicolas Sarkozy em terceiro, com 20,7%. A fraca votação de Sarkozy levou-o a retirar-se da corrida e a declarar o seu apoio a François Fillon, por, disse, ter um programa mais parecido com o seu. Na quinta-feira, Fillon foi considerado o vencedor do último debate televisivo entre os dois candidatos, que discutiram temas considerados sensíveis, como o aborto ou o casamento homossexual, assim como a política externa — tema que está no topo das preocupações da generalidade dos franceses.

Para os eleitores franceses poderem votar no sufrágio dos republicanos tiveram de pagar 2 euros e confirmar que partilham dos “valores republicanos da direita e do centro”. Antes de arrancarem as primárias, a organização estimava que teriam uma despesa avaliada entre 6 a 9 milhões de euros, mas com a inscrição a valer 2 euros, já estão a ter lucro. É que só na primeira volta, com uma participação surpreendente de mais de 4 milhões de eleitores, o partido arrecadou 8,6 milhões de euros. Um valor que deverá mais do que duplicar no final das duas voltas, já que a participação no sufrágio deste domingo terá sido ainda maior.