No documento, assinado pelo presidente do partido, Luís Araújo e ao qual a agência Lusa teve acesso, pode ler-se que o Presidente “usou a sua autoridade hierárquica para constranger o ministro da Cultura a praticar a conduta inconstitucional e ilegal, em virtude de um interesse pessoal de seu articulador político, Geddel Vieira Lima”.

A 18 de novembro, Marcelo Calero decidiu sair do Ministério da Cultura, porque Geddel Vieira Lima teria tentado pressioná-lo a aprovar um empreendimento imobiliário embargado pelo Instituto de Património Histórico e Artístico Nacional.

Segundo Marcelo Calero, o então ministro da Secretaria de Governo tinha interesse pessoal na obra, porque comprou um dos apartamentos que seriam construídos no local.

Na sexta-feira, o ministro da Secretaria de Governo apresentou o seu pedido de demissão, alegando que não conseguia resistir mais às críticas.

Na semana passada, Marcelo Calero também acusou, em depoimento à Polícia Federal, Michel Temer de “enquadrá-lo” para favorecer interesses pessoais de Geddel Vieira Lima.

Entretanto, uma fonte do Partido dos Trabalhadores (PT) disse à agência Lusa que deputados do partido vão apresentar ainda hoje na Procuradoria-Geral da República (PGR) um “pedido de afastamento”, que, se for aceite, levará as autoridades a investigar a conduta do Presidente.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Além disso, confirmou a mesma fonte, o partido está a trabalhar para que movimentos sociais e juristas apresentem esta semana um pedido de “impeachment”, isto porque, se forem os deputados a apresenta-lo, não poderão votar o requerimento.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a quem cabe aceitar os pedidos de “impeachment”, disse na semana passada, à GloboNews, que não vê motivos para iniciar um processo dessa natureza.

Entretanto, em entrevista ao programa televisivo Fantástico domingo, Marcelo Calero confirmou que gravou apenas uma conversa telefónica burocrática com o Presidente.

Horas antes, em conferência de imprensa, Michel Temer considerou “indigno” e “gravíssimo” que um ministro grave conversas com um Presidente, adiantando que está a ponderar pedir ao Gabinete de Segurança Institucional que grave todas as audiências do chefe de Estado.

O Presidente espera que os áudios sejam divulgados, para mostrar que estava apenas a tentar arbitrar conflitos entre órgãos diferentes.