Uma televisão marroquina transmitiu na semana passada, num programa da manhã, um segmento em que a apresentadora dava conselhos de maquilhagem destinados a “camuflar vestígios de violência”. Tratava-se de uma emissão especial a propósito do Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres e a maquilhadora, Lilia Mouline, deu algumas dicas para ajudar as vítimas de violência “a seguirem com as suas vidas”.
Recorrendo a uma modelo que apresentava marcas semelhantes a nódoas negras e outros sinais de agressões, a maquilhadora aplicou diversas técnicas. “Certifiquem-se que fixam a maquilhagem, porque se tiverem de trabalhar o resto do dia as feridas não se veem”, disse Lilia Mouline. “Mostrámos alguns truques para se maquilharem, continuar com a vossa vida e ir trabalhar sem preocupações”, acrescentou no fim.
https://www.youtube.com/watch?v=9bak1AP8EV8
A emissão gerou muitas críticas de telespectadores e de utilizadores das redes sociais, que não gostaram que a estação 2M tenha optado por transmitir este tipo de conselhos em vez de condenar os agressores e incentivar à mudança de comportamentos. Foi mesmo lançada uma petição online, já com quase duas mil assinaturas, a criticar a “mensagem de normalização da violência contra as mulheres” e a exigir à Alta Autoridade das Comunicações Audiovisuais (uma congénere da ERC portuguesa) que “aja contra a 2M”.
Dois dias depois do programa, a estação de televisão emitiu um comunicado no Facebook em que declara que “esta rubrica é completamente inapropriada e deriva de um erro de apreciação editorial”. A 2M acrescenta que “esta abordagem é totalmente contraditória à linha editorial da estação” e “apresenta as suas desculpas mais sinceras” pelo sucedido.
Lilia Mouline disse no programa que a violência doméstica é uma realidade “desoladora” que “infelizmente existe”. Já depois das queixas, a maquilhadora disse ao jornal marroquino Yabiladi que “não aprova este tipo de situações” e lamentou a polémica. “Fizemos isto para tentar dar soluções às pobres mulheres que deixam a vida social de lado durante um período de duas ou três semanas, o tempo que as feridas demoram a desaparecer. Essas mulheres já foram submetidas a uma humilhação moral e não precisam de se submeter ao olhar dos outros”, disse Lilia Mouline.
“Francamente, se eu puder devolver a moral a uma mulher que já sofreu uma humilhação e ajudá-la a que ela passe por esse período, não hesitarei”, acrescentou a maquilhadora.