A arte da falcoaria em Portugal foi eleita, esta quinta-feira, Património Cultural Imaterial da UNESCO. A decisão foi tomada durante a 11ª reunião do Comité para a Salvaguarda do Património Cultural em Adis Abeba, na Etiópia. A classificação estava prevista para quarta-feira, mas a resolução foi adiada para esta manhã.

A falcoaria portuguesa junta-se assim aos 13 países onde a prática já é reconhecida como Património da Imaterial Humanidade. O anúncio acontece dois dias depois de a Olaria Negra de Bisalhães, em Vila Real, também ter passado a integrar a lista de Património Imaterial do organismo.

A candidatura foi apresentada em 2015 pela Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, no distrito de Santarém, em parceria com a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, a Universidade de Évora e a Associação Portuguesa de Falcoaria.

Uma das mais antigas relações entre homem e ave

Na candidatura apresentada pelo município, é referido que a falcoaria constitui “uma das mais antigas relações entre o homem e a ave”. Uma tradição com mais de quatro mil anos de história, foi a prática da falcoaria que levou a família real portuguesa a passar longos períodos no concelho de Salvaterra de Magos, zona privilegiada para a caça. No século XVIII, D. José I mandado construir a Falcoaria Real, que se tornou “local de encontro de falcoeiros oriundos de vários pontos da Europa”.

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De arquitetura pombalina e com influências da falcoaria holandesa, o edifício, projetado pelo arquiteto Carlos Mardel, é considerado um “exemplar único na Península Ibérica”. Foi resgatado da ruína pelo anterior executivo municipal, liderado por Ana Cristina Ribeiro, do Bloco de Esquerda, funcionando desde 2009 como “museu vivo”.

O atual executivo, presidido por Hélder Esménio, do Partido Socialista (PS), registou em 2014 a marca “Salvaterra de Magos — Capital Nacional da Falcoaria” e deu continuidade ao projeto de candidatura a Património da Humanidade, que agora foi aprovado. Antes da classificação, o presidente da câmara, que se deslocou a Adis Abeba, disse acreditar que o reconhecimento internacional iria dar visibilidade a um património que “orgulha” os salvaterrenses, atraindo não só visitantes ao território, mas também investigadores e estudiosos.

Para o presidente da Associação Portuguesa de Falcoaria, Pedro Afonso, o reconhecimento da falcoaria portuguesa é “determinante” para que a prática não desapareça. Pedro Afonso espera que haja agora uma maior sensibilidade para resolver questões como o acesso dos falcoeiros às zonas de caça e a redução da burocracia, nomeadamente no registo das aves.

Pedro Afonso lembrou que a falcoaria, praticada em todo o país por uma centena de falcoeiros, se rege desde sempre por princípios como o respeito pelas aves, que mantêm as suas características selvagens, pelo ambiente, pela presa capturada e pela prevalência da beleza do lance de caça em plena natureza, o que faz com que este seja um método de caça “ecológico”, com muito poucas presas, realçando ainda a parceria que se estabelece entre o falcoeiro e o animal.