O Governo recebeu “com agrado” a decisão da UNESCO de classificar a olaria negra de Bisalhães e a falcoaria portuguesa como Património Imaterial da Humanidade, disse à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que destacou a “responsabilidade adicional” na sua preservação. “O Governo vê [as distinções] com agrado e com a consciência da responsabilidade adicional que estas classificações trazem”, afirmou o chefe da diplomacia portuguesa.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) aprovou esta semana as candidaturas do “processo de confeção do barro preto de Bisalhães” — apresentada pelo município de Vila Real — e da “Falcoaria, património vivo da humanidade” — liderada pela Câmara Municipal de Salvaterra de Magos — durante a 11ª sessão do Comité do Património Cultural Imaterial, em Adis Abeba, na Etiópia.

Estes foram o quinto e sexto bens portugueses a serem classificados como património imaterial da Humanidade, respetivamente, seguindo-se ao fado (o primeiro bem de Portugal a integrar esta lista, em 2011), à dieta mediterrânea, ao cante alentejano e ao processo de fabrico do chocalho.

O barro de Bisalhães integra a lista do Património Cultural Imaterial que Necessita de Salvaguarda Urgente, “devido ao escasso número de artesãos que ainda se dedicam a esta atividade, pondo em risco a continuação desta arte”, tal como o caso do chocalho, notou o Ministério dos Negócios Estrangeiros em comunicado. Uma classificação que, sublinhou o ministro, acarreta “responsabilidades específicas na preservação destas artes”.

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A integração de bens portugueses nas listas de património da Humanidade tem, sublinhou Santos Silva, “vários efeitos positivos”. “Tem o efeito de aumentar a nossa consciência e responsabilidade na salvaguarda, preservação, divulgação e fruição dos bens culturais classificados. Tem um de valorização da nossa identidade, seja local, regional ou nacional. Significa o reconhecimento internacional da valia das artes, maneiras de ser, objetos e conjuntos arquitetónicos que simbolizam o nosso património, a nossa herança e, portanto, estruturam a nossa identidade”, destacou.

Por outro lado, permite a mobilização da sociedade civil, autoridades e instituições locais em redor desses traços patrimoniais, apontou. Santos Silva sublinhou ainda o “efeito económico”, referindo que o turismo cultural é um dos elementos mais importantes do turismo e a “valorização de bens culturais portugueses é um fator mais de atração de visitantes”.

No caso da loiça preta de Bisalhães, fabricada inicialmente essencialmente com fins utilitários e atualmente utilizada também para fins decorativos, o Ministério lembrou que é “parte importante da identidade desta pequena localidade”. “Os barros pretos de Bisalhães ainda hoje são produzidos segundo técnicas ancestrais, designadamente no que se refere à cozedura em fornos ao ar livre, escavados na terra, conferindo assim a esta louça a sua cor distintiva”, afirma a nota.

Quanto à falcoaria, o Ministério dos Negócios Estrangeiros lembra que esta manifestação havia sido anteriormente inscrita pelos Emirados Árabes Unidos, Áustria, Bélgica, República Checa, França, Hungria, República da Coreia, Mongólia, Marrocos, Qatar, Arábia Saudita, Espanha e Síria, a que se juntaram Alemanha, Cazaquistão, Itália, Paquistão e Portugal.

“Originalmente um meio de obtenção de alimentos, a prática da falcoaria tem evoluído ao longo do tempo e, atualmente, encontra-se associada à conservação da natureza. Seguindo o seu próprio conjunto de tradições e princípios éticos, os falcoeiros criam e treinam as aves de rapina, designadamente falcões e águias, entre outros. A prática, presente em muitos países em todo o mundo, pode variar em relação a determinados aspetos, como por exemplo o tipo de equipamento utilizado, mas os métodos permanecem similares”, sublinha.