Esteve quase a dar “galo”. Que é como quem diz, empate. A zero. Pela quinta vez seguida. Mas desta vez, empatasse ou não, o FC Porto fez de tudo para vencer. Rematou, rematou muito, mais de uma dezena de vezes, o SC Braga nem por uma vez o conseguiu fazer, mas Marafona (isto quando não era o FC Porto a desperdiçar, claro) foi adiando a vitória com defesas, umas atrás das outras, cada uma melhor que a outra.

Tinham certamente molas. É que ninguém consiga estar sentado no banco do FC Porto. E nas bancadas nem se fala. Chegados que estavam os 90′ e o fim do jogo, o árbitro Carlos Xistra deu outros sete a mais. E nem mais um. Mas os minutos foram passando sem que o FC Porto desatasse o empate. Tentava, mas não desatava. Até que os 95′, Rui Pedro, saltado do banco quando Nuno resolveu que era tempo de povoar (mais ainda) a área e dar um par ao azarado (o que ele se fartou de falhar!) André Silva, o estreante Rui Pedro, caçula, rosto de menino — e é menino, afinal: 18 anos –, a jogar por fim com aqueles que antes só via na TV, conseguiu o que ninguém havia conseguido. A meio-campo, Jota recebeu a bola vinda da defesa no calcanhar direito, desmarcou Rui Pedro de primeira (com o pé contrário, a canhota) nas costas da defesa do Sp. Braga, ele correu, correu, e à saída de Marafona, picou-lhe a bola por cima. Ufffff! Contas feitas, 1-0 para o FC Porto. E vitória.

Mas vamos lá ao que no estádio do Dragão se viu. E o que mais se viu (aliás: só se viu) foi desperdício do FC Porto ou defesas (algumas de antologia) do guarda-redes do SC Braga.

O FC Porto de um lado. O SC Braga do outro. A bola a meio-campo, Danilo com o pé direito sobre ela e preparado para a tocar o lado, para Jota. Só faltava o apito de Carlos Xistra soar e rrrrrola a bola! Mas não soou logo, logo. E a bola não rolou. Antes, e vindo da bancada atrás de Casillas, alguém entrou no estádio do Dragão com um galo, preto, e o fez esvoaçar para dentro do relvado. Ó diabo! Foi lá Marcano num sprint agarrá-lo, o galo não era fugidio, e entregou-a a um stewart. O augúrio não era bom. E confirmou-se que não era.

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Pediu-se penálti. Pediram as bancadas e pediu André Silva. Foi aos 17′. Mas a única coisa que André viu ser assinalada por Carlos Xistra foi… simulação. O ponta-de-lança entrou na área do SC Braga pela direita, colocou a bola entre André Pinto e Goiano, avançou, deu um encontrão no segundo (foi André Silva quem procurou o contacto) e caiu. Não, não foi penálti. E sim, André viu um cartão — para não ser “intruja”.

Não é a especialidade dele. Jota não é de cabecear, mas de rematar, driblar, tudo menos cabecear à baliza. Otávio teve olho para a desmarcação, isolou aos 27′ André Silva nas costas de Baiano e Artur Jorge, André entrou na área pela esquerda, levantou a cabeça, viu Jota ao segundo poste e cruzou, um cruzamento “redondinho”. O pior foi depois, quando Jota, com a baliza escancarada, sem marcação ou guarda-redes que se visse, desviou por cima da barra. Era o mais difícil. Outro vez isolado, e logo no minuto a seguir, o FC Porto não conseguiu desfazer o empate a zero. Marafona fez uma reposição com os pés, sem pés nem cabeça, acertou “nas orelhas” da bola”, da sua canhota saiu uma rosca, Óliver antecipou-se a Xeka à entrada da área, amorteceu a bola com o peito, seguiu isolado com ela para a baliza e, à entrada da área, rematou em vólei para a direita. Ao lado do poste. Bem ao lado.

Aos 31′, enfim um remate do FC Porto com a direção da baliza. Ou melhor: dois. De enfiada. Primeiro, de um canto à direita, longo e batido por Corona, Felipe amortece de cabeça e o outro central, Marcano, rematou de bicicleta — ou rematava assim, ou não rematava de todo; estava com a marcação de Artur Jorge a respirar-lhe no cachaço. Um remate fraco, mas que foi à baliza e conta para a estatística. Pouco depois, André Silva é desmarcado por Corona (e que desmarcação boa foi a do mexicano!) dentro do área, pela direita, Marafona saiu-se rápido ao seu pés, o ponta-de-lança do FC Porto ainda tentou picar a bola por cima do guarda-redes, mas sem sucesso. Na recarga, Maxi voltou a rematar, rasteiro e cruzado, mas André Pinto aliviou a bola para”as couves”, mesmo em cima da linha de baliza.

Maldito galo preto. E maldito empate. Malditos empates, todos eles.

A “maldição” haveria de estar perto de se esconjurar aos 34′. Penálti! Um central do SC Braga agarrou André Silva dentro da área. Desta vez, Carlos Xistra não duvidou de André. E apitou logo. Tudo começou nos pés de Óliver, que desmarcou André Silva pela esquerda. Tudo terminou nos pés de Artur Jorge, o tal central, que não os teve (salvo seja) para acompanhar o sprint de André. À falta de pés e de velocidade, usou da mão direita e puxou-lhe a camisola. Ou isso, ou André isolar-se-ia na direção da baliza, à vontade para rematar. Artur Jorge foi expulso. E não viu André Silva ajeitar a bola sobre relva. Uma vez e outra. Lá rematou. Escolheu o lado direito, Marafona também para lá saltou e desviaria para canto. Depois, André Silva fechou os olhos, ergueu a cabeça para o céu e o que a seguir disse não se pode aqui dizer.

Até final da primeira parte, depois de Marafona defender, depois do FC Porto desperdiçar, só faltava mesmo o poste dar um ar da sua graça. E deu. Mesmo no fim, aos 45′. O cabeceamento é de Danilo, na molhada que se acotovelava na pequena área, a cruzamento de Layún. A bola, caprichosa como só ela sabe ser, voltaria do poste esquerdo para Danilo, estou voltou a desviá-la na direção da baliza, mas Marafona agarrou-a em cima da linha.

Brahimi entrou ao intervalo para o lugar do lesionado Otávio. E o argelino entrou “com tudo”. Aos 48′, e vindo em dribles desde a esquerda, curvou para dentro e, da esquina da área, rematou em jeito. Queria colocar a bola no canto superior direito da baliza de Marafona. Errou-o por pouco mais do que um palmo. Voltaria a tentar o golo no minuto a seguir. E outra vez vindo da esquerda em dribles. Passou por Baiano, passaria também por André Pinto e rematou entre os dois, desta vez cruzado, na direção do poste esquerdo. O remate ainda resvalou no pé direito de Pinto e Marafona foi segurar. A bola seguira para fora, mas o guarda-redes do SC Braga correu, fez-se à relva, enlameou o equipamento, e evitou o canto.

O “galo” por lá continuava no relvado.

Gooooo… só que não é. Quem gritou golo nas bancadas do Dragão, gritou-o em vão. Carlos Xistra anulou. Maxi Pereira subiu no flanco, subiu até à direita do ataque, não entrou na área, não cruzou logo, voltou para trás, cruzaria de canhota, André Silva e Jota estavam (56′) na pequena área — apenas com Baiano entre eles –, André não conseguiu desviar, Baiano não conseguiria cortar, Jota até cabeceou, mas Xistra viu-o apoiar-se em Baiano na altura do cabeceamento e apitou de pronto.

Como não há uma sem duas, e depois de Jota falhar um golo de baliza aberta na primeira parte, André Silva falharia também um na segunda. Foi aos 58′. Corona cruzou para a pequena área, André (o outro André, Pinto, não seguiu a sua desmarcação e Silva estava só) desviou de primeira, Marafona já estava tombado sobre o relvado e sem hipótese de defender o que quer que seja, mas a bola sairia por cima da barra. André deitou às mãos à cara. Ainda lá estão, de tão envergonhado que está.

Que noite estava a ter o guarda-redes do SC Braga, Marafona. De trabalho… e de inspiração. Aos 76′, Brahimi “entortou” Rosić à esquerda, ameaçou que driblava para a direita, driblaria para a esquerda, o central sérvio ficou pregado ao relvado, Brahimi cruzou para o primeiro poste, Maxi estava lá e amorteceu a bola no pé direito, “entortou” também ele André Pinto, puxou a bola para a canhota, rematou, mas Marafona defendeu com os pés. Sim: com os pés. E foi com eles que voltaria a defender aos 79′. Desde a direita, Corona desmarcou Brahimi no flanco contrário, dentro da área, Brahimi avançou sozinho para a baliza, Marafona saiu dela, o argelino desviou com o pé direito, mas o guarda-redes defenderia com o esquerdo. Depois, Marafona ficou tombado no relvado. “Ah, lá estão eles a queimar tempo!” Não estão. Não está. É que se é verdade que Brahimi rematou com o pé direito, também é verdade que foi com esse mesmo pé que acertou em cheio onde mais dói a Marafona. Vocês imaginam onde. O sooooobe equipaa seguinte até soou fininho.

Valeu ao FC Porto que Nuno Espírito Santo resolveu não poupar nos apelidos e convocar Rui Pedro da Silva e Sousa na vez de Laurent Depoitre. É que o goleador dos juniores e do FC Porto B fez mais em 15′ (mais os sete de tempo extra) do que o belga em duzentos-e-dezoito: um golo no campeonato. Um golo que deu a vitória ao FC Porto. Um golo que matou o “galo” dos empates.

Amanhã há cabidela em Pedorido, Castelo de Paiva, a terra do caçula Rui. Paga ele.