Continua a aposta dos comunistas na renovação do Comité Central do partido. O órgão máximo do PCP entre congressos foi aprovado este sábado, no final do segundo dia do congresso comunista, por 98,67% dos votos. Votaram 1131 delegados, houve 4 votos contra e 11 abstenções. O anúncio foi feito pela dirigente comunista Luísa Araújo numa breve declaração aos jornalistas, sem direito a perguntas.

Como é habitual na eleição do Comité Central do PCP, a sessão decorreu à porta fechada, depois de os jornalistas e equipas de reportagem no local serem convidados a deixar o Complexo Municipal dos Desportos de Almada, onde este fim-de-semana se realiza o XX Congresso comunista. Duas horas depois do início do processo de eleição havia fumo branco: o novo figurino do órgão máximo do PCP entre congressos estava definido.

Entre os 146 dirigentes agora eleitos constam 22 caras novas, um esforço de renovação que o partido tem assumido. Mantém-se também outra tendência: a redução do número de membros do Comité Central. Em 2012, aquela estrutura do partido comunista já tinha perdido seis membros em relação à anterior; este ano, o órgão máximo do PCP entre congressos perde três dirigentes.

Existem, por isso, 25 dirigentes que deixam aquela estrutura, essencialmente algumas das figuras mais velhas do partido comunista, como o poeta Manuel Gusmão, símbolo da resistência antifascista e deputado constituinte, ou Albano Nunes, também ele um histórico comunista.

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Em contrapartida, a média etária dos dirigentes que entram agora para o Comité Central ronda os 37 anos, um esforço evidente de rejuvenescimento daquela estrutura — a média de idades dos dirigentes que deixam o órgão máximo do PCP entre congressos é quase de 57 anos. Em relação à anterior composição da cúpula comunista, no entanto, a média etária geral mantém-se na casa dos 47 anos.

O Comité Central comunista tem agora mais operários (45,9%), mais mulheres (25,3%) e menos funcionários do partido — ainda que continuem a ocupar uma fatia expressiva (62,3%).

Mantêm-se na cúpula comunista PCP nomes como o dirigente Agostinho Lopes, o líder da CGTP, Arménio Carlos, o autarca e ex-líder parlamentar, Bernardino Soares, o antigo candidato presidencial, Francisco Lopes, o eurodeputado João Ferreira ou o líder parlamentar, João Oliveira. Com 75 anos, o antigo secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, é agora o membro mais velho do Comité Central. O coordenador e “pai” da Festa do Avante!, Ruben Carvalho, é agora a último membro do Comité Central que passou pela experiência de ter sido preso pela PIDE durante o Estado Novo, como, de resto, recordou em entrevista ao Observador.

Entre os novos membros estão a funcionária do PCP e licenciada em direito, Alma Rivera, a assistente de realização Ana Gusmão, a cozinheira Ana Lúcia Guerra, os operários Aníbal Martins, António Pinetra, Diogo Correia, Filipe Costa, Luís Leitão, Mário Matos, Nelson Mota, Paula Sobral, Ricardo Galhardo e Tiago Oliveira, os “empregados” Diogo d’Ávila, Miguel Violante e Rogério Silva, a “empregada” Marisa Ribeiro, a estudante Cláudia Varandas, a enfermeira Joana Sanches, a deputada Paula Santos e o professor Victor Reis Silva.

O novo Comité Central do PCP elegerá agora o secretariado e a comissão política do partido. No domingo, ficar-se-á saber se Jerónimo de Sousa é reconduzido no cargo — um cenário mais do que previsível neste momento. Durante muito tempo, ainda se especulou sobre se o ciclo do líder comunista chegaria ao fim neste Congresso ou, no limite, se teria a companhia de um secretário-geral adjunto — cargo que Carlos Carvalhas desempenhou durante a transição de Álvaro Cunhal. Esses cenários, no entanto, parecem já afastados. Se for eleito, como tudo indica que vai ser, Jerónimo de Sousa iniciará o seu quarto mandato à frente dos comunistas e ultrapassa Carvalhas em longevidade.