Um livro e um almoço com todos (os que apareceram) para comemorar os 40 anos do CDS no Parlamento. Paulo Portas não faltou ao lado de Assunção Cristas, que aproveitou o momento para fazer um discurso apaziguador com o passado recente, as últimas legislativas, em que a coligação PSD/CDS ficou à frente, mas quem ficou no Governo foi o PS. A presidente do partido acredita que o CDS virou “rapidamente a página”, depois do “sentimento profundo do engano” inicial. E agora diz-se focada no objetivo autárquico, em que será candidata, venha (ou não) o que vier do PSD.

À entrada de “um ano muito desafiante”, Cristas define objetivos para o partido “que já foi um grande partido autárquico” e que se “orgulha de ter retomado a rota crescente”. “Se este é um terreno difícil, é também um terreno que devemos abraçar com todo o ânimo”, disse a líder democrata-cristã, que também é candidata nas eleições do próximo ano, por Lisboa. É e continuará a ser. Já depois do discurso que fez aos convidados para o almoço comemorativo dos 40 anos do CDS no Parlamento, Cristas respondeu aos jornalistas, sobre uma eventual procura do PSD para uma coligação pela capital, agora que Santana Lopes saiu de cena: “Se o PSD quiser apoiar haveremos de conversar. Eu sou candidata à Câmara Municipal de Lisboa, com o CDS ou com o CDS e outros partidos”. Quer isto dizer que se o PSD quiser juntar-se não há hipótese de não ser Cristas a cabeça de lista. “A decisão está tomada e não há nada de novo que leve a alterar essa decisão”.

Sou candidata à Câmara Municipal de Lisboa, serei e continuarei a ser, os outros partidos certamente têm de decidir, dentro das suas casas, o que eu respeito muitíssimo, qual a estratégia que querem desenhar, se uma estratégia de coligação, se querem uma estratégia de candidato próprio, que é o mais natural”.

Perante os seus convidados, Assunção Cristas ainda falou nos desafios que se colocam ao CDS no Parlamento, num “tempo diferente” em que existe “ uma novidade na arquitetura parlamentar”, mas que já está assimilada pelo seu partido. Cristas até falou no que inicialmente foi o “sentimento profundo do engano”, mas garantiu que o CDS virou “rapidamente a página” e até já vê vantagens na atual situação:

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“O que hoje nos é desfavorável amanhã pode ser o contrário e pode ser o desmontar do voto útil que tantas vezes nos penalizou ao longo da história”.

Quando confrontada com a instabilidade política noutros países — e em reação direta à demissão de Renzi em Itália — Cristas afirma que “Portugal tem uma situação clara de estabilidade de governo de esquerdas unidas. Apesar de porventura, de vez em quando, parecer haver notas dissonantes nos partidos que apoiam o Governo, é muito claro que estão todos unidos e bem unidos em relação às questões centrais”. Outra coisa, sublinha no entanto a presidente do CDS, “é saber se o caminho que está a ser traçado pelo Governo nos protege de eventuais circunstâncias externas menos favoráveis”. E, quanto a isso, Assunção Cristas tem “uma opinião certamente muito negativa”, apontando como principal ameaça “uma dívida que devia estar a diminuir e está a aumentar”.

Durante a intervenção, a líder do CDS contou com uma sala composta pelas mais altas figuras da história do partido. Telmo Correia disse mesmo que “há muito tempo que não via tantas altas individualidades do CDS todas na mesma sala”, mas a verdade é que, por esta altura do ano, o partido faz sempre questão de realizar um evento para saudar a memória de Adelino Amaro da Costa (que ia no avião em que viajava Sá Carneiro e que se despenhou em Camarate), resultando numa reunião deste mesmo género.

Desta vez o pretexto foi o livro CDS 40 anos no Parlamento, Discursos com História, que tem na capa o antigo líder parlamentar e ministro da Defesa de Sá Carneiro e que reúne um conjunto de intervenções parlamentares que o partido considerou relevantes e onde não faltam textos de ex-presidentes desavindos, como o fundador Freitas do Amaral ou Manuel Monteiro. Nomes que não estiveram na sessão, bem como Basílio Horta, antigo presidente do grupo parlamentar do CDS que nas últimas autárquicas concorreu a Sintra pelo PS, que chegou a estar na lista de presentes mas não conseguiu comparecer. Já Paulo Portas não falhou — mas não fez declarações aos jornalistas — nem Nobre Guedes, Lobo Xavier ou Francisco Oliveira Dias, o mais antigo líder da bancada do CDS, que foi também o único membro do partido a presidir à Assembleia da República.