O telefonema entre Donald Trump e a líder de Taiwan, que gerou tensão nos meios diplomáticos norte-americanos e chineses, estava a ser planeado há meses como um gesto propositadamente provocador. Alguns conselheiros do presidente eleito dos Estados Unidos da América explicaram ao The Washington Post que a chamada telefónica já estava no horizonte do milionário ainda antes de ser nomeado candidato pelo Partido Republicano.

A conversa entre Trump e Tsai Ing-wen, presidente de Taiwan, decorreu na sexta-feira. Os Estados Unidos estão oficialmente de relações cortadas com Taiwan, República da China, desde 1979. No Twitter, Donald Trump escreveu que tinha sido Tsai Ing-wen a telefonar e não o contrário. O mesmo disse Mike Pence, futuro vice-presidente, numa entrevista à televisão ABC.

“A Presidente de Taiwan TELEFONOU-ME hoje para me dar os parabéns por ganhar a presidência. Obrigado!”

Certo é que o nome da presidente de Taiwan estava escrito numa lista de líderes estrangeiros que a equipa de Trump definiu como telefonemas prioritários logo após as eleições de 8 de novembro. “Desde muito cedo que Taiwan estava na lista”, disse Stephen Yates, líder do Partido Republicano no estado de Idaho e especialista em assuntos chineses, ao The Washingnton Post. “Eles sabiam que haveria uma reação”, afirmou o responsável.

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Isso não significa que tenha sido Trump a fazer a chamada. Os líderes mundiais estão a “pôr-se na fila” para falar com o presidente eleito americano. “Por sorte, por estratégia ou o que quer que seja, o pedido de Taiwan subiu na fila”, disse Yates ao jornal regional Idaho Statesman.

À agência Reuters, um membro da equipa de Tsai Ing-wen admitiu que a chamada foi planeada previamente por ambas as partes. “Claro”, disse Alex Huang. Trata-se, aliás, de uma prática comum quando dois chefes de Estado pretendem contactar-se. Richard Grenell, um membro da equipa de transição de Trump, sublinha ao The Washington Post que este telefonema dá-se duas semanas depois de o presidente eleito ter falado com Xi Jinping, líder chinês, e afirma que a chamada foi politicamente inócua.

Os Estados Unidos apoiam oficialmente a política que recusa separatismos face à China e, segundo os conselheiros de Trump, essa linha é para manter. No entanto, este telefonema pode significar uma mudança de atitude face ao regime de Pequim, de que o presidente eleito tem sido um crítico — sobretudo no que diz respeito às relações económicas com os Estados Unidos.

No Twitter, Donald Trump reagiu às críticas internas…

“Interessante como os Estados Unidos vendem equipamento militar de milhares de milhões de dólares a Taiwan e eu não posso atender um telefonema de parabéns.”

…e também externas. O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Geng Shuang, não gostou do gesto de Trump e pediu ao novo presidente norte-americano que reafirmasse que Taiwan “é uma parte inalienável do território da China”.

“A China perguntou-nos se podiam desvalorizar a moeda (tornando mais difícil a concorrência às nossas empresas), taxar fortemente os nossos produtos que vão para lá (os EUA não os taxam) ou construir um complexo militar maciço no meio do Mar do Sul da China? Não me parece!”