A União Democrata-Cristã (CDU), partido da chanceler alemã, reúne-se, esta terça e quarta-feira, em congresso para lançar a batalha pela reeleição de Angela Merkel para um quarto mandato, em 2017, e deter o populismo. A própria Angela Merkel admitiu que a próxima campanha será “a mais difícil”, após meses de debates e de críticas sobre a sua decisão de abrir as portas da Alemanha a cerca de 900.000 refugiados.

Na liderança da CDU há 16 anos, Merkel, a única candidata à sua sucessão, candidata-se, esta terça-feira, a um nono mandato como líder do partido, o que é sinónimo de uma candidatura à chancelaria. O resultado obtido será atentamente escrutinado para avaliar o entusiasmo interno perante as legislativas que se realizam provavelmente em setembro do próximo ano.

Apesar de a decisão de se recandidatar, após 11 anos no poder, ter sido recebida com circunspeção por alguns comentadores, 64% dos alemães aprovam essa escolha, segundo uma sondagem recente – um número tranquilizador, depois de Merkel ter caído a pique nos estudos de opinião efetuados no final de 2015 e início de 2016, em plena crise migratória.

O ponto alto do congresso será o discurso que a chanceler vai proferir perante 1.001 delegados, que lançará a sua corrida para um novo mandato de quatro anos e lhe dará oportunidade de apresentar as linhas gerais do seu programa eleitoral.

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Na sua declaração de candidatura, a 20 de novembro, Merkel limitou-se a falar de princípios, como a defesa dos valores democráticos perante a ascensão dos populismos no mundo, como as vitórias de Donald Trump e do ‘Brexit’ ou o fenómeno Marine Le Pen em França.

A chanceler alemã deverá também sublinhar as diferenças que a separam dos social-democratas do SPD, com quem atualmente governa, mas que esperam arrebatar-lhe a chancelaria em 2017.

Angela Merkel que, apesar da sua sobriedade muito protestante, aceita cada vez mais ser recebida como uma estrela do rock, como quando cantores entoam ‘You’re simply the best!’ à sua chegada a algumas reuniões do partido.

Dezasseis anos depois de ter “eliminado” o antigo chanceler Helmut Kohl da liderança da CDU, Merkel ainda não encontrou adversário à altura.

Fala-se de alguns nomes como seus potenciais sucessores um dia – a ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, ou o ministro do Interior, Thomas de Maizière – mas ninguém ainda arriscou disputar-lhe o lugar.

Horst Seehofer, o dirigente do partido irmão da Baviera CSU, atacou durante meses a sua política de acolhimento dos migrantes, mas acabou por desistir e não estará presente esta terça-feira.

Contidas as divergências internas, resta agora à dirigente de 62 anos enfrentar um perigo maior à sua direita: a ascensão fulgurante e inédita desde o fim do jugo nazi de um partido populista de direita, a Alternativa para a Alemanha (AfD).

Com cerca de 13% das intenções de voto, esta jovem formação anti-islâmica deverá fazer a sua entrada na câmara dos deputados no próximo ano.

Um resultado elevado nas legislativas poderá também complicar seriamente a formação da próxima coligação governamental.

A ascensão da extrema-direita já obrigou Merkel a endurecer o seu discurso sobre as questões da imigração.

Além disso, antes das eleições legislativas, a CDU, que foi derrotada em vários escrutínios regionais este ano, vai ser testada nas regionais no Sarre (26 de março), no estado de Schleswig-Holstein (7 de maio) e, sobretudo, no estado regional mais populoso a Renânia do Norte-Vestefália (14 de maio).

Por enquanto, embora ancorada em Merkel, a CDU encabeça as intenções de voto para as legislativas, mas, com 32%, está quase 10% abaixo do seu resultado de 2013.