O respeitinho é bonito. E quando o Sporting (talvez respeitoso demais) subiu ao relvado do estádio Wojska Polskiego, subiu com três centrais: Paulo Oliveira, Coates e Rúben Semedo. É coisa rara de se ver quando o jogo é de campeonato, mas na Liga dos Campeões os de Alvalade são useiros e vezeiros da tática. Sobretudo quando há Ronaldo, Bale, Aubameyang ou Reus pela frente. O Dortmund e o Real, portanto. Contra o Légia, sob um frio de enregelar o mais calorento dos calorentos, e chegando o empate para o Sporting se apurar para o menor dos males, a Liga Europa, Jorge Jesus lá terá pensado que assim, com a defesa a três, não sofreria certamente um golo.

Mas sofreu. Antes, cedinho, logo aos quatro minutos, até rematou primeiro que os polacos. Markovic e Zeegelaar entenderam-se às mil maravilhas na esquerda, o holandês cruzou para a molhada, livrou-se da bola o guarda-redes Malarz, a soco, esta ficou redondinha à entrada da área e William, não se fazendo rogado, encheu o pé direito. O remate saiu pouco ao lado do canto superior direito da baliza polaca.

O problema foi depois, à meia hora. É de Guilherme, lateral esquerdo ex-Braga e Gil Vicente, o golo do Légia. E tudo começou num lançamento lateral à direita. Bereszynski fê-lo curto, lançou para Odjidja-Ofoe, que recebeu a bola e desmarcou de pronto Prijovic dentro da área. Semedo não o conseguiu o travar, o matulão suíço cruzou, e Guilherme (fugiu a Paulo Oliveira e surgiu sozinho nas costas de Coates) desviou na pequena área, de primeira.

A tática manter-se-ia. E até corria bem, defensivamente falando. Não é coisa pouca a quantidade de vezes que o Légia (e sobretudo Prijovic, o ponta-de-lança) é apanhado em fora-de-jogo. O mérito é dos três centrais do Sporting, bem ensaiados por Jesus nos treinos. É vê-los, quando o Légia ataca, a olharem para o lado, uns para os outros, e darem um passo em frente, sincronizados.

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Mas o cronómetro é cruel quando se está em desvantagem, até parece que avança mais rápido, e não havia como os remates do Sporting resultarem em perigo e no empate. Veio o intervalo, viria o recomeço, e nada.

Até que, aos 60′, Jesus mudou. Tudo. Primeiro, saiu Markovic e entrou Bryan Ruiz. Sim, aí não muda lá grande coisa. Mas a substituição é dupla, volta o 4-4-2, vai-se o 3-5-2, e Ricardo Esgaio entra para o lugar de Paulo Oliveira. Ataca mais o Sporting, mas um golo que é bom, nada. Então, Jesus voltou a mudar. Era preciso quem rematasse — Bas Dost fora engolido pelos centrais polacos. Aos 68′, Zeegelaar dá a vez a André. Bruno César faz as vezes de lateral esquerdo — ele que começou na defesa, mas à direita.

Valeu a pena. Por fim, um remate à baliza (71′) na segunda parte. Para o Sporting, pois claro. André recebeu a bola à entrada da área, estava de costas para a baliza, viu Bas Dost à sua frente, entregou-lhe a bola, rasteirinha, e o holandês chutou de primeira, rente ao poste direito do Légia. Só à segunda é que Malarz segurou a bola. Logo a seguir, aos 74′, não foi André a assistir, mas a falhar. E o que ele falhou! Adrien desmarcou Gelson na direita, Hloušek foi “entortado” pela velocidade e drible de Gelson, este cruzou forte e rasteiro para o primeiro poste, Ruiz mergulhou mas não conseguiu desviar, a bola seguiu até ao poste contrário, onde André (sozinho!) conseguiu desviar, sim, mas para fora.

76′. E mais um remate para o Sporting. Demoraram, mas agora vêm em catadupa. Gelson entregou a bola a André à entrada da área, o brasileiro estava ligeiramente descaído para a direita, quase na esquina da área e marcado em cima, rodopiou, ficou de frente para a baliza e chutou de “bico”. Quase que saiu uma chapelada a Malarz, mas o guarda-redes polaco tem golpe de rins para desviar para lá da barra, com uma sapatada. O Sporting atacava, o Légia conta-atacava. E quase marcaram (84′) os polacos. Odjidja-Ofoe desmarcou Moulin nas costas da defesa do Sporting, Semedo foi rápido a recuperar, impediu que Moulin seguisse para a baliza e rematasse, mas este conseguiu ainda desmarcar Kucharczyk à sua direita, dentro da área, este remataria, mas Patrício defendeu. Ou melhor: São Patrício.

Ainda havia tempo. Mas a expulsão de William, que viu o segundo amarelo aos 85′, precipitou o fim, o Sporting volta e meia era sobressaltado na defesa pelos polacos, não subia tanto como antes, “despachava” cruzamentos para a molhada, mas sem ponta por onde incomodar o Légia. É sempre assim: táticas há muitas, mas quando a bola resolve entrar — caprichosa ou obediente –, ninguém quer saber delas para nada.