Bater de frente com Marcelo não é a melhor estratégia para o líder social-democrata, argumentou Luís Marques Mendes no seu comentário político este domingo, na SIC. O ex-líder do PSD disse que “polemizar com o Presidente da República é um erro”. Isto na ressaca do comentário de Passos Coelho, na semana passada, quando disse: “Ainda bem que ele não é presidente do PSD”, referindo-se a Marcelo Rebelo de Sousa.

Será este o melhor caminho para o líder do maior partido da oposição? “Não, acho que não, que não deve seguir este caminho. É um mau princípio, é um erro”, disse Marques Mendes, que pede que “nos deixemos de hipocrisias” porque, por motivos pessoais, “entre Passos Coelho e Marcelo Rebelo de Sousa nunca passou grande química”.

Na opinião do comentador, “Pedro Passos Coelho tem que ter noção que o seu adversário é António Costa e não Marcelo Rebelo de Sousa e que está a concorrer para ser chefe de Governo e não para ser chefe de Estado”. Marques Mendes pergunta: “Se ele dá mais atenção àquele que não é o seu adversário principal, quem é que esfrega as mãos de contente?” E responde: “António Costa”.

Até porque “Passos Coelho está a competir com armas desiguais” contra Marcelo. “O presidente Marcelo é evidentemente uma referência de popularidade, de prestígio, de estatuto, de autoridade, por isso Passos Coelho, numa guerra com o Presidente, perde sempre, como qualquer líder da oposição perderia”, disse. Passos “ainda não encontrou exatamente o caminho certo” e “deve encontrar as suas causas”, é o conselho que Marques Mendes deixa ao líder do PSD.

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Novo Banco: as negociações estão fechadas

O comentador da SIC disse ainda que “as negociações com os vários concorrentes terminaram na passada sexta-feira” para a venda do Novo Banco, tendo sido apresentadas propostas e revisões de propostas definitivas. Confirma-se o que já tinha referido a semana passada: os chineses têm a proposta mais forte, garantiu Marques Mendes.

Segundo o jurista, seguem-se agora duas semanas em que será feita a análise dos contratos de compra, serão estabelecidos os contactos com o Banco Central Europeu e será feita a articulação com o Governo. Como o Expresso avançou no sábado, Mendes disse que, “na semana do Natal ou entre a semana de Natal e a do Ano Novo haverá uma solução final” para o banco que ficou com a parte boa do extinto BES.

Melhorias na Educação

A melhor notícia da semana, para o social-democrata, são os resultados alcançados pelas escolas portuguesas e pelos alunos nos relatórios do PISA [Programme for International Student Assessment, na sigla em inglês, um relatório tri-anual que avalia a prestação escolar dos estudantes nos países da OCDE ].

“São resultados extraordinários para Portugal. Primeiro, porque foram os melhores resultados desde sempre, depois porque é a primeira vez que Portugal está acima da média da OCDE, e também é o país da União Europeia que tem estado permanentemente a melhorar desde 2000, e isto verifica-se mesmo nas escolas em zonas problemáticas e vulneráveis”, elogia Marques Mendes. O mérito é “obviamente dos alunos” mas o comentador ressalva também “o mérito dos professores”, dizendo que estes resultados provam que “é sempre importante valorizar o estatuto dos professores”.

Futebol e os offshore

Em dia de dérbi, Marques Mendes começou o seu comentário semanal na SIC felicitando o futebol português, que mantêm duas equipas na Liga dos Campeões. Mas também há a parte má que neste caso é o escândalo do Football Leaks, que ocupa as páginas dos jornais há duas semanas, depois de o semanário Expresso ter revelado o esquema de fuga fiscal que envolve alguns dos nomes mais conhecidos do futebol europeu.

Sobre o assunto, Marques Mendes disse que “a fuga ao fisco é um fenómeno que envolve a sociedade em geral, acontece com futebolistas e não-futebolistas” mas realçou que “aos olhos da opinião pública, aos olhos dos portugueses, o futebol é um mundo à parte” porque “se viessem a público fugas ao fisco, colocação de empresas em paraísos fiscais relativamente a um político ou a um empresário caia o Carmo e a Trindade, mas relativamente ao futebol parece que há uma atitude de tolerância, de compreensão, de indiferença”. E lamentou: “Tenho visto alguns comentários de pessoas que acham isto quase normal”.

O ex-líder dos sociais-democratas falou mesmo de uma atitude de “indiferença e até de compreensão”, que lhe parece “completamente absurda”. “Uma coisa é gostarmos muito de futebol e termos os nossos ídolos mas a sociedade devia ser mais exigente e menos reverente perante jogadores de futebol que ganham fortunas e que depois tentam não pagar tudo ao fisco. Como são ídolos, o seu exemplo de alguma forma contamina positiva ou negativamente a sociedade”, acrescentou.

Como é que se resolve o problema dos paraísos fiscais? “Quando houver coragem”, disse Marques Mendes que, apesar de reconhecer que as offshore não são ilegais, considerou “altamente imoral” que se se utilizem estes subterfúgios financeiros.

Cautela e caldos de galinha na economia

Com sinais económicos que esta semana apontaram em direções opostas, o FMI elogiou os resultados de 2016, mas duvidou dos previstos para 2017; os resultados das exportações em outubro caíram e os juros da dívida voltaram a subir e estão próximo dos 4%.

Para Marques Mendes, estes números demonstram uma situação económica e financeira frágil, que deixa pouca folga para euforias. E por isso pede cuidado com as ilusões. “Primeiro vivemos nalguma ilusão de que a crise passou definitivamente e tudo está sólido. Essa situação advém da devolução de rendimentos, do clima político e social distendido, do crédito mais barato” mas “corremos riscos enormes como o risco de o BCE acabar com a sua política de compra de dívida, o risco de haver uma única agência de rating que cuja classificação mantém Portugal com acesso a financiamento, o risco de um acontecimento externo desfavorável que contamine Portugal como a queda de um banco em Itália ou na Alemanha ou o risco de uma subida dos juros da dívida, que estão ali muito próximos dos registados antes da intervenção da troika em 2011″.

Impõe-se então, segundo o comentador, fomentar o crescimento, combater o endividamento das famílias, incentivar a poupança e fomentar o investimento. É, resumindo, a receita para a melhoria da economia de Marques Mendes que relembrou, no fim da sua intervenção, que “cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém”.

O antigo líder social-democrata ainda deixou uma nota final para António Guterres, que irá jurar a Carta das Nações Unidas na segunda-feira, dia 12. Marques Mendes recorda que há um ano este era um cenário inimaginável e que Guterres, não podendo fazer “lobby” pelos interesses de Portugal, colocará o país numa posição de maior centralidade na política internacional. Há um ano ninguém imaginava ser possível um português como Secretário-Geral da ONU. O que se garantia é que seria uma mulher oriunda do Leste da Europa.