Os serviços de saúde em Londres lançaram um folheto em língua portuguesa para incentivar a numerosa comunidade portuguesa a inscrever-se nos postos médicos locais. O folheto contém instruções sobre como registar-se no posto médico para ter acesso a um médico de família e, consequentemente, ao sistema nacional de saúde britânico, que é gratuito.

O documento sugere também que os cidadãos portugueses mostrem exames médicos que tenham trazido de Portugal ao novo médico de família, para este conhecer os seus problemas de saúde.

Inclui também informações sobre o funcionamento do sistema de saúde, nomeadamente as alternativas aos médicos de família para casos de emergência e o acesso a exames ou vacinas.

A iniciativa partiu de Vikesh Sharma, um médico com consultório em Lambeth, ao qual chegou em 2013 e onde se apercebeu de alguns problemas da comunidade portuguesa.

Em Lambeth, um sexto dos cerca de 300 mil habitantes fala português, mas no centro de saúde Grantham Centre Practice a percentagem é ainda mais elevada: um terço dos 6.000 utentes são lusófonos.

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Porém, o médico notou que a taxa de inscrição dos portugueses junto dos centros de saúde era baixa, que recorriam muito aos serviços de emergência dos hospitais e que deixavam agravar doenças por falta de acompanhamento.

A principal barreira é a dificuldade na comunicação em língua inglesa, mas existem também elementos culturais, como a diferença de funcionamento das consultas.

O vereador português em Lambeth Guilherme Rosa considerou “promissora” esta iniciativa, que ajude a comunidade a lidar com problemas de saúde mental ou doenças como os diabetes.

A cônsul-geral de Portugal em Londres, Joana Gaspar, espera que o esforço ajude a ultrapassar a falta de confiança dos portugueses no uso dos serviços de saúde britânicos.

“Existe uma barreira linguística, mais a barreira cultural, e [os portugueses] não se sentem à vontade para recorrer aos serviços públicos que têm à sua disposição, recorrendo apenas em casos de emergência, quando os casos de saúde já são muitas vezes irreversíveis”, lamentou.

O documento foi lançado durante um seminário na segunda-feira à noite, que reuniu representantes de outras entidades e organizações que trabalham com minorias étnicas ou com a comunidade portuguesa em particular.

Vikesh Sharma defendeu a necessidade de olhar para o problema de uma forma mais global, que inclua aspetos como a educação, língua ou habitação.

“Ao criar essas relações, podemos reduzir as desigualdades ao nível da saúde”, disse à agência Lusa.