Metade dos jornalistas em Portugal tem um contrato de trabalho precário e 72% acredita que dificilmente encontraria novo emprego no setor, conclui um inquérito realizado para uma tese de doutoramento na Universidade de Coimbra.

O inquérito, com uma amostra representativa composta por 806 jornalistas e realizado em 2015, faz um retrato de uma profissão “sujeita a condições bastante precárias” e com “baixas expectativas em relação ao seu trabalho”, afirmou à agência Lusa o investigador responsável pelo estudo, João Miranda, que realiza uma tese de doutoramento na Universidade de Coimbra (UC) sobre a autorregulação profissional do jornalismo.

Metade dos jornalistas tem um contrato de trabalho “próximo de lógicas de precariedade”, sendo que 25% dos inquiridos trabalha em regime de prestação de serviços com recibo verde, 12% apresenta contrato a termo certo e 9,2% a termo incerto, havendo ainda uma percentagem residual de jornalistas em estágio profissional ou curricular, referiu o investigador.

Mais de metade (55%) afirma que a sua situação laboral afeta o desempenho do seu trabalho, sendo “sobretudo entre prestadores de serviços que estão a recibo verde que mais existe concordância” com esta ideia, sublinhou João Miranda.

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De acordo com o estudo a que a agência Lusa teve acesso, 72,8% dos inquiridos acha que dificilmente encontraria um novo emprego na área, sendo que quase um terço já esteve numa situação de despedimento num órgão de comunicação social.

Mais de 40% dos jornalistas auferem um vencimento bruto entre 506 e 1.000 euros, 7,3% referiu receber abaixo do salário mínimo nacional e apenas um quarto diz receber mais de 1.500 euros brutos por mês. Quase um quarto dos inquiridos diz desenvolver outra atividade profissional que não o jornalismo e 23,5% afirma desenvolver “atividade jornalística noutro órgão de comunicação exterior à empresa com quem detém o vínculo principal”.

O inquérito constata que dos jornalistas que dizem ver os seus trabalhos publicados ou difundidos noutros órgãos da empresa onde trabalha (cerca de metade), quase a totalidade (90,8%) afirma não receber mais por isso.

Também quando se trata de desempenhar outras tarefas, nomeadamente fazer fotografias ou artigos para a edição digital do órgão de comunicação, 86% dos inquiridos não recebe qualquer suplemento por essa atividade adicional.

Cerca de 40% já realizou um estágio profissional ou extracurricular não remunerado, apontando como principais razões para o fazer a “expectativa de integrar os quadros do órgão de comunicação” ou a possibilidade de “adquirir experiência profissional”.

A esmagadora maioria concorda quer com a obrigatoriedade de detenção de um título profissional (90%) quer com a exigência de um estágio obrigatório (84%). O inquérito, com 90 perguntas, foi realizado no âmbito da tese de doutoramento de João Miranda, na Universidade de Coimbra, onde o investigador analisa o contexto da autorregulação profissional do jornalismo em Portugal.

Os resultados do inquérito são apresentados esta quinta-feira, na Faculdade de Letras, às 16h00, num debate intitulado “Relatos de uma profissão indefinida. Resultados de um inquérito aos jornalistas”. O inquérito foi aplicado via ‘online’ entre os contactos detidos pela Comissão da Carteira, a titulares de carteira profissional de jornalista, título provisório ou cartão de equiparado.