Durante pelo menos duas décadas, os serviços secretos da antiga Checoslováquia espiaram Donald Trump, então um magnata em ascensão. As informações recolhidas, agora divulgadas, são surpreendentes: de acordo com os relatórios da inteligência checoslovaca, em 1977, o Presidente-eleito dos Estados Unidos teria um acordo que o isentava de pagar impostos até 2007. Mais: nos anos que se seguiram, o nova-iorquino foi muito pressionado para avançar para a corrida presidencial norte-americana e chegou a ponderar fazê-lo em 1996.

Estas e outras informações foram divulgadas pelos órgãos de comunicação checos e pelo jornal alemão Bild, merecendo depois o destaque do The Guardian. De acordo com aquela publicação britânica, os serviços secretos da antiga Checoslováquia, então sob uma liderança comunista fiel a Moscovo, recolheram informações sobre Donald e Ivana Trump — a primeira mulher do multimilionário é natural de Zlín, hoje uma cidade integrada na República Checa.

Foi esta ligação de Ivana à Checoslováquia que permitiu aos serviços secretos daquele país recolherem informações sobre o multimilionário. As viagens de Ivana à terra natal para visitar o pai, Miloš Zelníček, eram acompanhas de perto pelas autoridades checoslovacas e o telefone da modelo e empresária chegou mesmo a estar sob escuta.

Um dos relatórios elaborados nessa altura, em 1977, descreve os negócios de Trump como “absolutamente seguros”, não apenas porque o multimilionário tinha uma relação privilegiada com o então Presidente norte-americano, presumivelmente Jimmy Carter, mas também por estar isento do pagamento de impostos pelos próximos 30 anos. Esse dado, a confirmar-se, ajudaria a explicar a recusa de Donald Trump em apresentar as declarações fiscais durante a campanha presidencial, uma prática comum seguida por todos os candidatos à Casa Branca.

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Mas as revelações não ficam por aqui. Em 1988, um agente checoslovaco escreveu um relatório onde dava conta de que Donald Trump estava a ser muito pressionado para entrar na corrida à Casa Branca. Qualquer passo em falso, por isso, seria fatal para as aspirações do multimilionário. E aqui incluía-se também Ivana Trump:

“Qualquer passo em falso [de Ivana] teria consequências incalculáveis para a posição do marido, que pretende concorrer para Presidente em 1996”, escreveu então o agente secreto. Mais: Trump estaria convencido de que poderia ganhar essas eleições.

Donald e Ivana Trump acabariam por se divorciar em 1992, frustrando as hipóteses de Trump nessas eleições. O destino cumprir-se-ia vinte anos depois, ano em que o multimilionário bateu contra todas as expectativas Hillary Clinton. Até ao momento, o novo Presidente dos Estados Unidos ainda não comentou estas informações.