José Luís Carneiro, secretário de Estado das Comunidades e ex-presidente da distrital portuense do PS, acredita que o PS se arrisca a “perder legitimidade política” se não apresentar um candidato próprio à Câmara do Porto e uma alternativa a Rui Moreira.

Em entrevista ao Diário de Notícias/TSF, José Luís Carneiro, que apoiou António José Seguro nas primárias socialistas que vieram a dar a vitória a António Costa, critica a decisão do partido de apoiar a recandidatura de Rui Moreira e fala no risco de “desvinculação” entre os eleitores portuenses e o Partido Socialista.

“Quando não apresentamos listas alternativas, desde as assembleias de freguesia às câmaras municipais, com o tempo há uma desvinculação na relação de legitimidade com aquele corpo de valores e princípios que defendem os partidos políticos”, defende o socialista.

As declarações de José Luís Carneiro já mereceram a resposta de Manuel Pizarro, líder da Federação Distrital do PS/Porto e um dos principais impulsionadores desta aliança entre PS e Rui Moreira. Em declarações à TSF, Pizarro lamenta a “visão estreita” do secretário de Estado e fala em sectarismo.

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“Estou em completo desacordo com essa ideia, que é redutora, sectária e que até explica um pouco porque é que os partidos têm uma crise de representação perante os cidadãos”, afirmou o dirigente socialista.

Para Manuel Pizarro, de resto, a ideia de que o PS fica prejudicado por não apresentar candidato no Porto é errada. “A obrigação de um partido no Porto como o PS é colocar o interesse da cidade e das pessoas da cidade à frente de uma visão estreita sobre o interesse partidário. É por isso que nós nos sentimos tão bem a participar na governação autárquica com Rui Moreira, porque tem correspondido às necessidades e aspirações das pessoas do Porto”.

“Nós não podemos proclamar que o interesse geral deve suplantar o interesse partidário e depois fazer cálculos com base no interesse partidário mais imediato. O PS está a honrar os seus princípios e a cumprir o seu programa, porque se dá o acaso feliz de que o programa de Rui Moreira e do PS são similares do que desejamos para a cidade do Porto”, sublinhou ainda Manuel Pizarro.

No entanto, José Luís Carneiro não foi o único destacado socialista a sugerir que o PS deveria encontrar uma alternativa a Rui Moreira. Também em entrevista ao Diário de Notícias/TSF, Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra e da Associação Nacional de Municípios Portugueses, deixou claro que, no seu entender, o PS devia “apresentar candidaturas a todas as câmaras municipais do país, a todas as assembleias municipais do país, a todas as juntas de freguesias do país”.

Quando confrontado com a questão da Câmara do Porto e do apoio socialista à candidatura de Rui Moreira, Manuel Machado, que também apoiou António José Seguro nas primárias do partido, preferiu não comentar. “A minha missão não é exatamente emitir estados de alma. Portanto, não me sinto em condições de poder responder”, sublinhou o autarca socialista, admitindo, ainda assim, que “a haver acordo do PS com Rui Moreira devia ser depois das eleições”

Apesar do desconforto mostrado por alguns socialistas, a direção do PS não está disposta a recuar na decisão: Rui Moreira vai mesmo contar com o apoio do partido nas autárquicas de 2017.