Num dos raros textos que escreveu sobre educação, a filosofa alemã Hannah Arendt tece uma crítica contundente às pedagogias modernas adotadas por escolas e famílias em que se advoga que as crianças devem ser deixadas livres para aprender. Segundo Arendt — o texto está publicado no livro Quatro Textos Excêntricos (Relógio D’ Água) –, “estas pedagogias mais não fazem do que deixar as crianças sozinhas. E nenhuma criança aprende sozinha”.

Hoje a agilidade com que os mas novos dominam as novas tecnologias volta a reforçar esse mito de que as crianças não precisam dos mais velhos, irmãos, país, avós ou professores, para aprender. E de que aprender é acumular informação. Ora, ter informação não é sinónimo de ter conhecimento. Pois sendo algo mais complexo, o conhecimento precisa de um adulto que ajude a criança a organizá-lo, cognitiva, afetiva e socialmente.

Antigamente esta tarefa era partilhada pela comunidade alargada — pais, irmãos, primos, avós, vizinhos. Os mais velhos ensinavam os mais novos, especialmente as brincadeiras, os jogos, as canções, mas também as histórias de família, segredos de polichinelo, lugares secretos das casas. Havia um conhecimento que passava de geração em geração e garantia a força dos laços tradicionais. Quem não se lembra das noites em família a jogar ao Loto ou à Sueca, ao Stop ou à Forca, à Batalha Naval ou a fazer Cadáveres Esquisitos?

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