Andava há uma semana e meia na estrada. Tinha saído de Itália ao volante de um camião que levava 24 toneladas de peças de aço. Destino: a siderúrgica Thyssenkrupp, em Berlim. Quando chegou à capital da Alemanha, às 7h00 da manhã de segunda-feira, Lukasz Urban achou que estava prestes a regressar a casa – à mulher e ao filho, que tinha deixado na vila de Roznowo, na fronteira entre a Polónia e a Alemanha.

Lukasz Urban estava em Berlim à espera que chegasse a hora em que era suposto descarregar o camião – a entrega estava prevista apenas para as 8h00 do dia seguinte. Pelo meio, telefonou à mulher, comeu um kebab e voltou para o camião, estacionado em Friedrich Krauze Ufer. Lukasz, era forte, tinha 1,83 metros e pesava 120 quilogramas, revela o ABC. Mas foi agredido pelo mesmo homem que matou 12 pessoas e feriu outras 48 num mercado de Natal, em Berlim. Ao volante do seu camião.

Quando chegou a Berlim, Lukasz, que tinha 37 anos e era camionista há 15, ligou para a mulher a avisar que não regressaria nesse dia a casa. A última vez que falou com a família foi por volta das 15h00. O primo Ariel Zurawski – que era também proprietário da empresa de camionagem – contou ao The Telegraph, que a mulher tentou ligar-lhe por volta das 16h00, mas já não obteve resposta. “Ele devia ter atendido, sobretudo se estava de folga”, disse.

Foi encontrado morto na cabine do camião que abalroou o mercado de Natal em Berlim, baleado, e é uma das 12 vítimas do mais recente ataque terrorista que abalou a Europa. O seu assassino, que se suspeita que seja Anis A., é um tunisino que já era seguido pelas autoridades há vários anos. O ministro do Interior do estado alemão da Renânia-do-Norte-Vestefália, Ralf Jäger, disse inclusive que o homem era seguido pelas agências de segurança dos vários estados alemães, por ter contacto com “indivíduos radicais”.

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O primo contou ao The Telegraph que Lukasz Urban não estava feliz por ter de ficar em Berlim mais um dia. “Fizemos algumas piadas e brincámos com isso. Chamávamos-lhe ‘o inspetor’, porque era muito bom trabalhador e seguia as regras”. Por volta das 15h45, Ariel Zurawski começou a perceber que algo estava errado, porque o GPS do camião denunciava que ele estava em movimento, que andava para a frente e para trás.

“Parecia que estava lá alguém que estava a aprender a conduzir. Percebemos que algo estava errado. Mais tarde, às 19h40, não havia movimento algum, e o veículo permaneceu no mesmo sítio. Depois começou a mover-se outra vez”, explicou Ariel Zurawski. Por volta das 20h00, o camião irrompeu pelo mercado de Breitscheidplatz.

Ariel Zurawski reconheceu o primo através de fotografias. De acordo com o jornal Bild, o polaco estava vivo no momento em que o atacante dirigiu o camião pelo mercado de Natal. Os investigadores acreditam que Lukasz Urban lutou com o atacante pelo controlo do volante, porque a autópsia denunciou vários hematomas e cortes no corpo do condutor. Mas o jornal alemão Der Spiegel diz que o polaco já estava morto quando o ataque ocorreu.

O suspeito mantém-se em fuga, depois de as autoridades terem detido um homem que veio a confirmar-se, mais tarde, não ter sido o autor do atentado. Desde que as autoridades encontraram os documentos de identificação de Anis A. (que se crê ser um nome fictício), que o tunisino se tornou no homem mais procurado na Europa. Pensa-se que tenha ficado ferido enquanto lutou com Lukasz Urban. As autoridades oferecem agora uma recompensa até 100 mil euros a quem tiver informações sobre o paradeiro do suspeito. O alerta já foi alargado a todo o espaço Schengen.